Cidades

PF cumpriu 13 mandados de busca e apreensão em 21 endereços

Quinze equipes da Polícia Federal vasculham gabinetes do GDF e casas

Ana Maria Campos
postado em 14/02/2010 09:30
Em pleno sábado de Carnaval, a Polícia Federal (PF) cumpriu 13 mandados de busca e apreensão em 21 endereços de suspeitos de participação no suposto esquema de corrupção montado no Governo do Distrito Federal. Por determinação do ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), relator do inquérito relacionado à Operação Caixa de Pandora, 15 equipes vasculharam quatro salas no Centro Administrativo do governo, em Taguatinga, e quatro no prédio anexo ao Palácio do Buriti. Os policiais também estiveram no posto de atendimento à população Na Hora(1) , no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), além de residências de 12 pessoas que mantêm alguma relação com o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido).

A casa do policial civil aposentado Marcelo Toledo, no Lago Sul, foi um dos alvos da ação policial: ele foi flagrado em vídeo entregando dinheiro a Durval BarbosaEntre os alvos da operação estão o ex-secretário de Governo José Humberto Pires, o ex-chefe de gabinete do governador Fábio Simão e José Eustáquio Oliveira, ex-chefe do escritório político de Arruda, na 502 Sul. Os três eram auxiliares da confiança de Arruda e são investigados como possíveis operadores do esquema de desvio de recursos de contratos com empresas prestadoras de serviço para pagamentos de propinas a deputados e secretários. Policiais já haviam estado na casa e no escritório de Simão na residência oficial de Águas Claras, em 27 de novembro passado. À época, apreenderam documentos e R$ 33 mil em espécie.

O advogado Raul Livino, que representa o policial civil aposentado Marcelo Toledo, confirmou ao Correio que a casa de seu cliente na QL 26 do Lago Sul também foi vasculhada pelos policiais federais na manhã de ontem. Aliado de Arruda, Toledo é suplente de deputado distrital e aparece num dos vídeos gravados por Durval Barbosa. Na imagem, Marcelo Toledo tira pacotes de dinheiro da bolsa, numa operação no gabinete de Durval na Secretaria de Relações Institucionais presenciada pelo então assessor de imprensa do governador, Omézio Pontes, afastado em função das denúncias de envolvimento no caso. No encontro, Toledo diz a Durval que o então vice-governador Paulo Octávio ; hoje governador no exercício do cargo ; precisa de mais dinheiro para a campanha dos prefeitos. ;Foi uma ação light. Não encontraram nada e não levaram nada porque não havia nada para encontrar;, disse Livino, sobre a busca na casa de Toledo.

O policial aposentado que mantém contrato de informática com o governo era uma das apostas de Arruda nas próximas eleições. Seria candidato a deputado ou integraria como suplente uma chapa ao Senado. Ele foi convocado a prestar depoimento à Polícia Federal (PF), mas conquistou na Justiça um habeas corpus que lhe garantiu o direito de ficar calado. Livino garante, no entanto, que se a delação premiada, nos mesmos moldes da oferecida a Durval Barbosa, ajudar na defesa de seu cliente, ele vai orientá-lo a falar tudo o que sabe. Em depoimentos ao Ministério Público e à PF, Durval Barbosa disse que Toledo era operador de interesses de Paulo Octávio no suposto esquema de corrupção.

Terceira vez
A Polícia Federal informou durante o cumprimento dos mandados na manhã de ontem que houve apreensão de documentos, mídias e computadores. Em dinheiro, os policiais encontraram US$ 2,6 mil e R$ 1 mil. A ação foi comandada pelo delegado Alfredo Junqueira, responsável pela Operação Caixa de Pandora. Todas as diligências do caso são requeridas pela subprocuradora-geral da República Raquel Dodge.

É a terceira vez que os investigadores vão a campo para recolher informações para municiar o Inquérito n; 650 do STJ, com a apreensão de documentos e computadores de pessoas e empresas suspeitas.

Em 27 de novembro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas e nos gabinetes de Omézio Pontes; do então chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel; do então chefe de gabinete Fábio Simão; do secretário de Educação à época, José Luiz Valente; dos deputados distritais Leonardo Prudente (ex-DEM), Eurides Brito (PMDB, Rogério Ulyssses (PSB) e do suplente de deputado Pedro do Ovo (PRP). O conselheiro do Tribunal de Contas do DF Domingos Lamoglia, ex-chefe de gabinete de Arruda, também foi alvo da ação, além de empresas prestadoras de serviço no ramo de informática. Os secretários e o chefe de gabinete acabaram exonerados. O conselheiro do TCDF foi afastado do cargo, e os deputados podem ser processados por quebra de decoro parlamentar. Todos são investigados e correm o risco de receber outras punições.

Em 22 de dezembro, a Polícia Federal vasculhou o Instituto Fraterna, presidido pela primeira-dama, Flávia Arruda, e a Associação Brasiliense Amigos do Arruda, entidade que coordena o escritório político de Arruda e é presidida por José Eustáquio Oliveira. Também foram apreendidos documentos na casa do assessor da Secretaria de Educação Gibrail Gebrim e na sede da empresa de turismo da mulher dele, Evelyne Gebrim. Procurados pelo Correio, Fábio Simão, José Eustáquio e José Humberto Pires não foram localizados ontem.

1 - Na Hora
Responsável pelo programa Na Hora, que presta atendimento público à população, como pagamento de contas e emissão de documentos, o subsecretário de Justiça e Cidadania Luiz França aparece em vídeo gravado por Durval Barbosa recebendo dinheiro que seria fruto de propina de prestadoras de serviço ao governo. França foi presidente do PMN-DF, partido que apoiava o governo Arruda.

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