Cidades

Hoje o Buritinga é uma imagem apagada da força do governo

Local foi construído para acomodar a equipe de trabalho de José Roberto Arruda

Guilherme Goulart
postado em 22/02/2010 09:16

Ele se firmou como símbolo do governo José Roberto Arruda (sem partido). Também serviu de palco para a nova cara da administração local ao se tornar a sede do Governo do Distrito Federal (GDF). Ao tomar o lugar do Palácio do Buriti, no Plano Piloto, ganhou nome e apelido. O Centro Administrativo, em Taguatinga, virou Buritinga. E ergueu-se sob a aura de um sistema de gestão compartilhada. Inspirado na iniciativa privada, o projeto fez com que o primeiro escalão despachasse em um mesmo ambiente e diante do olhar atento do então homem forte do governo local.

A estratégia perdurou por três anos, apesar de dividida internamente entre críticas e elogios. A crise que se instalou no GDF a partir de novembro do ano passado, no entanto, ruiu a estrutura. Reuniões diárias, toques insistentes de telefones, conversas, gritos e vaivém de secretários e de ilustres desconhecidos sumiram no tempo. ;Implodiu o Buritinga. Mas não se pode dizer que não funcionou. Representou as vontades de desenvolvimento urbano e de integração e agilidade do governo;, afirma o secretário de Planejamento do DF, Ricardo Penna(1).

Segundo ele, uma das principais funções do Centro Administrativo passava pela tentativa de desburocratização da máquina pública. A proximidade física entre os nomes do alto escalão, por exemplo, fazia com que a comunicação e os despachos ocorressem com mais rapidez. Mas alguns secretários não se adaptaram à rotina barulhenta e à falta de privacidade. Preferiam preencher a agenda com compromissos externos, apesar da cobrança de Arruda. ;Ele cobrava bastante porque isso (a presença) fazia parte do governo;, resume Penna.

Assessores de secretários do GDF, à frente do cargo desde o início do governo Arruda contaram ao Correio que o então governador exigia batida diária de ponto no Buritinga à tarde. Abria-se a possibilidade de se mandar um representante, desde que isso não virasse um hábito ; o próprio Arruda despachava em alguns períodos na residência oficial, em Águas Claras. ;Precisava estar lá (no Buritinga) todos os dias na parte da tarde. Os secretários só não iam se tinham alguma coisa em pauta. Se não aparecessem, tinham de explicar o motivo da falta. Isso durou até o início da crise;, revela um assessor.

Por conta da obrigatoriedade, alguns secretários dividiram as atividades. Principalmente aqueles que contavam com estrutura no Plano Piloto. Audiências marcadas para as manhãs ocorriam em Brasília. Os compromissos da tarde ficavam para Taguatinga. ;A gente via que, operacionalmente, às vezes mais atrapalhava do que ajudava. Até porque o Buritinga não tinha espaço físico para tudo que uma secretaria comporta. Virou, então, uma espécie de posto avançado. O melhor do Buritinga ficava por conta da agilidade da comunicação e das necessidades;, conta outro assessor.

A ponte rodoviária Plano Piloto-Taguatinga também rendia histórias peculiares. A maioria dos secretários e equipes permanecia no Centro Administrativo por até três horas, entre 14h30 e 16h45. Quanto mais se aproximava das 17h, mais aumentava a ansiedade por deixar o Buritinga. Isso porque a Via Estrutural fecha às 17h15. Perder a hora depois do fechamento no sentido a Brasília significava encarar os engarrafamentos na Estrada Parque Taguatinga (EPTG). ;Era assim todo dia, a não ser que tivesse alguma reunião até mais tarde. Virava uma correria só;, admite mais um assessor.

Sala vazia
A mudança da sede administrativa surgiu como uma das primeiras medidas tomadas por Arruda após a vitória nas urnas. Em dezembro de 2006, ele escolheu a área de um quartel desativado da Polícia Militar do DF para ser reformado e abrigar o Centro Administrativo. Os cinco edifícios do complexo sofreram intervenções. Uma sala de mais de 500 metros quadrados, destinada para Arruda, Paulo Octávio e o secretariado, recebeu atenção especial do então governador (leia arte). Mandou derrubar paredes de alvenaria, instalar as baias do primeiro escalão e manter as divisórias em 1,2m de altura.

Três anos depois, porém, a intensa movimentação no ambiente desapareceu. Os estacionamentos do Buritinga continuam lotados, mas raros são os carros oficiais. Assessores e técnicos ainda usam as estruturas das respectivas secretarias, montadas nos demais edifícios do Centro Administrativo. Só que a antiga sala comandada por Arruda, que mantinha uma mesa de reuniões ao centro, não tem mais a importância de antes. Assessores do GDF confirmaram ao Correio que os atuais secretários de governo não a utilizam mais.

A assessoria de imprensa do governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio, confirmou a informação. A estrutura do GDF, desde o afastamento e a prisão de Arruda, voltou para o Palácio do Buriti. É de onde Paulo Octávio despacha e recebe o secretariado. Funcionários de secretarias com base no Piloto Plano, como as de Planejamento, de Fazenda, de Educação e Segurança Pública, voltaram a trabalhar como faziam antes da transferência de sede. A assessoria do governador, no entanto, revelou que pretende reativar em breve o Buritinga.

1 - Convencional
O constante toque de telefones irritou Penna logo no início dos trabalhos no Buritinga. Além de baixar as campainhas dos aparelhos, ele desenvolveu um sistema de e-mail interno entre os secretários. A iniciativa não fez muito sucesso, a começar por Arruda. O governador preferia o sistema convencional de bilhete e mensageiro.

Local foi construído para acomodar a equipe de trabalho de José Roberto Arruda

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