Cidades

Conforto no confinamento

Sala onde Arruda está detido tem instalações acima da média se comparada a presídios brasileiros. Governador afastado está abatido, segundo aqueles que o visitaram

postado em 13/02/2010 08:14

Edson Luiz
Izabel Toscano
Juliana Boechat
Renato Alves

Ar-condicionado, cama, banheiro privativo, chuveiro com água quente, paredes limpas, mesa com cadeira, nada de grades. Tendo como parâmetro os presídios brasileiros, o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), está confortavelmente alojado na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Sala onde Arruda está detido tem instalações acima da média se comparada a presídios brasileiros. Governador afastado está abatido, segundo aqueles que o visitaramNo fim da tarde de ontem, Arruda recebeu a primeira visita de um familiar. A primeira-dama do DF, Flávia Arruda, esteve com o marido por 30 minutos. Como ocorreu com o governador afastado na quinta-feira, quando se apresentou à PF, ela foi poupada das lentes dos fotógrafos e cinegrafistas. Usou uma entrada atrás do prédio do Instituto Nacional de Criminalística (INC), onde o marido está detido.

As visitas são liberadas das 9h às 17h, mas é necessário agendar horário. O governador afastado permanece preso até quinta, pelo menos. Graças à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que negou o pedido de habeas corpus. Com isso, Arruda ganhou uma cama de solteiro, transferida de um alojamento de policiais federais. Antes, ele descansava em um sofá.

Arruda está na sala da Diretoria Técnico-Científica da PF, no Setor Policial Sul. O cômodo tem cerca de 40 metros quadrados, quatro vezes mais que muitas das celas da penitenciária da Papuda, onde dormem, em média, três pessoas, que não contam com banho quente nem ar-condicionado e têm apenas um buraco para fazer as necessidades fisiológicas. Além do climatizador artificial, o governador afastado pode deixar as vidraças abertas. Persianas garantem sua privacidade.

A PF mantém 10 homens do Comando de Operações Táticas (COT) no prédio de dois pavimentos onde fica a Diretoria Técnico-Científica. Outros policiais federais cuidam apenas da segurança de Arruda. Dois ficam na porta da sala e um, dentro. Este, quando se cansa, é substituído por outro. Ele não pode deixar Arruda fechar a porta do banheiro, usar o telefone fixo nem ligar a TV da sala.

Além disso, um policial militar fica de prontidão para atender a pedidos do governador, principalmente no que diz respeito a alimentação e higiene. Arruda tem comido sanduíches, esfirras e quibes de lanchonetes, além de beber refrigerante. Na manhã de ontem, tomou um café normal.

Ainda pela manhã, Arruda recebeu roupas e material de higiene pessoal. Ele voltou a comer por volta do meio-dia. Em seguida, cochilou. Foi acordado com a chegada da mulher, que havia pedido a presença de um médico alegando receio de o marido passar mal. O governador voltou a dormir por volta das 18h30, após ser examinado por um especialista.

Abatimento

Além da mulher, estiveram com Arruda ao longo da sexta-feira os advogados José Gerardo Grossi e Nélio Machado, o secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga, e o chefe da Casa Militar, coronel Ivan Gonçalves da Rocha. O secretário de Relações Institucionais do DF, Ednewton Viana Araujo, e o deputado distrital Benedito Domingos (PP) não conseguiram falar com o governador afastado por não terem marcado horário.

Logo pela manhã, o coronel Ivan esteve por pouco tempo com o governador, junto com o porta-voz do governo, André Duda. "Ele está sofrendo, mas está bem", disse o militar. Nélio Machado visitou Arruda na noite de sexta-feira. Disse que o governador está "abatido", mas não fala em deixar o governo, caso consiga a liberdade. Machado contou que Arruda está lendo para passar o tempo. O advogado reclamou do tamanho da cama oferecida ao cliente. "Tem que dormir encolhido", comentou Machado.

Alberto Fraga, o único secretário do GDF a visitar Arruda ontem, não deu detalhes sobre o que conversou com o governador. O secretário de Transportes rebateu a decisão do DEM, que pediu a saída dos parlamentares do Democratas que ocupam cargos no GDF. Para ele, ao assumir a administração, Paulo Octávio precisará de uma base. "O vice-governador, que assumiu, é do DEM. Ele não pode ficar sem respaldo político durante esse tempo", observou Fraga.

Sem distinção

O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, esteve no complexo da PF, mas não chegou a se encontrar com Arruda. Corrêa se reuniu com a superintendente da PF no DF, Mara Santana. Conversaram sobre a prisão de Arruda.

Segundo o diretor, a corporação não distingue alvos, mas cumpre decisões judiciais, independentemente do status da pessoa. "Isso conforta a população", afirmou Corrêa, que explicou que o cuidado com a imagem do governador afastado seria o mesmo com qualquer pessoa.

Diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Correia na sede da Polícia Federal

Todos já se entregaram

Um comboio de cinco viaturas transportou na sexta-feira, da Polícia Federal para a Papuda, três das quatro pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na quinta-feira. O ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB) Haroaldo Brasil foi o primeiro a se entregar, na manhã de sexta-feira. O sobrinho e ex-secretário particular de Arruda, Rodrigo Arantes, foi à PF na noite de quinta-feira. O suplente de deputado distrital Geraldo Naves, que se apresentou à PF por volta das 20h20, só foi encaminhado ao presídio na manhã deste sábado.

O ex-chefe da Agência de Comunicação do GDF Weligton Moraes entregou-se no início da tarde. O quinto mandado de prisão era para Antônio Bento da Silva, que está há 10 dias na Papuda, por tentar subornar o jornalista Edson Sombra.

Sem diálogo

Por não terem foro privilegiado, os três presos ficaram na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, ao contrário de Arruda, que está na sala do diretor técnico-científico da PF, Paulo Roberto Fagundes, no Instituto Nacional de Criminalística. Os dois prédios ficam no Complexo da PF, no Setor Policial Sul. Rodrigo e Haroaldo ficaram em celas separadas, mas sem a companhia de outros presos. Weligton Moraes, por ter se apresentado no meio da tarde, pouco antes da transferência para a Papuda, ficou sob vigilância em uma sala próxima ao plantão. Os três, segundo fontes da PF, não conversaram entre si.

A transferência dos três presos ocorreu às 16h, quando as cinco viaturas deixaram o complexo em alta velocidade. Duas delas ; uma à frente e outra atrás do comboio ; faziam a escolta, enquanto três outras levaram os detidos, que não estavam no camburão, mas no interior dos carros. Cada um foi em um veículo. Pouco mais de quatro horas depois, Geraldo Naves chegou à PF em um carro com vidros escuros e foi direto para a superintendência, onde dois delegados o aguardavam na porta principal. Ele reclamou do ambiente claustrofóbico da sala onde estava confinado. Naves pediu cigarros, mas não foi atendido. Neste sábado, foi encaminhado para a Papuda, onde se reuniu aos demais, que estão em uma área dedicada a presos da Justiça Federal. (EL)

Quem é quem

Weligton Moraes
Ex-secretário de Comunicação do GDF e um dos acusados de intermediar a suposta tentativa de suborno ao jornalista Edson Sombra. Atuou no mesmo cargo na gestão de Joaquim Roriz e foi mantido no emprego por Arruda. Um dos amigos mais próximos de Durval Barbosa, delator do suposto esquema de corrupção no GDF, afastou-se do parceiro e manteve o apoio a Arruda. Deixou o governo na semana passada.

Geraldo Naves (DEM)
Apresentador do programa Barra pesada, com histórias policiais, ele ingressou na política em 2006, como segundo suplente do DEM. Teria sido o primeiro emissário de Arruda a Sombra, tendo inclusive entregado um bilhete escrito a mão pelo governador afastado. Era considerado um dos principais aliados do governador na Câmara. Assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes do episódio do suborno.

Antônio Bento
Membro do conselho fiscal do Metrô-DF desde 2007, era amigo e funcionário de Edson Sombra no jornal O Distrital. É apontado como emissário do governador Arruda na suposta tentativa de suborno a Sombra. Foi flagrado pela PF após ter entregado R$ 200 mil em uma sacola ao jornalista. Detido na semana passada, teve ontem a prisão preventiva decretada.

Rodrigo Arantes
Sempre ao lado do governador, era o secretário particular de Arruda. Rodrigo Arantes portava celulares de Arruda e se encarregava de transmitir os recados. É considerado uma pessoa da família de Arruda e do ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel.
Pela proximidade, é tratado como sobrinho do governador. Teria sido
o responsável por entregar a Antônio Bento da Silva os R$ 200 mil que seriam dados a Sombra.

Haroaldo Brasil de Carvalho
Homem de confiança de Arruda na Companhia Energética de Brasília (CEB). Trabalhava com Arruda, à época em que este era engenheiro da estatal, há duas décadas. Não foi filmado pelo jornalista Edson Sombra, mas é citado por Antônio Bento em depoimento à Polícia Federal.

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