postado em 19/02/2010 08:37
Preso há oito dias na Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) não pensa em renunciar do cargo. Quem faz essa afirmação é um de seus cinco advogados, Nélio Machado, que, na tarde de ontem, teve uma conversa de meia hora com o seu cliente. ;Ele pediu licença (do cargo) e não pretende mudar a situação. Não tem em seu vocabulário a palavra renúncia;, ressaltou o advogado.Acompanhado de mais dois colegas, Thiago Bouza e Marcos Stein, Nélio Machado disse que comunicou a Arruda o recuo do governador em exercício, Paulo Octávio, sobre a renúncia. Arruda, segundo ele, não teceu nenhum comentário. O advogado reclamou pelo fato de Arruda não ter sido ouvido até agora no inquérito que apura o suposto esquema de corrupção envolvendo o Legislativo, o Judiciário e o Executivo locais, mas disse que o governador afastado confia na Justiça.
Mais cedo, Arruda recebeu a visita de outro advogado, José Gerardo Grossi. Segundo ele, o governador afastado pretende abandonar a vida política, quando terminar as investigações da Operação Caixa de Pandora. ;Quando sair da prisão, Arruda não vai querer saber mais de política;, disse ele ao Correio. Conforme Grossi, o governador, além de abatido, começa a apresentar sinais de depressão, mas tem evitado chorar pelo menos durante as conversas com os defensores. De acordo com os advogados, ele passa o tempo lendo livros de autoajuda. ;Toda pessoa que está presa passa por um período de depressão. Isso é normal em uma situação como esta;, disse Grossi.
O advogado contou que Arruda tem visto a movimentação da imprensa pela janela da sala onde está preso, bem como as manifestações de simpatizantes e também daqueles que pedem sua renúncia. ;É uma reação natural da própria Democracia. Há pessoas que querem bem a ele e outras que não, mas ele tem reagido normalmente em relação a isso;, destacou. Ontem à noite, um grupo Pró-Arruda pediu para que o governador afastado acendesse e apagasse a luz se estivesse ouvindo a manifestação. Arruda atendeu ao pedido. Um médico tem aferido a pressão dele duas vezes ao dia.
Os advogados se reuniram durante todo o dia de ontem para discutir quais passos vão dar para livrar o cliente da prisão. Segundo Grossi, ainda não existe estratégia traçada para os próximos dias, uma vez que eles preferem aguardar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao pedido habeas corpus. Ainda de acordo com o advogado, Arruda tem se mostrado preocupado com as discussões na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa do DF, que tratam do impeachment dele.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve entregar hoje ao STF parecer sobre o habeas corpus impetrado pela defesa do governador afastado. Ao ser abordada por jornalistas, a subprocuradora Deborah Duprat disse ontem que a expectativa é que o parecer fique pronto nesta sexta. Na última quarta-feira, o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello pediu à PGR uma avaliação sobre o caso antes de submeter o habeas corpus ao plenário. O ministro negou, em liminar, na sexta-feira passada, o recurso que poderia garantir a liberdade de Arruda. O julgamento do mérito só deve ocorrer em plenário na próxima semana.
Reforço
Uma boataria durante todo o dia de ontem levou a Secretaria de Segurança Pública a aumentar o efetivo policial em frente ao complexo da PF. No fim da tarde, seis ônibus da Polícia Militar e duas viaturas ficaram de prontidão por causa da possibilidade de haver uma grande manifestação de pessoas Pró-Arruda e de uma invasão às dependências da PF. O secretário de Segurança Pública, Valmir Lemos, descartou a suposta ocupação. Na próxima semana, Arruda pode ser transferido para outra sala no próprio Instituto Nacional de Criminalística (INC), onde hoje se encontra.
Segundo Lemos, que é delegado federal afastado, no meio da tarde, um boato chegou à superintendência da PF de que o prédio poderia ser invadido. A chefe da unidade, Mara Santana, conversou com o secretário, que decidiu reforçar o policiamento. Vários militares foram deslocados, mas até o início da noite, apenas um pequeno grupo, de cerca de 10 pessoas, se aglomerava próximo ao alambrado que cerca o INC, em frente à janela da sala onde Arruda está detido. Conforme Lemos, depois de uma investigação, ficou comprovado que se tratava de um boato. Os ônibus da PM foram retirados do local por volta das 19h.
Colaborou Adriana Bernardes