postado em 15/02/2010 09:02
Preso na Polícia Federal (PF) desde a última quinta-feira, o governador José Roberto Arruda (sem partido) está abatido, mas consciente de que poderá permanecer detido por quase três meses. De acordo com relato do advogado Thiago Bouzas, que ontem à tarde visitou o governador na sala onde ele está preso, Arruda está mais tranquilo e consciente do que está acontecendo. ;Ele vem recuperando as forças;, afirmou Bouzas. ;Está abatido, mas está bem melhor. Ele tem consciência de que pode ficar os 83 dias;, afirmou o advogado, referindo-se ao período que uma pessoa pode ficar detida por meio de prisão preventiva ; caso do chefe afastado do Executivo local.Arruda está na sala do diretor técnico-científico da Polícia Federal, Paulo Roberto Fagundes, que passou a despachar em um gabinete ao lado. O local onde o governador afastado se encontra tem cerca de 40 metros quadrados, mas Arruda tem acesso apenas ao banheiro e à cama, não podendo utilizar a mesa de reuniões, por exemplo. Quando vai ao banheiro, a porta fica sempre aberta. Durante 24 horas, ao seu lado fica sempre um agente do Comando de Operações Táticas (COT) da PF, enquanto outros dois policiais ficam do lado de fora e outros dois grupos espalhados pelo interior do prédio.
Ontem, além do advogado, que já havia estado no prédio pela manhã, mas encontrou Arruda dormindo, duas outras pessoas tentaram se encontrar com o governador afastado. Uma delas foi uma mulher que se identificou por Maria, afirmando ser parente do governador. Como não havia agendado a visita, foi impedida de entrar. Segundo a Polícia Federal, todas as visitas precisam ser agendadas e autorizadas por Arruda. O mesmo sistema é adotado em relação à primeira-dama, Flávia Arruda, que até o fim da tarde de ontem não havia estado no prédio do Instituto Nacional de Criminalística, da PF, no Setor Policial Sul ; no sábado, ela visitou o marido.
No fim da tarde, um servidor aposentado que se identificou como Paulo Wilson tentou visitar Arruda, mas também foi impedido por falta de agendamento. Pouco depois ele retornou e conseguiu entregar três livros ao governador. Um deles era a obra 1876, de Gore Vidal. Segundo ele, os livros foram pedidos por Arruda por meio de amigos, mas Wilson não revelou quem seriam.
Além dos visitantes, o complexo da Polícia Federal passou a ser centro de atenções de outras pessoas. Ontem, dois homens faziam encenações como se fossem repórteres televisivos, por mais de uma hora. Um grupo de foliões de rua também esteve na área externa, enquanto que uma família foi até o local para tirar fotografias.
Barrado
Quem também foi impedido de visitar o governador foi o novo presidente do Democratas no DF, Osório Adriano. Ele chegou à PF em seu veículo por volta das 10h30 e disse que iria visitar o ;amigo Arruda;. Como não tinha agendado horário, teve que voltar para casa. ;Vim aqui para visitar meu amigo Arruda. Não vou tecer comentários sobre política;, desconversou Osório, quando questionado sobre o futuro do partido que ele agora preside.
Arruda almoçou por volta das 13h. Seu cunhado Fábio Emílio Peres, irmão da primeira-dama, chegou à PF acompanhado de uma mulher levando a refeição em uma bolsa térmica. Fábio evitou os jornalistas e disse apenas que a marmita continha carne e arroz. Por volta das 20h30, ele voltou à PF para levar um sanduíche de frango ao governador. Não foram apenas conhecidos que tentaram levar uma palavra de conforto ao político detido. Um homem que se apresentou como Adilson ;Didi; tentou convencer os guardas a entregar um livro de poesias a Arruda, sem sucesso.
Já uma mulher, que atendeu pelo nome de Anita Grossi, disse que era amiga do governador e queria prestar solidariedade a ele. ;Os porões do PT são piores do que os da ditadura. Ele não é pior do que ninguém;, discursou ela, que, apesar do sobrenome, garantiu não possuir parentesco com o advogado José Gerardo Grossi, um dos defensores do governador preso.
Manifestação
No início da madrugada de ontem, por volta de 0h20, cerca de 20 manifestantes do Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia retiraram as faixas de apoio ao governador afastado que estavam instaladas no gramado em frente à Superintendência da PF, no Setor Policial Sul. A Polícia Militar foi acionada e tentou impedir a ação. Houve discussão. O tenente Borges Santos, que comandava a região da Asa Sul naquele momento, foi acionado e permitiu que o grupo levasse as faixas. No seu entendimento, as faixas se tratavam de objeto de pequeno valor e estavam abandonadas, o que não caracterizaria furto. Os integrantes confirmaram fazer parte do movimento contra a corrupção no Distrito Federal, mas disseram que o ato foi espontâneo, ou seja, nada foi programado.
Defesa estuda estratégia
Os advogados de defesa do governador afastado José Roberto Arruda irão decidir no início desta semana qual será a estratégia que irão usar para tentar libertá-lo. Desde quinta-feira, Arruda está preso por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusado de interferir nas investigações da Operação Caixa de Pandora. Na sexta-feira, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou habeas corpus ao governador. Agora, o mérito do pedido será avaliado pelo plenário do STF, provavelmente entre quarta e quinta-feira. A defesa estuda agora se ingressa com um pedido de reconsideração ou se aguarda o julgamento em plenário.
De acordo com o advogado Thiago Bouzas, que atua no escritório do criminalista Nélio Machado, Arruda quis saber informações sobre seu ex-secretário particular Rodrigo Arantes, tido pelo governador como uma espécie de sobrinho. Bouzas contou a Arruda que visitou Rodrigo Arantes no Complexo Penitenciário da Papuda, onde ele está detido, e que o ex-secretário está tranquilo. ;Ele (Arruda) está muito preocupado com o Rodrigo e eu vim trazer notícias dele e da família. O Rodrigo está bem. Passei lá mais cedo (na Papuda) e ele está bem. O Rodrigo está muito forte;, contou o advogado. (SA e EL)