Cidades

Policiais afirmam em depoimento que Arruda interferiu em investigações

Ana Maria Campos
postado em 05/03/2010 08:49
Ao defender a manutenção da prisão preventiva do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, revelou ontem no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fato inédito apurado nas diligências da Operação Caixa de Pandora. Duprat disse que a reclusão de Arruda encorajou policiais civis do Distrito Federal a detalhar em suposta interferência do chefe do Executivo local em investigações relacionadas a seu governo.

;Policiais civis tiveram coragem, agora, porque o governador está preso, de denunciar que em outras duas operações o governador tinha interferido para impedir que houvesse investigação a respeito de Marcelo Toledo e de um outro doleiro;, sustentou a procuradora. Ao fim da sessão no STF, Duprat afirmou que três delegados da Polícia Civil do DF prestaram depoimento aos promotores no dia 1; de março.

O Correio apurou que o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF ouviu os delegados Celso Ferro, Marco Aurélio de Souza e Cícero Jaime ; o primeiro aposentado e os outros dois da ativa. Os depoimentos foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolver diretamente o nome do governador.

Os delegados contaram que participaram de uma reunião na residência Oficial de Águas Claras em que houve uma cobrança de Arruda à cúpula da área de segurança pública sobre o andamento de investigações relacionadas ao policial civil aposentado Marcelo Toledo e ao doleiro Fayed Trabously. Estavam em curso dois inquéritos sob a responsabilidade do Ministério Público: as operações Tucunaré e Tellus, relacionadas, respectivamente, à lavagem de dinheiro e à cobrança de propina para liberação de lotes no programa Pró-DF, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. As investigações incluíam escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.

Marcelo Toledo e Fayed foram interceptados. Arruda não teria gostado da investigação contra Toledo, apontado durante a Operação Caixa de Pandora como um dos operadores de desvios de recursos de prestadoras de serviço. O policial aparece em um dos vídeos gravados por Durval Barbosa entregando dinheiro ao então assessor de imprensa de Arruda, Omézio Pontes.

Teor
Um dos depoimentos foi prestado pelo delegado aposentado Celso Ferro, ex-diretor de Atividades Especiais da Polícia Civil do DF, conhecido pela perícia de captação telefônica como meio de prova em investigações policiais. Hoje consultor na área de informação, Ferro contou aos promotores que prestou serviços a Arruda, mas disse que não recebeu qualquer pagamento por isso.

Ele confirmou ainda a autoria de um relatório sobre investigações clandestinas sobre as atividades do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). O documento foi encontrado na casa do conselheiro Domingos Lamoglia, do Tribunal de Contas do DF, durante busca e apreensão da Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 27 de novembro. No relatório, Celso Ferro aponta informações sobre o trabalho dos promotores e chega a dar detalhes sobre o andamento da investigação relacionada ao escândalo que levou à renúncia do ex-governador Joaquim Roriz no Senado.

Também prestou depoimento o ex-diretor do Depate Cícero Jaime, pessoa da confiança de Celso Ferro, afastado da função por Arruda durante a Operação Tucunaré porque não estaria colaborando com os interesses do Executivo. Outro ouvido foi o delegado Marco Aurélio de Souza, ex-diretor da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap).

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