Cidades

Distritais podem aprovar decreto legislativo que autoriza o STJ a processar Arruda

No Supremo Tribunal Federal, tramita Adin justamente contra esse dispositivo da Lei Orgânica

postado em 20/02/2010 08:45
Está pronto para ser apreciado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa o Projeto de Decreto Legislativo n; 499 de 2010. Ele autoriza o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a instaurar processos contra o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), investigado no âmbito do Inquérito n; 650. O PDL foi proposto por sete deputados e deve contar com apoio suficiente para a aprovação, como apurou o Correio. Se o previsto para ocorrer na próxima terça-feira for confirmado, a Câmara se antecipará ao debate travado no Supremo Tribunal Federal (STF), que deve definir se a Justiça precisa ou não pedir licença ao Poder Legislativo para processar Arruda. Na Suprema Corte tramita uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), questionando justamente o artigo 60 da Lei Orgânica do DF, que atrela a abertura de processos do chefe do Executivo ao aval dos distritais.

A atitude que os deputados se preparam para tomar tem duas interpretações. Uma do ponto de vista político, segundo a qual os distritais pretendem demonstrar boa vontade com a Justiça na tentativa de evitar uma intervenção considerada iminente. Outra sob o aspecto jurídico, que de maneira prática pode queimar etapas para a abertura de processo judicial contra o governador afastado, segundo acreditam juristas ouvidos pela reportagem.

Na hierarquia das leis, um decreto legislativo tem patente baixa (leia para saber mais). Não é tão abrangente como uma lei complementar nem tem o peso do que está escrito na Lei Orgânica. Tanto é assim que, para aprovar um PDL, basta maioria simples. Ou seja, se houver apenas 13 distritais em plenário, sete votos seriam suficientes para fazer valer o conteúdo do decreto legislativo ; quorum muito mais fácil de se atingir do que o necessário a uma emenda à Lei Orgânica, com o mínimo de 16 votos para a aprovação.

Dos 24 distritais, sete assinam o PDL n; 499: Milton Barbosa (PSDB), Jaqueline Roriz (PMN), José Antônio Reguffe (PDT), Paulo Tadeu (PT), Érika Kokay (PT), Chico Leite (PT) e Cabo Patrício (PT). Mas esses não serão os únicos votos a favor do projeto. Outros deputados demonstram simpatia pelo decreto que, segundo avaliam, seria um gesto político de colaboração com a Justiça. Um dos que vão se unir aos autores do PDL é Alírio Neto (PPS). O distrital, no entanto, acredita que o decreto é fraco para o objetivo ao qual se propõe. ;Mostra boa vontade, mas é um instrumento legislativo incorreto. O expediente adequado é uma emenda à Lei Orgânica que eu mesmo me disponho a apresentar;, antecipou Alírio. Autor de regimento interno comentado, o deputado explica que o decreto legislativo seria mais apropriado após a provocação da Justiça e não antecipadamente, o que poderá gerar polêmica. A perspectiva é, já na terça-feira, aprovar a matéria na CCJ e encaminhá-la ao plenário no mesmo dia.

Para Paulo Tadeu, no entanto, a medida é o bastante para sinalizar ao Ministério Público, ao STJ e ao Supremo uma mudança de comportamento da Câmara Legislativa: ;Além de acabar com a discussão no Supremo sobre a consulta ou não o Legislativo para processar Arruda, essa é uma providência no sentido de fortalecer essa imagem de que a Câmara tem capacidade para resolver a crise, mesmo em meio a toda a suspeição que paira sobre os deputados;.

Licença
Presidente do Instituto Brasiliense de Direito Público, o constitucionalista Inocêncio Mártires Coelho explica que o decreto legislativo prestes a ser votado na Câmara terá validade prática dentro do princípio da ;instrumentalidade das formas;, segundo a qual não se privilegia a forma em detrimento do conteúdo. ;Isso quer dizer que, se o STJ for processar o governador afastado, não se prendará ao fato de a Câmara ter ou não de dar uma licença, porque ela já se manifestou sobre essa autorização anteriormente. É como se a decisão do processo saísse hoje e o Tribunal interpretasse ;ontem a Câmara me autorizou a tomar essa atitude;, portanto isso já não tem a menor interferência no desenrolar do processo;, comentou Inocêncio.

O advogado Paulo Castelo Branco acrescenta que o decreto legislativo proposto pelos distritais não interfere em nada na análise da Adin que contesta o dispositivo obrigando o STJ a pedir autorização à Câmara para processar o governador. ;A Justiça já deu todas as demonstrações em relação à Operação Caixa de Pandora de que está disposta a agir, independentemente do Legislativo. Além do mais, a Adin em análise no STF é muito mais abrangente do que o caso no Distrito Federal, ela será analisada de qualquer maneira, com ou sem a antecipação dos deputados;, considerou Castelo Branco.


Para saber mais

Pela ordem de importância

No universo da produção legislativa reina a seguinte ordem de importância. Acima de tudo está a Lei Orgânica, que funciona como uma constituição específica para a capital federal. Qualquer emenda a essas regras só se concretiza por meio da decisão de dois terços dos deputados, ou seja, 16 parlamentares. A lei complementar cria regras específicas para os princípios escritos na Constituição do DF e só pode ser aprovada com maioria absoluta dos deputados, metade mais um (13).

Em seguida vêm a lei ordinária, os decretos legislativos, as resoluções e os requerimentos, que podem ser aprovados por maioria simples. Esse conjunto de proposições se destina principalmente a criar normas para o funcionamento da Câmara Legislativa. Por esse motivo são considerados menos abrangentes e, em geral, se referem a situações bastante específicas.

A maioria simples depende do quorum mínimo de metade dos 24 deputados mais um. Ou seja, basta que no plenário tenham 13 distritais e, pelo menos, sete sejam a favor da aprovação das proposições. (LT)

CUT cobra acesso a galerias

; A Central Única dos Trabalhadores do DF apresentará, segunda-feira, um pedido de salvo conduto à Mesa Diretora da Câmara Legislativa, com o intuito de garantir o acesso das pessoas às galerias do plenário para acompanhamento das votações. De acordo com a presidente da CUT-DF, Rejane Pitanga, desde que o deputado Wilson Lima (PR) assumiu a Presidência da Casa, foram fechadas as portas do espaço reservado à comunidade. Antes da iniciativa da CUT, a reclamação foi levada à Mesa Diretora pelo deputado Chico Leite (PT). ;É inadmissível que a população do DF seja impedida de ver o que acontece na Câmara, umas principais ferramentas políticas do DF;, afirmou Rejane Pitanga. ;Quem deve ter limite de liberdade são os parlamentares que colaboraram para o processo de corrupção no governo local e não o povo, parte prejudicada de todo o esquema;, acrescentou a presidente da CUT-DF.


Oposição promete boicotar reunião

A bancada oposicionista na Câmara Legislativa do Distrito Federal informou ontem que não iria participar da reunião de hoje entre o governador em exercício governador Paulo Octávio e os deputados distritais. Paulo Octávio marcou o encontro para discutir a crise na capital federal e tentar obter apoio para manter a governabilidade.

Os oposicionistas se recusaram a participar da discussão porque entendem que Paulo Octávio não tem condições de governar, por ser apontado como um dos envolvidos no suposto esquema de corrupção no Distrito Federal.

;A manutenção do vice-governador (Paulo Octávio) à frente do governo só vai perpetuar essa crise. Ele perdeu sustentação política;, disse o petista Paulo Tadeu, que divulgou, ainda ontem para a imprensa, nota oficial avisando do boicote (leia a íntegra). Segundo o deputado, a bancada petista vai cobrar a votação dos pedidos de impeachment de Paulo Octávio e também do governador licenciado José Roberto Arruda.

Além de Paulo Tadeu, não vão à reunião com Paulo Octávio os deputados distritais Cabo Patrício, Érika Kokay e Chico Leite, do PT, e Reguffe, do PDT.

O encontro do governador em exercício está agendado para esta manhã com os deputados. Embora a bancada petista seja minoria entre os 24 distritais, com a crise instalada no Executivo e no Legislativo locais e Arruda preso há mais de uma semana, outros parlamentares ; que antes faziam parte da base aliada do governo ; devem faltar ao encontro.


Íntegra da nota

;Os deputados Paulo Tadeu, Cabo Patrício, Chico Leite, Érika Kokay e Reguffe agradecem o convite do governador em exercício Paulo Octavio, mas informam que não vão participar da reunião marcada para sábado, 20 de fevereiro.

Os deputados entendem que o papel mais importante da Câmara Legislativa, neste momento, é concluir os processos de impeachment do governador e vice-governador e de quebra de decoro parlamentar de deputados flagrados na operação Caixa de Pandora, bem como apurar os atos de corrupção praticados no âmbito do GDF, para que ocorra o quanto antes:

a) o restabelecimento da normalidade institucional nos Poderes Executivo e Legislativo do Distrito Federal;

b) o afastamento de todos os envolvidos de seus cargos, com a consequente responsabilização prevista em lei;

c) a rescisão de todos os contratos com indícios de superfaturamento, com a declaração de idoneidade das empresas para contratar com o Poder Público e a devolução de todo o dinheiro público recebido de forma indevida;

d) a conclusão das obras em andamento e a manutenção dos serviços essenciais na forma da lei, para evitar transtornos e prejuízos à população distrital.;

No Supremo Tribunal Federal, tramita Adin justamente contra esse dispositivo da Lei Orgânica


Opinião do internauta

Leitores comentaram no site do Correio as reportagens que tratam dos desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, desencadeada pela Polícia Federal. Veja algumas opiniões:

Rosângela Barros
;Agora, sim, temos que ficar atentos aos candidatos, já que tem gente se aproveitando da situação para fazer campanha. Pode ser mais um que, ao chegar lá, vai querer sua mesada.;

Wilson Costa
;Brasília está vivendo uma depressão política profunda.
Em 2010, os eleitores farão um limpa, através do voto. A maior riqueza de Brasília é a sua gente. O nome da nossa querida Brasília não pode ser associado a políticos corruptos.;

Gleisson Mateus
;Meu Deus, quando é que acordaremos desse pesadelo?;

Gildo Souza
;Coitado do governador do Distrito Federal, está sendo massacrado. Tenha fé, meu amigo.;

Gustavo Villaça
;De fato o senhor Arruda ainda é o governador e é lamentável para o DF ter o chefe do Executivo preso nesse ;cubículo;. Porém, em um país em que os detentos ficam amontoados, revezando para poder dormir, é mais do que suficiente essa sala em que ele foi colocado.;

Diego Moura
;Só falta o Roriz. Não acredito que o pai disso tudo ainda tá solto.;

Marcos Vale
;Cadê os mensaleiros do PT?;

Jorge Sá
;Espero que o Paulo Octávio também ocupe uma dessas salas.;

Vasco Vasconcelos
;Vamos retornar aos bons tempos, em que éramos felizes e não sabíamos, dos ex-prefeitos Israel Pinheiro Filho, José Sette Câmara, Wadjô da Costa Gomide, bem como dos ex-governadores Hélio Prates da Silveira, Elmo Serejo Faria, Aimé Lamaison, José Ornellas e José Aparecido.;

Laécio Alencar
;Povo nas ruas pra limpar o governo e a Câmara Legislativa.;

Rodrigo Ladislau Batista
;A população sempre paga o pato, mas espero que Paulo Octávio consiga a governabilidade em meio ao caos instalado no GDF. Estamos piores do que o Haiti. A nossa catástrofe é por erro humano, mas intencional.;

Adilson Siebra
;É impressionante! Paulo Octávio e deputados distritais se reunindo. Não adianta, senhores, a justiça prevalecerá.;

Ayrton Pisco
;Os maiores prejudicados com a perda da autonomia política do GDF são os políticos e aqueles que vivem às suas custas. Para a população só há vantagens.;

Gabriel Garcia
;Arruda está na cadeia, mas Brasília continua uma terra de ninguém. Onde estão as pessoas organizadas para passarem um abaixo-assinado pedindo intervenção? Conheço um monte de gente que assinaria em baixo.;

Octávio Sousa
;Renunciar não existe no vocabulário dele (Arruda). Ele demitiu a palavra depois de renunciar no Senado?;

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