O vice-governador Paulo Octávio (DEM) chega amanhã aos 60 anos tendo nas mãos o que mais queria há quatro anos, quando travou uma briga interna no partido contra o então deputado José Roberto Arruda pelo direito de concorrer ao Governo do Distrito Federal (GDF) e perdeu, ficando com a vaga de vice na chapa. A realização do sonho, entretanto, vem embaçada pela crise que, espera Paulo Octávio, passe e lhe permita concluir o mandato. Para isso, pretende conclamar a todos os partidos, inclusive os de oposição. Hoje, vai procurar o presidente Lula. O carnaval será todo dedicado a conversas políticas e análise das contas que ele pretende divulgar na internet para acompanhamento de quem tiver interesse.
Tanta animação, no entanto, garante ele, nada tem a ver com as eleições deste ano: ;Não serei candidato à reeleição;, adianta. E, terminado este período, Paulo Octávio cogita largar a vida pública. ;Parar aos 60 já está bom;, diz ele, com um ar de sobriedade. Festa mesmo, só o aniversário de 50 anos de Brasília, a qual classifica como um evento ;da população;, e não do governo. Sobre as denúncias, insiste que cada um deve responder na Justiça pelas acusações que lhe cabem. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Vice assume, pede apoio e diz que não será candidato
Com a decisão da Justiça, o senhor assume o governo no ano eleitoral. O senhor será candidato à reeleição?
Faço política há 20 anos. Sempre tive um sonho de um dia governar Brasília. Nunca pensei que fosse acontecer num momento tão difícil como este que estamos vivendo. Moro aqui há 49 anos, minha vida toda em Brasília, faço política por amor à cidade.
Desde o primeiro momento, o senhor estava disposto a
assumir, ou o senhor ponderou com receio de um algum
desgaste que possa vir diante das denúncias?
Sempre fui consciente das minhas responsabilidades. Nesses dois meses que vivemos a crise política, de um governo que, no ano passado, tinha quase uma aprovação de 90%, me mantive firme e, como vice-governador, tenho uma responsabilidade com a cidade. Nesse afastamento, que deve ser temporário do governador, trabalharei 15 horas por dia para que Brasília continue no caminho do desenvolvimento, para que as obras não parem, para que 21 de abril mostre a importância de Brasília como capital da República, a capital de todos os brasileiros. E que a gente possa, com a participação de todas as entidades, todos os agentes públicos, todos os partidos políticos, superar a crise.
O senhor falou em todos. O senhor vai chamar até a oposição?
Claro. O momento é de conclamar todos. Vou conversar com todos os presidentes de partidos para que possamos, juntos, enfrentar esse momento. Vou procurar o presidente Lula, amanhã já ligo para ele, pedir uma audiência. Temos que contar com o apoio do Congresso Nacional, reunir a bancada federal. Vou aproveitar o carnaval para conversar com quem estiver aqui.
O senhor ainda não respondeu, na hipótese de o afastamento não ser temporário, uma vez que foi determinado pelo STJ: o senhor é candidato à reeleição?
Não sou candidato. Entendo que meu papel agora é pensar numa boa administração, transparente. Brasília terá o governo mais fiscalizado do país. Quero pedir a Deus que me dê capacidade, sabedoria, tranquilidade para enfrentar esse desafio.
O processo judicial está apenas começando, o senhor não teme virar um alvo no momento em que assume o governo?
Não sei. Tenho a exata dimensão dos ataques que sei que vou sofrer, mas tenho a minha consciência tranquila. Minha vida toda foi de trabalho por Brasília. Mas já exerci os mais diversos mandatos, duas vezes deputado federal, senador da República, sempre muito bem conceituado, o mais votado das coligações de que participei. Enfim, a consciência está tranquila. O que fiz por Brasília está aí. Há 20 anos, eu estava lançando o desafio de o Brasil sediar uma olimpíada. O Brasil esta aí hoje sediando uma olimpíada. Estava começando projetos de alfabetização dos trabalhadores, consolidação da cidade. Isso ninguém me tira, então a minha consciência está tranquila em relação aos oponentes, aos desafios. Quero pedir a todos que esqueçamos as divergências e possamos construir neste momento a nossa cidade.
E o seu partido, o senhor conversou com o presidente do DEM?
Ele soltou uma nota pedindo que todos saíssem do governo;
Falei com Rodrigo Maia, com Jorge Bornhausen. A nota, pedindo o desligamento do governo Arruda, saiu antes da decisão do STJ. Falei que o momento era diferente e que eu tinha que assumir por determinação constitucional e queria continuar contando com o apoio do partido. Agora é o momento de trabalhar.
O senhor trabalhou muito pela festa dos 50 anos. O senhor acha que a cidade terá ânimo para comemorar diante das denúncias?
Brasília nunca comemorava o seu aniversário. Na festa de 47 anos, levamos 600 mil. (Na festa dos) 48, um 1,1 milhão, depois um 1,3 milhão. Este ano não será diferente. Até porque não é uma festa do governo. É uma festa da cidade, da população. É um evento que reúne pessoas de 7h até meia-noite.
Mas o senhor acha que há clima na rua para fazer festa, diante de tantas imagens escandalosas, de dinheiro na bolsa, na meia?
Temos que vencer esse momento. A cidade é muito maior que a crise política. A população de Brasília precisa continuar vivendo, precisam continuar as suas vidas. A crise tem que ser vencida. Há um processo judicial em cima das acusações que irá em frente e todos irão responder pelos seus atos. A Câmara tem lá o seus deputados, a comissão de ética. Temos que respeitar essas instâncias de julgamento.
E o secretariado, o senhor vai mexer?
Prefiro aguardar a consolidação do processo, em respeito ao governador Arruda. Temos que aguardar as decisões judiciais. Amanhã (hoje), estarei despachando no palácio do Buriti, enfrentando esse desafio. O Buritinga ficará para as grandes reuniões.
Na audiência com Lula, o senhor pretende solicitar algum apoio contra a intervenção federal?
O processo está no Supremo Tribunal Federal, não no Executivo. Temos que aguardar as decisões da Justiça, respeitar o processo democrático. Não conheço detalhes, sei que não sou citado. O momento é de mostrar que o Distrito Federal tem capacidade para resolver os seus problemas. Temos que ter capacidade para isso.
E as contas do DF? As pessoas, quando veem aquele
dinheiro saindo por tudo quanto era canto; Sobrou para terminar as obras?
O orçamento, pelo que sei, está preparado para que as obras sejam inauguradas. Vou aproveitar o final de semana para fazer essa avaliação, como estão as obras e os recursos. Como vice, não tinha todas as informações. Agora, vou pedir todas para poder daqui a uma semana ter uma visão clara. A ideia é colocar todas as obras públicas na internet, aprimorar os mecanismos de controle. A sociedade quer cada vez mais transparência. Quero terminar essa missão no governo e depois parar. Parar aos 60 anos está bom.