postado em 05/03/2010 09:35
Mais velhas, mais escolarizadas e mais respeitadas em seus direitos. Muita coisa mudou para melhor para as trabalhadoras domésticas do Distrito Federal nos últimos nove anos. Entretanto, ainda há muito a ser feito para conferir mais dignidade à profissão de cuidadora do lar alheio, revelam os dados do estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado ontem. A pesquisa específica sobre a profissão de empregada doméstica se justifica: a função faz parte do segundo segmento da economia que mais emprega mulheres no DF. Com 17% das trabalhadoras de Brasília e região, fica atrás apenas de serviços gerais, que concentra 63,5% da mão de obra feminina. Se os dois setores se destacam como grandes empregadores de mulheres, o equilíbrio da divisão por raça ou cor das trabalhadoras em cada um é diferente.Em 2009, o segmento serviços empregava 59,8% de mulheres negras e 40,2% de não negras. Em contrapartida, o de serviços domésticos, no mesmo período, apresentava uma desproporção giganteca: 81% das trabalhadoras eram negras e só 19% brancas. Um desequilíbrio que, em lugar de recuar com o tempo, se acentuou. Em 2000, a quantidade de empregadas domésticas negras era de 70,5%.
Outros dados sobre a evolução do trabalho doméstico, entretanto, são positivos. A quantidade de crianças e adolescentes trabalhando no segmento, por exemplo, caiu de 6,9%, em 2000, para um número não representativo nas estatísticas no ano passado. O número de jovens entre 18 e 24 anos com empregos domésticos também caiu no período, passando de 31,4% para 14,4%.
Para as mulheres mais velhas, a lógica se inverteu: elas, que nem sequer figuravam em gráficos e tabelas há nove anos, chegaram a uma proporção de 26,7%, na faixa de 40 a 49 anos, e de 10,7%, entre as de 50 a 59 anos. das funcionárias do lar em 2009. Juntas, portanto, passaram a representar 37,4% do total de ocupadas do setor. Não superaram, no entanto, o número de trabalhadoras entre 25 e 39 anos, que desde 2000 reinam absolutas (veja quadro).
Envelhecimento
Na avaliação do Dieese, o fenômeno de envelhecimento das domésticas pode ser explicado de duas maneiras. Primeiro, a função se tornou menos atraente para mulheres mais jovens nos últimos anos. Segundo, os empregadores estão preferindo funcionárias mais experientes.
;Com o aumento da escolaridade do trabalhador, as jovens veem cada vez menos com bons olhos o ingresso na vida profissional por meio do serviço doméstico. Em relação às mais velhas, pode estar ocorrendo uma tendência por parte do empregador a procurar esse perfil. Mas temos que levar em conta também que o serviço doméstico é um dos poucos setores do mercado de trabalho que ainda absorve mulheres adultas e de baixa escolaridade;, diz Tiago Oliveira, economista do Dieese e um dos responsáveis pela pesquisa.
A baixa escolaridade das domésticas no DF foi atenuada nos últimos anos, mas continua preocupante. O setor também passa por um fenômeno de formalização, com aumento da quantidade de celetistas.
A Secretaria de Trabalho do DF apresentará ao Ministério do Trabalho nas próximas semanas o Plano de Qualificação dos Serviços Domésticos. De acordo com o secretário da pasta, Rodrigo Delmasso, a intenção é qualificar brasilienses para o trabalho doméstico e elevar a escolaridade de quem está no segmento. ;Até o fim de abril, devemos estar com inscrições abertas para cursos gratuitos;, adiantou o secretário.
Os cursos de aprimoramento de domésticas podem beneficiar pessoas como Antônia Rodrigues Araújo, 27 anos. Ela tem carteira assinada, trabalha para a mesma patroa há oito anos e dois meses e afirma estar satisfeita com o salário que ganha. Ela conta, entretanto, que interrompeu os estudos na 8; série e, desde então, não se sentiu estimulada a voltar.
A nova cara das cuidadoras de lares*
2000
# As mulheres negras eram maioria entre as empregadas domésticas, correspondendo a 70,5% do contingente de trabalhadoras
# A maioria das domésticas (41,7%) era de adultas entre 25 e 39 anos, mas era forte a representação de jovens de 18 a 24 anos (31,7%) e havia crianças e adolescentes, de 10 a 17 anos, trabalhando no setor (6,9%)
# Em 2000, mulheres analfabetas e com ensino fundamental incompleto constituíam 71,7% do total de domésticas. As com ensino fundamental completo e médio incompleto eram 6,7%. As que haviam completado o ensino médio e cursavam o ensino superior não apareciam nas estatísticas.
# Jornada de trabalho semanal de 43 horas, maior do que a média da jornada de outros trabalhadores, que é de 41 horas por semana.
# O contingente de mensalistas com carteira assinada era de 31,3%.
# Quanto à posição ocupada dentro do lar, as trabalhadoras chefes de família eram 17,8%; as cônjuges, 26%; e as filhas, 7,5% do total.
2009
# As negras continuam sendo maioria, mas ocupam ainda mais maciçamente esse segmento do mercado: correspondem a 81% do total de trabalhadoras
# O número de crianças e adolescentes trabalhando já não é representativo nas estatísticas. Jovens de 18 a 24 anos se afastaram do mercado e são apenas 14,4% do número total de ocupadas. Mulheres adultas, de 25 a 39 anos, seguem dominando, mas as mais velhas, entre 40 e 59 anos, ganharam espaço considerável. As primeiras são 44,7% das domésticas, e as segundas, que sequer tinham representação no segmento há nove anos, são 37,4%.
# A escolaridade das trabalhadoras subiu. Hoje, o número de domésticas com ensino fundamental incompleto ou analfabetas caiu para 50,8%. As mulheres que terminaram o ensino fundamental, mas não o médio, passaram a ser 24,6% do trabalahadoras do setor. As que chegaram a iniciar um curso superior, algo inédito em 2000, são 24,4%.
# A jornada de trabalho caiu para 39 horas semanais, ficando abaixo da média geral.
# Cresceu a formalização no segmento, com 43,6% das mensalistas com carteira assinada.
# Cresceu o número de chefes de família com emprego doméstico, para 27,2%, e caiu o número de filhas, para 5,7%, o que reforça o dado de que a mão de obra jovem está se afastando do segmento.
# As mulheres são 95% do total de empregados domésticos no DF
* Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)