Cidades

Retratos falados produzidos pela PF norteiam as buscas em Luziânia

Naira Trindade
postado em 05/03/2010 09:17
Os investigadores do desaparecimento (1)de seis jovens de Luziânia estão atrás de dois suspeitos de envolvimento no intrigante mistério que cerca o Parque Estrela Dalva. Um homem de estatura mediana e careca e outro de aproximadamente 1,70m, com cabelos grisalhos e barba ; ambos com cerca de 35 anos ; são descritos por jovens que teriam sido abordados por eles no mesmo bairro dos demais desaparecimentos. Por meio de características descritas pelos jovens, peritos da Polícia Federal do DF desenharam dois retratos falados computadorizados dos suspeitos. O Correio teve acesso a um deles. Segundo um adolescente de 17 anos que diz ter sido vítima, o homem barbado usava uma bicicleta Caloi Ceci preta, com garupa, quando lhe teria oferecido R$ 50 por um serviço de meia hora.

Doze dias após o desaparecimento de Diego Alves, 13, o primeiro a sumir, em 30 de dezembro último, o jovem morador do Parque Estrela Dalva 4 contou ter recebido uma proposta de trabalho de dois homens à porta de sua casa. Os suspeitos, segundo ele, aproximaram-se e ofereceram emprego em Brasília. ;Era um careca e um cabeludo. Eles prometeram me pagar R$ 50 para trabalhar meia hora. Fugi para casa;, afirmou o adolescente, que estava sozinho quando foi abordado. Passados 10 dias do ocorrido, o garoto deu entrevista ao Correio e relatou estar com medo. Pais do adolescente, à época, disseram que levariam o menino à 5; Delegacia Regional de Polícia para que seu depoimento ajudasse nas buscas dos suspeitos. Mais de 60 dias se passaram desde o primeiro caso. O medo de os autores estarem à solta na cidade mudou o pensamento dos entrevistados, que ontem se recusaram a comentar o assunto.

O pai do adolescente abordado pelos homens diz ter mandado o filho morar no interior de Minas Gerais, por medo. ;A gente não sabe com quem está lidando, moça;, comentou, rapidamente. ;Ele vai ficar lá na casa dos avós até a poeira baixar. Luziânia está complicado para jovens;, completou. A insegurança está por toda parte no município goiano. A poucos metros dali, no Estrela Dalva 5, outro adolescente de 19 anos que teria recebido uma proposta para destelhar uma casa depois da BR-040 (que corta Luziânia) também não está mais na cidade. O jovem que ajudou a Polícia Federal a traçar o perfil do suposto raptor, segundo a mãe dele, Magna Rosa, 36 anos, está na casa de um tio em Taguatinga e, a pedido dos pais, ele vai passar uma temporada no DF.

Os suspeitos teriam conversado com o jovem por volta das 11h de 25 de janeiro, quando ele passava pelo Parque Estrela Dalva 4. Naquela manhã, o garoto seguia a pé pela rua quando um homem de cerca de 1,70m, com cabelos grisalhos, barba, pele morena-clara, que vestia camisa e calça jeans, teria se aproximado para lhe oferecer R$ 30 para ajudá-lo a destelhar uma casa. O homem estava numa bicicleta Ceci preta e nela havia um martelo. As roupas dele pareciam sujas. O menino aceitou a proposta de serviço e o acompanhou. Pelo caminho, o jovem perguntou a distância do trabalho e o indivíduo teria dito que seria após a BR-040. O menino, então, teria resolvido pegar a bicicleta. ;Eu caminhei até a minha casa e, quando olhei para trás, vi que o homem conversava com outras pessoas em um carro preto, tipo Santana. Fiquei com medo e não saí mais de casa;, contou.

O chefe do Departamento Judiciário de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira, confirmou ao Correio ontem que trabalha em cima dos dois retratos falados produzidos pela Polícia Federal. No entanto, Vaz de Oliveira defende que as imagens podem não levar os investigadores aos reais suspeitos. ;As imagens se tratam de suspeitos de ter levado os jovens, mas as bases nas quais as elas foram feitas não são muito consistentes;, avisa o delegado, que acredita que as imagens são elaboradas sob depoimentos de pessoas que viveram uma situação de muita emoção e, por isso, podem confundir alguns detalhes.

Tempo

Exatamente dois meses após o desaparecimento de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos, completados ontem, familiares dele ainda não conseguiram retornar à antiga rotina. Funcionária pública, Sônia Vieira Azevedo Lima, 45, continua afastada do serviço. ;Não trabalho mais, não arrumo a casa, não cozinho. Dá vontade de fechar os olhos, esperar e, ao acordar, ver que tudo voltou ao normal;, contou. ;São dois meses de canseira, angústia e tristeza;, completou. A fim de pressionar os investigadores por mais agilidade nas buscas dos filhos, as mães caminharão hoje da Secretaria de Promoção Social de Luziânia até a rotatória da Santa Luzia (no centro). De lá, elas pegam um ônibus e seguem até o Jardim Ingá, onde farão uma manifestação.


1 - Sumiços
Seis jovens desapareceram do Parque Estrela Dalva, bairro de Luziânia. Os sumiços começaram em 30 de dezembro, quando Diego Alves Rodrigues, 13 anos, não retornou para casa. Diego saíra de sua residência, no Parque Estrela Dalva 4, para ir a uma oficina de carros. Ele nunca mais foi visto. Na sequência, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos; George Rabelo dos Santos, 17; Flávio Augusto dos Santos, 14; Divino Luiz da Silva, 16; e Márcio Luiz de Sousa Lopes, 19, também sumiram.

Suspeito


Um dos retratos falados computadorizados feitos por peritos da Polícia Federal mostra um homem de cerca de 35 anos, com cabelos grisalhos e barba: ele teria oferecido R$ 50 a um adolescente.

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