O governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) deixou ontem a sala de 40m; na Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, onde estava preso desde o último dia 11, e foi transferido, por volta das 15h30, para uma sala menor, de 10m;, no prédio do Comando de Operações Táticas (COT), no mesmo complexo da PF. No espaço, próximo à área de treinamento dos policiais, cabe apenas uma cama beliche, uma mesa, um sofá para três lugares e uma janela tipo basculante para entrar ventilação. O local conta com ar-condicionado e frigobar. ;É uma situação vexatória para um governador de Estado;, reclamou Thiago Bouza, que integra a equipe de advogados do governador.
Os advogados de defesa de Arruda foram pegos de surpresa com a mudança de sala, que ocorreu minutos antes da visita ao cliente. ;Ela aconteceu sem a anuência da defesa. Não tem nem banheiro nesse quarto e, se ele quiser, tem que sair acompanhado de dois agentes;, disse Bouza, visivelmente irritado. Segundo nota oficial divulgada pela PF, a transferência ;tem como objetivo a retomada da rotina de trabalho da Diretoria Técnico Científica, bem como a racionalização da segurança disposta para a custódia;. Ainda de acordo com a nota, a sala tem padrão compatível com as prerrogativas legais de prisão especial.
O advogado José Gerardo Grossi, que também visitou Arruda nas novas instalações, disse que o governador afastado não reclamou da transferência. ;Ele achou que está correta a remoção e está satisfeito com o que recebeu. É um lugar muito confortável. Se ele não reclamou, quem sou eu para reclamar?;, disse.
O prédio do COT fica em um espaço próximo a um campo de futebol, onde as pessoas de fora não conseguem enxergar. Com essa transferência, Arruda não mais ouvirá as manifestações de solidariedade ou os protestos feitos diariamente em frente ao complexo da PF, no Setor Policial Sul. Além disso, terá mais privacidade para tomar banho de sol e menor risco de ser fotografado ou filmado por curiosos.
A distância entre o prédio do Instituto Nacional de Criminalística (INC), onde estava o governador afastado, até o prédio da COT é de aproximadamente 600 metros. Dois agentes monitoram e cuidam da segurança de Arruda durante todo o dia, em esquema de revezamento. A Polícia Federal informou que, por enquanto, não estão previstas novas transferências.
Apoio
Três horas antes de Arruda ser transferido de sala, a primeira dama Flávia Arruda repetiu o ritual de levar almoço ao marido. Entrou na Superintendência da PF por volta de 11h30, como faz todos os dias, e deixou o prédio do INC uma hora depois. Do lado de fora, uma mulher aguardava ansiosamente sua saída. A líder comunitária do Paranoá Terezinha de Jesus Rocha Félix, 59 anos, acordou cedo só para levar mensagens de apoio ao governador e tentar entregar dois livros religiosos à Flávia. Quando a primeira dama deixou a unidade, Terezinha gritou várias vezes palavras de incentivo e Flávia correspondeu com um aceno de mão. A líder comunitária correu para a portaria e conseguiu entregar o presente que havia comprado em uma livraria. Chorou de emoção e começou a passar mal.
Terezinha acredita que os livros Sutra Sagrada, Chuva de néctar da verdade e Meditação para contemplar a Deus levarão força para que Arruda ;não desista da vida;. A mulher acredita na inocência do governador acusado de tentar subornar uma das testemunhas do inquérito da Operação Caixa de Pandora, que investiga o suposto esquema de pagamento de propina no GDF.
;Ele achou que está correta a remoção e está satisfeito com o que recebeu. Se não reclamou, quem sou eu para reclamar?;
José Gerardo Grossi, advogado
Colaborou Daniel Brito
;Olha como estou;
"Olha como estou aqui.; De acordo com o advogado Nélio Machado, a frase lhe foi dita ontem pelo governador afastado José Roberto Arruda. Nélio criticou a situação atual de seu cliente, após uma visita de cerca de uma hora, e ressaltou que o local não atende à legislação. ;Eu vi as instalações e não são as que as leis determinam;, afirmou o advogado, observando que uma medida, pelo menos, está sendo descumprida. ;Ele (Arruda) continua com vigilância que não se adequa;, reclama. O governador afastado tem dois policiais na porta da sala, que é mantida aberta. Quando precisa usar o banheiro, é acompanhado pelos agentes.
Depois de ressaltar que a prisão de Arruda era desnecessária, e que o governador afastado não teve chances de defesa, Nélio Machado alegou que os próprios advogados de defesa não estão tendo privacidade com seu cliente, como determina a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). ;Isso (a privacidade) tinha até na época da ditadura militar;, disse Machado, afirmando que não pretende, por enquanto, tomar qualquer medida para mudar a situação de Arruda. Segundo ele, o governador afastado ;está em uma sala muito pior que a anterior;. ;Não estou preocupado com um dia a mais que ele ficar. Estou preocupado é que ele volte para casa;, afirmou.
De acordo com Machado, o governador estaria abatido, tendo emagrecido de três a quatro quilos desde que foi preso. A versão dada pelo advogado não foi confirmada pelo secretário de Segurança do DF, Valmir Lemos, que visitou Arruda ontem à noite. Lemos deixou o complexo da PF e disse que a sala para onde o governador afastado foi transferido condiz com a exigência da lei. Segundo ele, o governador está ;tranquilo;.