Flávia Maia
postado em 22/02/2010 09:12
Mesmo com as obras iniciadas e previsão de mudança até a data do aniversário de Brasília, ainda circula entre os corredores da Feira da Torre a discussão sobre a transferência das tradicionais banquinhas que estão no local desde a década de 1970. Entre as diversas opiniões, os feirantes continuam com uma postura da resistência, clamando pelo tradicionalismo, enquanto alguns moradores e turistas aprovam o novo local, a favor da estética de um dos mais importantes cartões-postais da cidade.Inclusive, a justificativa turística é o maior ponto de tensão. Se, por um lado, a intenção do governo é deixar a torre sem a interferência visual das banquinhas, de outro, preocupações como a de dona Gorete Braga, 51 anos. Segundo ela, com a transferência, a feira perde aqueles turistas que vão ao miran te e acabam comprando uma coisinha ou outra. ;Quando chegam as excursões, o pessoal tem 10 minutos para ir ao mirante, não vai dar tempo de descer até o novo local e vamos perder clientela. Não adianta mudarmos para um local mais bonito se não vendermos;, diz a feirante, que está no local há 22 anos.
A filha de dona Gorete, Nayara Braga, 26 anos, cresceu com a mãe na feira e também não gosta da ideia do deslocamento. A brasiliense reclama da falta de diálogo do governo com os feirantes. ;A gente não sabe de nada, soube pela TV que mudaríamos até abril. E com essa história do governador, nem sabemos se vai ter mudança mesmo;, pondera a brasiliense.
O medo da mãe e da filha é que ocorra o mesmo com os ambulantes retirados da Rodoviária do Plano Piloto e transferidos para o Shopping Popular em 2008. ;Meu filho não tá vendendo nada lá, é a nossa banca da Feira da Torre que tá segurando as pontas;, conta Gorete. Outro receio dos feirantes é que se deixarem o local vendedores ambulantes poderão se fixar no espaço desocupado. ;Passam a gente pra lá e vêm outros e ocupam;, teme a feirante.
Apesar do receio de perder o espaço e os turistas, o público da capital, como a servidora pública Solange de Azevedo, 48 anos, e a aposentada Sônia Curtis, 70, garantem que continuarão comprando na feira. ;É tão pertinho. Acho que ninguém vai deixar de comprar aqui não;, acredita Solange, que procurava móveis na feira. ;Sem as banquinhas, a torre vai ficar mais bonita e lá embaixo vai ficar mais confortável para fazer compras;, aposta a aposentada Sônia, que vive em Brasília desde a década de 1980.
A promessa se estende a turistas como Wanessa da Silva, 20 anos. A goianiense acredita que a mudança vai ser boa e a proximidade do local não afetará as vendas. ;Todas as vezes que eu venho aqui passo na Feira da Torre e isso vai continuar;, garante.
Transferência
A mudança das barraquinhas é a primeira das quatro etapas previstas para a reforma da Torre. Essa fase custará R$ 14, 9 milhões. As obras começaram em setembro do ano passado. O novo espaço é em frente à Torre, ao lado de onde ficam atualmente as antenas de emissoras de rádio e televisão. Serão construídas 600 barracas de ferro fixas e padronizadas. Uma banca será separada da outra e a feira terá calçadas e dois banheiros (um masculino e um feminino). Por enquanto, a maioria das estruturas metálicas está pronta e foi iniciado o calçamento. A obra é cuidadosamente observada pelos feirantes.
O flanelinha Mauro Antônio Bispo, 50 anos, vigia os carros na Torre há 12 anos, e não vê a hora da mudança ocorrer. Segundo ele, a transferência vai render um dinheirinho extra. ;No novo local terá mais estacionamento. Aqui, muita gente vai embora porque não tem onde deixar o carro. Assim, vou conseguir tirar mais;, diz o baiano. Para o vendedor de frutas, Valdomiro da Silva Cruz, 34 anos, sem a feira, o movimento da Torre vai acabar. ;Isso aqui vai ficar um tristeza;, prevê. Para a vendedora de picolé, Irene Florenço da Cruz, 38 anos, o melhor é esperar. ;Vou para onde tiver gente.;
Além da transferência das bancas, será construído um novo estacionamento entre a Torre de TV e a Funarte, um anfiteatro e salas de oficinas de artesanato. As calçadas onde as barracas estão atualmente serão revitalizadas, o elevador modernizado e haverá uma reforma da estrutura de aço.
Para saber mais
A mais alta da América Latina
Os desenhos originais da Torre de TV são de autoria do urbanista Lucio Costa. É é uma das poucas edificações importantes que não foram desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Ainda que a Torre tenha sido inaugurada oficialmente em 1967, o mirante era aberto à visitação desde 1965, quando a construção tinha alcançado 140 metros de altura. Hoje, o tamanho total é de 224 metros, transformando-a na mais alta da América Latina e a 13; do mundo. A altura do mirante (75m) equivale a um prédio de 25 andares e o monumento recebe cerca de 1,2 milhão de visitantes por ano. Não existe uma data exata do início do comércio na torre, mas acredita-se que os vendedores ambulantes tenham chegado ao local em meados na década de 1970.
Povo fala
Mauro Antônio Bispo, 50 anos, flanelinha
;80% desse estacionamento da Torre é ocupado por carros de feirantes. Com a mudança, vai ter um estacionamento maior, mais carros e vou tirar um dinheirinho melhor.;
Gorete Braga, 51 anos, feirante
;Estou aqui desde que o artesanato era vendido no chão. Eu acompanho a obra e parece que vai ficar bonito. Mas não adianta uma boa infraestrutura se o comerciante não conseguir vender a mercadoria.;
Alessandra Santos, 22 anos, estudante
;Eu apoio a mudança. No local novo vai ficar mais organizado, porque as banquinhas vão ficar melhor distribuídas.;
Valdomiro da Silva Cruz, 34 anos, vendedor de frutas
;Toda torre do mundo tem uma feira embaixo, por que só a de Brasília não vai ter? Isso vai ficar um vazio, uma tristeza.;
;80% desse estacionamento da Torre é ocupado por carros de feirantes. Com a mudança, vai ter um estacionamento maior, mais carros e vou tirar um dinheirinho melhor.;
Gorete Braga, 51 anos, feirante
;Estou aqui desde que o artesanato era vendido no chão. Eu acompanho a obra e parece que vai ficar bonito. Mas não adianta uma boa infraestrutura se o comerciante não conseguir vender a mercadoria.;
Alessandra Santos, 22 anos, estudante
;Eu apoio a mudança. No local novo vai ficar mais organizado, porque as banquinhas vão ficar melhor distribuídas.;
Valdomiro da Silva Cruz, 34 anos, vendedor de frutas
;Toda torre do mundo tem uma feira embaixo, por que só a de Brasília não vai ter? Isso vai ficar um vazio, uma tristeza.;