Cidades

Lixo invade o Paranoá

Uma faixa instalada em local de movimento reflete à angústia da comunidade diante dos entulhos que, dia a dia, tomam conta da região. Administração local atribui o problema à falta do lixão da cidade, extinto há um ano

Flávia Maia
postado em 25/02/2010 08:42

A mensagem expressa a indignação: ;Posso jogar lixo no caminho da sua casa?;. Foi com este texto que um morador não identificado quebrou o silêncio e resolveu ir além das reclamações formais na Administração Regional do Paranoá. Fixada na entrada que dá acesso às chácaras à margem da DF-001 ; EPCT (Estrada Parque Contorno), a faixa é a representação da revolta dos moradores. ;Eu não sei quem colocou, mas achei muito bom;, avalia Neurene Guedes de Souza, 33 anos.

Uma faixa, feita por morador não identificado, dá ironia ao recadoNa estrada de chão que leva às chácaras, a margem é repleta de lixo e entulho de toda espécie, de urso de pelúcia a animais mortos e restos de computador. O material, amontoado, além de causar mau cheiro, transforma o local em um foco de dengue: o Paranoá é uma das regiões do DF com maior número de casos da doença. Até domingo, já havia registro de 16 pessoas infectadas.

Segundo a aposentada Elenita de Oliveira, 60 anos, a situação já foi pior. Faz pouco tempo que o lixo passou a ser depositado nas margens da estrada. ;Antigamente, o lixo ficava no meio da estrada mesmo, não dava nem para chegar em casa;, observa a moradora.

A maioria dos moradores locais é de caseiros que cuidam das chácaras e, além do carro, o meio de transporte mais utilizado é a bicicleta. As caminhadas até a pista principal também são constantes e é nesses momentos que os moradores mais têm contato com o lixo. ;Quando chove, o lixo desce e entra nos regos e deixa tudo aqui perto fedido;, reclama Elenita. ;Tem dia que eu vou levar os meninos na escola e boto o dedo no nariz;, diz Neurene.

O principal foco de depósito de lixo está nos pinheiros que ficam em terras da Caesb e da Terracap. Segundo o administrador regional do Paranoá, Artur Nogueira, o local passou a ter lixo e entulho depois que o lixão (1)do Paranoá foi extinto, há um ano. ;É difícil mudar a mentalidade das pessoas;, conclui. O administrador denuncia que carroceiros do Paranoá e de outras regiões administrativas ; Lago Sul, Itapoã, Varjão, Sobradinho e Lago Norte ; usam o espaço para despejo. ;Já conversei com os administradores, mas eles disseram que não era de responsabilidade deles.;

Uma faixa instalada em local de movimento reflete à angústia da comunidade diante dos entulhos que, dia a dia, tomam conta da região. Administração local atribui o problema à falta do lixão da cidade, extinto há um anoColeta
De acordo com a Secretaria de Limpeza Urbana, o lixo é retirado de dois em dois dias no período da manhã e, a cada limpeza, a sujeira enche, normalmente, quatro caminhões. Para o superintendente de Operações Divino Santana, é nos intervalos de coleta que os carroceiros entram em ação. ;Não cabe à SLU fiscalizar quem joga o lixo lá, é preciso que a população denuncie para a Agência de Fiscalização. É ela que vai colocar alguém para vigiar e coibir quem estiver sujando;, sugere.

O caseiro José Leandro, 49 anos, tentou anotar a placa de uma caçamba que depositava entulho no local, mas não conseguiu. Avisando que denunciaria o infrator, escutou: ;Não tô nem aí;. Segundo o morador, a situação do lixo abandonado piorou nos últimos dois anos e os carroceiros agem de noite ou quando o dia está nascendo. ;Eu não entendo por que os carroceiros vão para lá. Temos um espaço na divisão de obras para que o entulho seja coletado e depois levado à Estrutural;, destaca o administrador Artur Nogueira.

Por enquanto, a sujeira continua e a mensagem da faixa é apenas um desejo. ;Seria bom se quem suja aqui lesse e parasse com esse lixo tão prejudicial à nossa saúde;, comenta Neurene, que está grávida.

1 - Sem tratamento
Lixões estão em espaço aberto, localizado geralmente na periferia das cidades onde o lixo fica apodrecendo ou é queimado. Não devem ser confundidos com aterros sanitários, pois nos lixões não há critérios sanitários ou ecológicos, provocando a contaminação das águas subterrâneas e do solo, e a poluição do ar com gases tóxicos.

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