postado em 11/02/2010 09:43
Quando o relógio marca seis da tarde, é difícil alguém se manter indiferente ao mau cheiro que toma conta de quase toda a Cidade Ocidental. Em outros horários do dia e da noite, o incômodo também é grande, mas nesse momento, geralmente, o vento sopra mais forte e leva o odor para dentro de casas e comércios da região. Os moradores suspeitam que o odor forte venha do aterro sanitário (1) da cidade, localizado em uma área rural a 7km do centro, distância que atende às exigências das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), segundo as quais esse tipo de depósito deve estar a pelo menos 200 metros de cidades. Mesmo assim, a empresa que administra o aterro, a Quebec, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do Ministério Público de Goiás e se comprometeu a reduzir a emissão de odor em 40 dias.De acordo com os moradores, a situação piorou de dezembro passado para cá, quando o depósito começou a receber restos de aves e vísceras vindos de uma grande empresa do ramo de congelados. Durante as festas de fim de ano, o consumo desses produtos é maior e o descarte, consequentemente, aumenta. ;Ninguém consegue ficar com a janela aberta dentro de casa. Na hora de jantar, chega a dar nojo. O aterro recebe toneladas de lixo de várias cidades. Por que a Ocidental precisa servir como lixeira de tanta gente?;, questionou a servidora pública Sônia Maria Deivid, 38 anos, moradora da Quadra 19.
O filho de Sônia, Janderson Deivid, 11 anos, relata que o odor atrapalha até as aulas, na escola da Quadra 15: ;Alguns colegas reclamam muito, outros já se acostumaram. Mas o colégio fica podre;. Os comerciantes temem perder os clientes. ;Todo mundo entra aqui e reclama. Fica tudo cheio de mosca. Desse jeito, não tem negócio que vá para a frente;, queixou-se o comerciante Dion Relson, 63 anos.
Os moradores chegaram a desconfiar que o odor vinha do incinerador de lixo hospitalar e restos humanos originários de exumações e amputações de Valparaíso, de Cidade Ocidental e de Brasília. O aparelho emite uma fumaça que chamou a atenção dos vizinhos. Mas o foco do problema, aparentemente, não vem dali. ;Só haveria odor se a queima fosse de má qualidade. Mas temos uma máquina de alta tecnologia que marca a emissão de poluentes e temos todos os registros de que o aparelho funciona dentro da lei;, explicou o gerente operacional da Uri, empresa responsável apenas pela incineração, Eduardo Santos. O incinerador tem capacidade para até 20 toneladas de resíduos.
Restos orgânicos
No aterro são depositadas diariamente, no mínimo, 80t de lixo de Valparaíso e Cidade Ocidental. Entre os materiais, há grande quantidade de restos de animais, sangue e ossos triturados. Incinerar os resíduos sairia mais caro que armazená-los de forma comum. O desconforto de quem vive perto dali chegou a um ponto crítico e a população acionou o Ministério Público. A Quebec aceitou negociar e a expectativa, agora, é acabar com o mau cheiro por meio de obras e investimentos em tecnologias mais avançadas para tratar os resíduos depositados no local.
Atualmente, o lixo sólido e o líquido não são separados, por isso os dois tipos de substâncias recebem o mesmo tratamento químico, que acaba sendo inadequado e pode facilitar a expansão do odor. ;Não temos certeza se o cheiro vem daqui. Mas, caso venha, vai acabar assim que as obras de modernização ficarem prontas, até 28 de fevereiro. Aqui não lidamos com resíduos perigosos, por isso não há nada de errado;, informou o engenheiro da Quebec, Antonio Freitas. De acordo com o diretor da empresa, Daniel Aires, o aterro funciona de acordo com a lei. ;Nosso trabalho é sério e comprometido com o meio ambiente. Por isso, vamos fazer ainda melhor;, garantiu.
1 - Sob a terra
O aterro sanitário serve para guardar definitivamente resíduos em um solo impermeabilizado para não haver danos à natureza. É um lugar diferente dos lixões, por exemplo. Ali, o lixo recebe camadas de terra sobre ele, de acordo com normas operacionais específicas.
O número
80 toneladas
Quantidade de lixo que vai para o aterro todos os dias