postado em 07/03/2010 08:35
Os contornos de um batom bem aplicado, um olhar emoldurado por lápis preto e olhos com pálpebras pintadas de sombra podem significar muito além de um detalhe. Especialmente para mulheres que sofrem na tentativa de manter a autoestima diante de uma doença como o câncer de mama. Na batalha contra a enfermidade, muitas pacientes se esquecem de como é se achar bonita. A preocupação com a sobrevivência se mistura ao medo de perder os cabelos, de ficar sem o seio, de talvez não se sentir tão mulher quanto antes.Para ajudar quem passa por momentos assim, voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer lançaram a campanha do Batom Vermelho. Uma vez ao mês, quatro estudantes, administradoras de um site sobre moda e beleza, o www.modismonet.com, doam seu tempo e habilidades para levantar a autoestima de pessoas em tratamento no Hospital de Base. Mais que um agrado, as maquiadoras voluntárias levam força para quem tenta se recuperar da falta de esperança. A próxima ação deve ocorrer na segunda-feira, quando será comemorado o Dia Internacional da Mulher.
O incentivo não acaba no centro clínico. As pacientes levam para casa um kit de maquiagem com sombras, blush, aplicadores e lápis de olho para dar continuidade ao que aprenderam nas oficinas de maquiagem. Cada uma deve ter seu material individual, pois quem passa por quimioterapia, por exemplo, apresenta imunidade baixa e não deve usar nada que tenha sido usado por outra pessoa, pois o risco de contrair uma doença é maior. Em cada sessão, pelo menos 20 são maquiadas. Comprar os produtos não sai barato. As idealizadoras da campanha fizeram um bazar para conseguir a verba, mas os kits devem acabar em breve e elas vão precisar de novas doações.
Na manhã da sexta-feira última, as meninas acolheram as pacientes no ambulatório. Enquanto esperavam na fila por atendimento, elas se distraíam com os mimos das maquiadoras. Ao chegar, a maioria delas ficava envergonhada. Maria do Socorro Fernandes, 45 anos, passa pelo tratamento há cinco. Ao choque inicial do diagnóstico, seguiu-se o medo de morrer. Teve medo de perder os cabelos e ter de retirar parte dos seios. ;Depois que você sobrevive, dá graças a Deus. Fica mais vaidosa, dá mais valor ao cabelo;, completou. Pela primeira vez, após muito tempo de tratamento, Maria do Socorro se interessou por embelezar-se. ;Faz muito tempo que não passo nada no rosto. É difícil se sentir bonita e desejada durante um tratamento de quimioterapia. A boca fica seca, a sobrancelha cai. Às vezes chego aqui tão deprimida. Essas meninas trazem um novo ânimo para a gente.;
Quem está se curando do câncer garante que manter a autoestima é o segredo para suportar o tratamento pesado e se curar mais rapidamente. ;Faço acompanhamento há sete anos. Com a ajuda dos médicos e das meninas da rede resolvi levar uma vida normal. É essencial enfrentar o problema com beleza e bom humor, ao contrário a vida perde a graça;, aconselha Maria Alves Mota, 37 anos, moradora de Samambaia.
Eça Ney, 51, passou pelo ambulatório para se tratar de outra doença grave, nos rins, e aderiu ao tratamento de estética. ;Tem dia que parece que morri e não encontrei quem me enterrasse. Mas hoje eu sorri de verdade;, desabafou. ;Quem sabe agora eu encontro um namorado;, brincou.
Começo
Levar os cuidados às mulheres do Hospital de Base partiu da estudante Luísa Farani, 24 anos, moradora do Setor de Clubes Esportivos Sul, e mais três amigas: Antonia Dornelles, Maria Lydia Fontenele e Laura Pereira. As meninas procuravam uma forma de ajudar a quem precisa e a avó de Luísa sugeriu o apoio à Rede Feminina. ;Nós gostamos muito de moda e assuntos relativos à beleza, mantemos um site sobre esse assunto e pensamos em doar o que sabemos fazer. É importante para todo mundo ser paparicado um pouco, ainda mais para quem passa por um momento difícil;, explicou Luísa. ;Passe um batom na vida;, sugeria Maria Lydia às mulheres.
A Rede Feminina de Combate ao Câncer desenvolve várias outras atividades de apoio às mulheres que sofrem desse mal. Antes da presença das meninas, o grupo já promovia oficinas de beleza com um outro perfil havia oito anos. ;Damos também cortes de cabelo, escovas, além de maquiagem;, aponta Vera Lúcia Bezerra, coordenadora do projeto. Em 10 de maio, o grupo fará um bazar no estacionamento do Hospital de Base para vender roupas, utensílios domésticos, brinquedos e muito mais para quem frequenta o local, a preços populares. Além disso, todo mês pelo menos 250 cestas básicas são doadas a famílias nas quais as mulheres tiveram de abandonar o emprego para cuidar da saúde.
A voluntária Maria Lucília da Silva, 52 anos, fabrica próteses externas de pano para doar a quem não pode pagar pelo implante interno de seio, depois de uma cirurgia de retirada de mama. Ela também já passou por isso. Hoje, tenta colaborar como pode e fabrica mais de 200 todo mês. ;Algumas retiram todo o seio e não têm nenhum enchimento. Elas têm direito a uma protese pelo governo, mas demora muito;, explicou a coordenadora da Rede Feminina no DF, Maria Thereza Falcão. A insituição sobrevive de doações. ;As pessoas mais humildes são as que mais ajudam, talvez por também passarem pelas dificuldades. Precisamos muito da mobilização da sociedade. Quem quiser doar em dinheiro recebe o boleto em casa, na quantia que puder pagar. Os que preferirem dar alimentos, roupas e brinquedos também são muito bem-vindos e vamos buscar em casa;, concluiu Maria Thereza.
Rede feminina
A entidade foi fundada no Distrito Federal em 7 de outubro de 1996. Oferece visitas diárias aos quartos e enfermarias, cestas básicas, vale-transporte, passagens estaduais e interestaduais, kits de higiene, espaço de recreação para os pacientes, com vídeo e televisão, medicamentos e apoio jurídico e emocional.
Programação
10 de maio
Bazar beneficente
Local: Estacionamento do Hospital de Base, em frente ao pronto socorro.
Oportunidade
Telefone da Rede Feminina de Combate ao Câncer: 3364-5467
e 3315-1221.