Os advogados de defesa do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) estudam uma forma de suspender a prisão dele, decretada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na última quinta-feira. O advogado José Gerardo Grossi não descarta a possibilidade de protocolar um pedido de reconsideração da posição, uma vez que o julgamento do habeas corpus ; negado na sexta-feira em caráter de liminar pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello ; pode demorar para ser levado ao plenário. Essa medida, entretanto, ainda está sendo avaliada pela defesa.
A decisão de Marco Aurélio foi encaminhada para a Procuradoria-Geral da República (PGR), onde será analisada. Após o parecer do órgão, o plenário do STF poderá julgar o mérito do pedido de habeas corpus e somente então reverter, ou não, a decisão do ministro. Mas os advogados não estão dispostos a aguardar por uma decisão favorável. ;O Supremo tem os prazos dele. O que posso fazer é pedir para apressar o processo, mas não podemos apostar tudo numa ficha só;, disse Grossi.
Ao negar o habeas corpus em favor de Arruda, Marco Aurélio afirmou que a prisão do governador era necessária. Segundo ele, é importante o afastamento para ;preservar a ordem pública e o campo propício à instrução penal considerado o inquérito em curso;. O ministro ainda descreveu a punição como ;emblemática;. Para ele, as acusações contra Arruda constituem ;dados concretos a evidenciarem desvios de condutas a atingirem a ordem pública e a solaparem a regular instrução própria ao inquérito;.
Abatido
Após passar cerca de meia hora conversando com Arruda na sala do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF, Grossi informou que o governador está abatido. Ele teria almoçado uma comida típica brasileira. O cardápio era arroz, feijão e carne e foi levado por um homem que chegou em uma moto. O advogado informou que o governador está naturalmente abatido, ;como qualquer pessoa ficaria nesta situação;.
Pouco antes das 10h30, Arruda recebeu a visita da mulher, Flávia Arruda. Na entrada, ela despistou a imprensa. A visita durou pouco mais de uma hora. Por volta das 11h40, Flávia deixou o prédio da PF de cabeça baixa, sem falar com a imprensa. Relatos de pessoas próximas ao casal revelam que a primeira dama chora durante boa parte do dia e que está muito preocupada com a saúde de Arruda. Um médico vem acompanhando o estado geral do governador afastado. Sua pressão arterial é medida duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde.
Na sala onde está detido, o chefe do Executivo tem a companhia constante de um policial federal. O cômodo tem cerca de 40 metros quadrados e é mobiliado com dois sofás, uma mesa de reuniões e uma cama. O local tem telefone fixo, mas o equipamento não pode ser utilizado por Arruda. A TV foi retirada. Há ainda um banheiro com chuveiro, que deve ser usado apenas com a porta aberta. Apenas advogados e familiares de Arruda estão autorizados a visitá-lo. O horário é das 8h às 18h.
Movimento intenso
Ontem foi um dia muito movimentado na Polícia Federal. Muitos motoristas que passaram pelo local buzinavam e gritavam palavras contra Arruda. Faixas em apoio ao governador também foram colocadas logo cedo com os seguintes dizeres: ;Deixa o homem trabalhar; e ;Pelo bem de Brasília, deixem Arruda trabalhar;. À tarde, manifestantes do movimento Fora Arruda também estiveram no local.
Muitos amigos de Arruda tentaram visitá-lo na sala do INC, mas sem sucesso. Pela manhã, até mesmo religiosos tentaram visitar Arruda. Dois membros identificados como capelões federais da igreja Assembleia de Deus queriam levar mensagens bíblicas para confortar o chefe afastado do Executivo. Segundo o capelão, que se identificou como José dos Reis, eles foram convidados por ;pessoas muito próximas a Arruda;, mas não revelaram quem. Ele disse que Arruda vem sendo evangelizado há cerca de um ano. ;Ele é uma pessoa muito aquebrantada. Eu não julgo as pessoas pelas atitudes delas. Acho que todos devem ter a oportunidade de ter comunhão com Deus;, avaliou José dos Reis.
O secretário-geral do Democratas, Flávio Couri, foi outro que tentou levar conforto a Arruda, mas também não foi autorizado a entrar. Ele chegou por volta das 11h30 e disse que sua visita não tinha motivação jurídica ou política, mas de amizade. ;Nessa hora não cabe discutir se ele fez algo certo ou errado. Nós militamos juntos politicamente, mas não vim fazer uma visita política, e sim de solidariedade;, destacou.
Antes de deixar a PF, Flávio Couri reiterou que todos os filiados ao partido Democratas que ocupam cargos no GDF devem entregá-los até quinta-feira. Quem não fizer isso sofrerá um processo administrativo, com exceção do governador em exercício. Na última sexta-feira, Paulo Octávio pediu licença da presidência do diretório regional do DEM onde explicou estar se licenciando do cargo para ;ter maior liberdade de interagir com as demais legendas;. Segundo Couri, quem deve ficar em seu lugar é o deputado federal Osório Adriano.
Naves também vai para a Papuda
O suplente de deputado Geraldo Naves (DEM) foi o último suspeito preso a ser transferido da carceragem da Polícia Federal (PF) para o Complexo Penitenciário da Papuda. Naves, que se entregou à polícia apenas no início da noite de sexta-feira, dormiu a primeira noite na Superintendência da PF, no Setor Policial Sul, e ontem pela manhã foi encaminhado para a Papuda, que fica em São Sebastião.
Minutos antes da transferência, Naves recebeu a visita do amigo José Carlos Carvalho. Segundo ele, o suplente, acusado de ser o primeiro intermediário a negociar o suposto suborno pago ao jornalista Edson Sombra, sofre de hipertensão e passou mal durante toda a noite. Carvalho explicou que o motivo de sua visita era para tratar questões referentes ao programa de TV Barra Pesada. ;O programa vai continuar;, garantiu.
Na Papuda, Naves se juntou a outros quatro presos por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ): o ex-chefe da Agência de Comunicação do GDF Weligton Moraes; o ex-secretário particular do governador, Rodrigo Arantes; Haroaldo Brasil, ex-funcionário da Companhia Energética de Brasília (CEB); e Antônio Bento, preso há 10 dias. Como os demais, ele ficará em uma ala especial onde estão outros presos da Justiça Federal. (MP e EL)