Cidades

Drama de sumiços em Luziânia motiva lenda urbana no Itapoã

postado em 25/02/2010 08:25
Andar de bicicleta e brincar pela rua sem um adulto por perto está proibido para as crianças do Itapoã. A mudança de rotina na cidade já dura quase dois meses, desde a notícia do desaparecimento de seis adolescentes no bairro Parque Estrela Dalva, em Luziânia. O boato que ronda a Fazendinha, o Condomínio Del Lago e o setor de chácaras é do famoso carro preto, que estaria rondando pela cidade a procura de crianças desgarradas dos pais. Há quem jure que os corpos de algumas delas foram encontrados sem as vísceras e os órgãos, na região dos pinheiros do Paranoá. Na 6; Delegacia de Polícia (Paranoá), existe apenas um registro de desaparecimento de uma jovem de 16 anos, mas as investigações apontam para uma possível fuga de casa.

Francisco conhece histórias de crianças supostamente levadas pelo carroMesmo que até hoje ninguém tenha visto esse tal carro preto, o serralheiro Francisco Menezes de Araújo, 46 anos, sai para trabalhar todos os dias com o coração na mão. Os gêmeos de 6 anos ficam em casa, na QL 7 do Itapoã II, com a babá e só podem se divertir na rua quando ele chega. ;Fico vigiando-os o tempo todo;, contou. Ele diz saber de pelo menos quatro histórias de meninos e meninas que desapareceram e tiveram os corpos encontrados dias depois. O último deles seria de uma menina de 11 anos que estava desaparecida há três meses. ;Parece que acharam o corpinho dela esta semana no condomínio Bouganville, sem os órgãos. Dentro dela ainda colocaram farofa. Acho que foi macumba;, disse.

O segundo caso seria de uma adolescente de 17 anos encontrada há 15 dias decapitada. Um garoto apelidado de Totinha, 8 anos, também teria sido raptado por dois homens no tal carro preto, mas devolvido aos pais após o pagamento de resgate. Ninguém soube dizer qual o valor pago e onde o tal sobrevivente morava. Por último, Francisco disse que ouviu falarem dos restos mortais de outro jovem que foi encontrado em um contêiner no mês passado, sem os órgãos. ;É horrível trabalhar angustiado desse jeito e viver praticamente trancado;, desabafou Menezes.

Nenhum desses casos relatados pelo serralheiro foi confirmado pela delegacia. Segundo o delegado-chefe, Miguel Lucena, diversas são as ocorrências de crianças e adolescentes que saem de casa por algum motivo. ;Muitos fogem com o namorado, outros não aguentam mais a violência dentro de casa e por aí vai. Os pais registram ocorrência como desaparecimento, mas, na verdade, quando nós averiguamos, o jovem está na casa de alguém ou no outro dia ele está de volta;, contou.

Com medo das histórias que se espalharam pelo Itapoã, a dona de casa Maria Marciana dos Santos, 48 anos, resolveu alugar uma van escolar para buscar os filhos no colégio. ;Antes, eles iam de bicicleta, mas agora estou com medo de deixá-los irem sozinhos. Desde quando começaram as aulas eu os deixo na van e os pego na volta;, garantiu. Inúmeras são as recomendações para os filhos de 11 e 7 anos. ;Falo para eles não aceitarem balinha de ninguém e, se virem o carro preto, é para correr e gritar por socorro, nem que tenham que entrar na casa de algum vizinho. Esta história do carro preto eu escuto desde quando era menina, mas com a história lá de Luziânia ela voltou a circular por aqui e no mundo em que nós vivemos eu não duvido de mais nada;, disse.

A reportagem do Correio abordou pelo menos 10 pessoas e todas elas sabiam da história do carro preto e se diziam assustadas com a notícia de que ele estaria percorrendo os bairros. ;Graças a Deus eu nunca vi esse carro, mas dizem por aí que ele fica rodando bem devagar até achar alguma criança sozinha;, contou a dona de casa Dilma Ferreira da Silva, 27 anos, moradora do Condomínio Del Lago.


"Esta história do carro preto eu escuto desde quando era menina, mas com a história lá de Luziânia, ela voltou a circular por aqui"
Maria Marciana dos Santos, 48 anos

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação