O Plano Piloto não é o único lugar do Distrito Federal a enfrentar a presença constante de moradores de rua. Taguatinga também se tornou um atrativo para aqueles que perambulam pelas cidades em busca de doações. Famílias inteiras se fixaram nas movimentadas vias da cidade para chamar a atenção da população na tentativa de receber alguma ajuda. Em Taguatinga Sul, no gramado próximo ao principal shopping da região, adultos e crianças dividem o espaço com animais, sujeira e objetos recolhidos na rua durante o dia.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), não há como aferir o número de moradores de rua. Mas o coordenador de Ações Especiais da Sedest, Evanildo Sales Santos, garante que a maioria dessas pessoas tem endereço fixo em outras regiões administrativas e, principalmente, no Entorno do DF. Há casos em que as famílias abordadas recebem um auxílio do governo para voltar à terra natal. Em outras situações, são encaminhadas à assistência social. ;A população deve parar de fazer doações e dar esmolas;, alerta Santos.
Há também aqueles que vêm de outros estados em busca de uma vida melhor. É o caso de Maria Lúcia dos Santos, 44 anos. Ela saiu com a família há cinco anos de Jacobina, em Pernambuco, e decidiu vir para o DF, mas as dificuldades para arrumar emprego e um lugar para viver levaram-na a ser catadora de lixo nas ruas de Taguatinga. Hoje, uma lona amarela agarrada ao solo protege da chuva e do calor a catadora e os dois filhos. Maria Lúcia explica que não tem outro lugar para ir. ;Se eu tivesse uma casa, não estaria aqui. Sempre penso num futuro melhor para a minha família, mas por enquanto é só o que tenho;, lamenta, apontando para um fogão que está quebrado.
Onde vive Maria Lúcia há mais cinco adultos e 22 crianças. Quem pode, trabalha como catador e separa o lixo do que será reciclado. Um caminhão costuma passar pelo local a cada 15 dias para recolher o material. Alessandro Gomes Bezerra, 25 anos, mudou- se com a mulher e os três filhos para a pista atrás do shopping há mais de oito anos. Ele garante o sustento da família com a venda dos materiais recicláveis. O catador nem se preocupa com as investidas do governo para removê-los de lá: ;Eles vêm, tiram tudo o que nós conseguimos com o trabalho, mas não tem problema. A gente corre atrás para conseguir tudo de novo;.
Abordagem
Proteger-se de agentes da Sedest já virou rotina na vida dos moradores dessa invasão. Santos conta que alguns deles já foram retirados de lá mais de cinco vezes, mas sempre voltam. ;Tentamos explicar que eles não podem ficar. Também colocamos um caminhão à disposição para levar os pertences, doamos cestas básicas e pagamos passagens para quem não mora no DF;, relata o coordenador de Ações Especiais. ;Estamos muito preocupados com a situação das crianças que moram lá. Elas vivem em risco;, alerta.
Apesar da precariedade em que vivem, muitos moradores do lugar conseguem juntar algum dinheiro. Um fato inusitado é a presença de veículos no local. Maria Lúcia, por exemplo, conta que conseguiu, depois de muito esforço, comprar um carro para ajudar no trabalho e guardar os objetos da família quando o governo aparece. ;Ele é velho, está com dois pneus furados e ainda estou devendo algumas prestações para o antigo dono. Mas assim que eu conseguir um lote, vou usar o carro para levar tudo isso para a minha casa;, anseia.
O número <--
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Número de abordagens mensais realizadas pela Sedest em todo o Distrito Federal
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