Cidades

Jovens não desistem e entram na UnB

Alunos de um Centro de Ensino Médio do Gama não desistem do desafio de entrar na mais disputada universidade do DF. O resultado é a aprovação de 18 estudantes no vestibular da UnB

postado em 23/02/2010 08:46

Cursar uma universidade pública parecia um sonho distante para a maioria dos alunos do Centro de Ensino Médio 1 (CEM 1), na Entrequadra 18/21 do Gama Leste. Para grande parte dos jovens que estudam ali, as dificuldades começam em casa, com as complicações financeiras ou com a falta de apoio da família. O objetivo, porém, começou a ficar mais próximo da realidade com a recente aprovação de 18 estudantes desse colégio na Universidade de Brasília (UnB). Entre eles, oito foram aprovados na última edição do Programa de Avaliação Seriada (PAS), outros seis no segundo vestibular de 2009 (antes mesmo de concluir o ensino médio) e quatro no primeiro vestibular de 2010. No total, eram 340 alunos no 3; ano do ensino médio.

Alguns colegas da turma de aprovados deste ano: tanto no PAS quanto nas concorridas provas da Universidade de Brasília, o esforço triunfouA aprovação veio em dose dupla para Hérika Lorena Cavalcante, 17 anos. Ela passou no segundo semestre de 2009, nas provas tradicionais, e no PAS. Na primeira vez, a adolescente conseguiu vaga em museologia e na segunda, em engenharia ambiental. ;Eu estudava demais. À tarde, fazia cursinho também. Mas, no fim de semana, saía para patinar. É bom se distrair um pouco, ajuda a pensar melhor;, ensina. O apoio da família foi o diferencial, na opinião de Hérika. ;Minha mãe e minha avó me deram muita força, acreditaram em mim. E também investiram dinheiro no meu potencial;, agradeceu. A menina está encantada com a vida acadêmica: ;A UnB é muito mais do que eu esperava. Não é só pelo diploma, mas pelo que vivo lá dentro;.

Superação
Infelizmente, nem todos os estudantes tiveram as mesmas facilidades que Hérika. A vitória também teve um gosto especial para outra aluna do CEM 1, Alainy Vasques, 18 anos, aprovada para pedagogia na UnB. A adolescente estudava em escola particular antes de ingressar na rede pública. O orçamento familiar foi reduzido e ela se viu em uma nova realidade. ;Quando me matriculei em uma escola do governo, todos acharam que meu futuro estava acabado. Um tio me falou que não adiantava eu fazer cursinho porque só ia gastar o dinheiro da minha mãe. Quase morri quando escutei as pessoas me desestimulando;, lembrou.

Mesmo sem ajuda e sem poder fazer cursinho, a menina foi em frente. ;Toda essa dúvida me deu ainda mais força para conseguir o que queria desde pequena: ser pedagoga. Estudei muito, superei meus limites e hoje sou a prova de que é possível ter ensino público com qualidade. É uma realização muito grande poder dar essa alegria aos meus pais;, relatou Alainy.

Para o vice-diretor, Fernando Menezes, a força de vontade dos alunos se alia às boas condições da escolaO vice-diretor do colégio, Fernando Menezes, acredita que, além da força de vontade dos alunos, a boa estrutura física oferecida pela escola e a dedicação de professores e orientadores ajudaram a conquistar as vagas. As novas políticas de inclusão da UnB também foram importantes. ;Desde o ano passado, a inscrição para a prova é gratuita. Isso também facilitou o acesso à UnB e muito mais gente quis tentar;, explicou. ;Nossa missão aqui é mostrar a eles todas as opções de escolha para o futuro. Os estudantes mais carentes não podem esquecer que a UnB é possível;, incentivou.

O comprometimento dos servidores da escola representou um ponto importante para o bom desempenho. ;A nossa equipe foi para o laboratório de informática e ajudou cada um a se cadastrar. Além disso, a escola tem auditório de qualidade, teleclasses em uma televisão de plasma de 50 polegadas, sala de ginástica e vários projetos culturais. Tudo isso aumenta a autoestima dos estudantes e ajuda no aprendizado;, relatou Menezes.

A orientadora educacional Marcela Vietes considera a aprovação desses estudantes um passo importante para a valorização da escola pública. ;Enxergamos nossos alunos como protagonistas e eles também começam a se ver assim. Os bons resultados mostram que o comprometimento com a educação e o ensino da cultura de paz levam à conquista de qualquer objetivo;, comemorou Marcela.

"Quando me matriculei em uma escola do governo, todos acharam que meu futuro estava acabado. Toda essa dúvida me deu ainda mais força para conseguir o que queria desde pequena: ser pedagoga. Estudei muito, superei meus limites e hoje sou a prova de que é possível ter ensino público com qualidade"

Alainy Vasques, aprovada na UnB


O número
18
Número de aprovações na UnB por alunos do CEM 1, em menos de um ano.

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