postado em 03/03/2010 08:29
A polêmica sobre a criação de cães pit bull será retomada hoje com a votação, em caráter terminativo, do projeto de lei que obriga a castração dos machos da raça pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Segundo a nova proposta, o proprietário que desobedecer à determinação legal estará sujeito a cumprir pena de detenção que varia de 1 a 4 anos. Se aprovada, a medida ainda será apreciada pela Câmara dos Deputados.Além de proibir a procriação de pit bulls, a proposta também traz uma lista com uma série de raças de ;cães de guarda perigosos ou potencialmente perigosos; que só poderão circular em ambientes públicos se tomadas as devidas precauções, já determinadas em lei no DF, como o uso de focinheira, coleira e guia. Os donos dos cães que desobedecerem as regras estarão sujeitos a penas de 1 a 2 anos de reclusão, além do pagamento de multa. Fazem parte da lista as raças rotweiller, fila, pastor alemão, mastim, doberman, pit bull, schnauzer gigante, akita, boxer, bullmastiff, cane corso, dogue argentino, dogue de bordeaux, grande pirineus, komador e kuracz mastiff.
A novidade é recebida de forma divergente pela sociedade brasiliense. Para o gerente de controle de reservatórios e zoonoses do DF, Rodrigo Menna Barreto, é complicado definir, em uma listagem, os cães que podem vir a oferecer algum tipo de perigo para a população. ;Isso tudo vai muito da criação e do respeito que se dá ao espaço do animal;, considera.
Segundo Menna, a lista não inclui, por exemplo, a raça dogue alemão, que foi responsável pela morte de um homem de 40 anos, em 2006, no Gama. ;Também já tivemos casos de morte no DF com rotweiller e fila. Nunca registramos, no entanto, um caso fatal, aqui, envolvendo pit bull;, afirmou. De acordo com o veterinário, já foram registrados vários ataques com feridos provocados pela raça. No entanto, o Correio apurou que pelo menos um caso de morte por ataque de pit bull foi registrado no DF (veja memória). Uma criança de dois anos, Vinícius Dantas Lopes, morreu em setembro do ano passado após ser atacada por um cachorro da raça e por um rottweiler, em Planaltina de Goiás.
Criadores
Para o professor de educação física Renan Lustosa, 29 anos, dono de um pit bull de 12 anos, os problemas de violência registrados com cães da raça se devem à falta de responsabilidade dos donos de animais e não ao temperamento dos bichos. ;O errado é você ter um cachorro e não ter tempo para educá-lo. Conheço vira-latas que são muito mais violentos do que qualquer pit bull;, avalia.
O proprietário do cão revela que já chegou a ser denunciado à polícia por um vizinho porque possui o cachorro. ;Os policiais chegaram aqui, viram que eu o mantinha preso e nada aconteceu;, lembra. O servidor público Geraldo Scarling, 46 anos, é dono de cinco cães da raça pit bull, com idades entre quatro e cinco anos, e indignou-se com a possibilidade de ter que castrar os animais. ;Isso é um absurdo completo, motivado pela falta de conhecimento. Nunca tive problema com nenhum dos meus cães. Minhas duas filhas sempre conviveram com eles desde pequenas;, explica.
O relator da matéria, Gim Argello (PTB-DF), propõe que a lista de cães perigosos fique aberta para possibilitar ao governo a inclusão de novas raças, caso julgue necessário. Segundo Gim, o projeto de lei, de autoria do senador Valter Pereira (PMDB), segue uma tendência mundial que preza pela proteção da sociedade. ;Há uma preocupação em todo o mundo, por parte das pessoas civilizadas, em relação aos cães mais ferozes. Essa nossa iniciativa, de dar ênfase a esse assunto, se deve ao número alarmante de vítimas de casos dramáticos, especialmente em relação a idosos e crianças;, explica.
Números
Hoje, o canil da Zoonoses do DF abriga cinco cães responsáveis por agressões leves. Todos são mestiços de raças de grande porte. O cão fica no local por 10 dias e depois, dependendo da circunstância da agressão, é devolvido, doado para proprietários pré-selecionados ou sacrificado. ;O temperamento que observamos nesses cães depende da linhagem genética e da criação a que eles são submetidos;, explica o veterinário da Zoonoses, Péricles Massunaga.
De acordo com Massunaga, 95% dos ataques de cães tem como vítimas pessoas que vivem na mesma casa que os animais. ;Além disso, quase sempre detectamos algum tipo de provocação prévia por parte da vítima com relação ao cão;, explica. Ao todo, o DF possui uma população de cerca de 300 mil cachorros, entre os de pequeno e os de grande porte.
; Memória
Outubro de 2009
Uma criança de 5 anos foi atacada por um pit bull na Chácara Paulista do Novo Gama (GO). Levada ao Hospital Regional da Asa Norte, Caroline Batista Martins levou cerca de 40 pontos na cabeça. A mãe da garota, Gersionita Martins Santana, trabalha como diarista na chácara e disse que sempre leva as duas filhas para o local.
Setembro de 2009
Uma criança de dois anos morreu após ser atacada por dois cachorros, um pit bull e um rottweiler, em Planaltina de Goiás. Vinícius Dantas Lopes, 2 anos, teve lesões na cabeça, pescoço e pernas. Os cachorros pertenciam à família do garoto. Vinicius morreu antes de dar entrada no hospital.
Julho de 2008
Um menino de 9 anos atacado por quatro cachorros, no Gama, não resistiu aos ferimentos e morreu. Vítor Ribeiro de Brito estava na chácara onde morava, na Avenida Contorno n; 3, Rancho Califórnia, no Setor Oeste, quando sofreu o ataque dos cães. Os animais, cruzamento das raças fila e pit bull, deveriam fazer a segurança da casa. O menino passou por dois hospitais até morrer devido a um choque hemorrágico.
Dezembro de 2006
No dia 28, um rottweiler atacou a menina Iohama Francisca Alves Santos, 5 anos, na QND 56 de Taguatinga Norte. O animal, que estava solto na rua e sem coleira, mordeu a nuca da criança. Apesar do susto, Iohama sofreu ferimentos leves no pescoço. No mesmo dia, em Vicente Pires, um pastor alemão avançou em um menino da mesma idade de Iohama. Pedro Gonçalves do Nascimento teve uma das orelhas dilacerada e precisou passar por uma cirurgia plástica.