postado em 27/02/2010 10:15
Leonardo Prudente pendurou as meias. O distrital que protagonizou um dos vídeos mais reproduzidos no escândalo da Caixa de Pandora, aquele em que escamoteia dinheiro nos bolsos do paletó e nas meias, renunciou ao mandato. Deixou o cargo para escapar de ação por quebra de decoro parlamentar. É a primeira baixa na Câmara Legislativa depois de três meses de crise. Na tarde de ontem, Prudente protocolou na Casa sua carta confirmando a intenção de abrir mão do mandato. Se fosse notificado antes de formalizar a renúncia, perderia a chance de preservar os direitos políticos caso fosse cassado. Horas antes, em outra correspondência, o distrital pediu desculpas aos eleitores.Com a renúncia de Prudente, a expectativa se volta agora para Eurides Brito (PMDB) e Júnior Brunelli(1) (PSC) ; ambos foram flagrados em vídeo recebendo dinheiro de caixa 2. Contra os dois também foi aberto processo por quebra de decoro na Comissão de Ética da Câmara Legislativa. A tendência é que renunciem a exemplo do colega. Brunelli já tem a carta de renúncia pronta. Eurides mantém o discurso de que fica no cargo até o fim do processo. Se ela realmente permanecer como distrital, é provável que seja cassada. Assim, perderá os direitos políticos por período de oito anos, prazo em que não poderá concorrer a cargos eletivos. Se Brunelli renunciar, assume o suplente Geraldo Naves (DEM), que está preso na Papuda e deverá ser cassado ao retornar ao mandato.
Primeiro a pedir para sair, Leonardo Prudente, que presidia a Câmara Legislativa quando o escândalo estourou, admite o peso das imagens em que aparece recebendo dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Num dos trechos da mensagem que entregou à Mesa Diretora da Câmara, ele menciona os vídeos: ;A repetição de imagem onde apareço recebendo doação de campanha não contabilizada em setembro de 2006, como se fossem atuais, reconheço, são muito fortes, assim como é avassaladora a versão para a minha presença no vídeo da oração feita em setembro de 2009, pelo deputado Brunelli;. Prudente sustenta: ;As cenas são mostradas como se fora fato imediatamente posterior àquele mostrado nas imagens de setembro de 2006, mas aconteceram três anos depois, em contexto totalmente diverso;.
Mesada
O distrital que caminhava para finalizar o segundo mandato foi barrado com a repercussão das denúncias de Durval Barbosa no Inquérito n; 650 do Superior Tribunal de Justiça. O ex-secretário de Relações Institucionais acusa Prudente de receber mesada para votar de acordo com a vontade do governo. O distrital, porém, se diz vítima ;de modelo autofágico do sistema eleitoral brasileiro no qual prevalece a hipocrisia;. Prudente sustenta que não é mensaleiro. Alega em sua defesa que aceitou dinheiro para fazer campanha e não registrou as doações na Justiça Eleitoral, uma obrigação dos candidatos. ;Os candidatos muitas vezes deixam de declarar o recebimento de recursos financeiros, para a campanha a pedido do próprio doador, que não deseja ver seu CPF ou CNPJ divulgados na internet e vinculados a um candidato ou Partido;.
A tática de defesa de Prudente tenta separar em universos distintos o vício da corrupção de atitudes ilegais. Para o deputado, o melhor dos mundos num contexto de denúncias demonstradas em vídeos é de que a Justiça reconheça a versão de transgressão eleitoral. Para dar robustez à sua indignação com as suspeitas de ter embolsado dinheiro de origem suspeita, Prudente se vale até de uma comparação com o pensamento de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do presidente Lula, José Dirceu, que foi obrigado a deixar o governo em função do escândalo do mensalão petista. ;Embora o ex-ministro José Dirceu tenha afirmado em recente entrevista: ;Mensalão não é corrupção e sim financiamento de campanha com caixa 2;, discordo. Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção sim e financiar campanha com caixa 2 é ilegal;.
1 - Prece
Os distritais Júnior Brunelli e Leonardo Prudente, além de aparecerem em vídeo recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, protagonizam uma das cenas mais célebres da Operação Caixa de Pandora. Eles são filmados rezando em agradecimento pela vida de Durval, no que ficou conhecido como oração da propina.
Imagens da derrocada
Embora tenham sido gravadas durante a campanha eleitoral de 2006, as cenas de Prudente pegando dinheiro das mãos de Durval Barbosa e guardando os maços em todos os bolsos do paletó e até nas meias se tornou um emblema do escândalo da Caixa de Pandora