postado em 20/02/2010 08:54
O governador em exercício Paulo Octávio (DEM) passou parte da noite de ontem redigindo seu pedido de desfiliação do Democratas para entregar ao presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), na próxima segunda-feira. Depois das idas e vindas quanto à renúncia ao mandato de vice-governador do Distrito Federal, na última quinta-feira, o tom será emocional. ;Não gostaria de deixar o partido. Tudo o que o partido me pediu para fazer, eu fiz. Meu Deus, o que existe contra mim?;, disse Paulo Octávio aos amigos com quem conversou sobre esse assunto.Paulo Octávio vai aproveitar o documento para tentar fazer uma defesa de seu nome em relação às investigações da Operação Caixa de Pandora. Seus aliados avisam que ele pretende dizer, por exemplo, que não há um ato dele como governador que esteja sob suspeição na Justiça. E fará questão de frisar que não aparece nos vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa.
Dirá ainda que não deseja causar constrangimentos ao DEM, mas que tem o dever constitucional de assumir o governo, em respeito ao eleitor e ao sistema democrático, a fim de manter a governabilidade e evitar a intervenção federal, vista por uma maioria dos políticos locais como a falência das instituições do Distrito Federal.
Intervenção
A tese dos aliados do governador é a de que, se Paulo Octávio tivesse escolhido o partido, como lhe impôs o DEM, a Câmara Legislativa ficaria com o governo do DF ; na linha de sucessão o novo governador seria o presidente da Casa, deputado Wilson Lima (PR) ; e ainda buscaria eleger um novo presidente para o próprio Legislativo. Esse cenário, avaliam, daria combustível ao pedido de intervenção federal feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR), uma vez que a Câmara Legislativa é suspeita de envolvimento no suposto esquema de corrupção.
Esse raciocínio, no entanto, não estará tão explícito no documento que o vice pretende apresentar ao seu partido. O DEM, na verdade, não está muito interessado em avaliar a situação do DF. A preocupação do partido hoje é manter-se distante dessa crise. Como disse o deputado ACM Neto (DEM-BA), ;o partido tem que se manter distante do Governo do Distrito Federal;.
A avaliação geral é a de que, se Paulo Octávio não entregar a carta até a data da reunião da Executiva, na próxima quarta-feira, ele será expulso. Hoje, o grupo interessado em mantê-lo no partido se esfacelou. E os comandantes da legenda acreditam que dificilmente irá se recompor em uma semana. Portanto, o mais provável é que o o governador interino do DF fique sem legenda.
Ontem, Paulo Octávio ainda estudou ingressar na Justiça com um pedido de desfiliação por justa causa, como forma de tentar garantir uma nova filiação partidária e a perspectiva de concorrer a algum cargo político nas eleições de outubro. Mas foi demovido da ideia porque não daria tempo de correr uma ação nesse sentido antes de o DEM expulsá-lo, na semana que vem. De mãos atadas, restará mesmo a despedida.
Nilo Cerqueira deixa o governo
; O administrador do Sudoeste e da Octogonal, Nilo Cerqueira, foi o primeiro a cumprir a determinação da executiva nacional do Democratas. Cerqueira é presidente regional do Conselho de Ética do DEM e o seu desligamento do Governo do DF foi divulgado na edição de ontem do Diário Oficial do Distrito Federal. À frente da Administração Regional, ele obteve 88% de aprovação popular, conforme pesquisa do Instituto Exata OP (Opinião Pública). ;Este é o resultado de trabalhos sérios e determinados em prol do crescimento e da qualidade de vida da comunidade;, comentou Cerqueira.
Lula não dá palpite
Depois de visitar fábricas em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu ontem que não cabe a ele dar palpites sobre a necessidade ou não de intervenção federal no Distrito Federal. A capital da República enfrenta uma crise sem precedentes na história republicana do país, provocada por um suposto esquema de corrupção envolvendo o governador licenciado José Roberto Arruda (sem partido), o governador em exercício Paulo Octávio, deputados distritais e empresários. O presidente reafirmou que a decisão cabe ao Judiciário.
;Só a Suprema Corte que pode decidir. Por conta disso, o presidente da República não pode dar palpite. A necessidade ou não de intervenção é a Suprema Corte que decide;, afirmou Lula.
Na quinta-feira ; uma semana depois de pedir audiência ;, Paulo Octávio finalmente conseguiu ter um encontro com o presidente Lula, de quem pretendia apoio para a governabilidade do DF. O presidente disse ao governador em exercício que não se manifestaria antes da decisão do Supremo Tribunal Federal, que decidirá sobre a intervenção federal pedida pela Procuradoria-Geral da República.
Ao pedir a intervenção federal, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, argumentou que toda a linha sucessória do governo do Distrito Federal está sob suspeita de envolvimento no esquema de corrupção.
Arruda está preso desde o dia 11, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusado de tentar subornar uma testemunha do suposto esquema de corrupção, denunciado pelo então secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa. O ex-secretário também acusa Paulo Octávio de receber propina dos empresários.