postado em 08/03/2010 08:47
As estatísticas e informações sobre a epidemia de dengue que se espalha pelo Distrito Federal podem alertar a população sobre cuidados especiais para evitar o contato com o mosquito, mas não traduzem a sensação de ter o vírus circulando no organismo. Desde o começo do ano, 1.366 pessoas já sentiram na pele (e por todo o corpo) os incômodos que a doença pode causar. Mesmo quem apresentou sintomas mais brandos fez pequenas mudanças na rotina, para evitar uma segunda contaminação. O medo também existe entre os que vivem e trabalham em áreas de risco.A Vila Planalto virou bandeira da luta contra a dengue, já que concentra a maior quantidade de casos do Distrito Federal. Até o momento, são 407 casos confirmados, contra apenas um no ano passado. Segundo relatos dos moradores, o assunto domina as rodas de conversa e em todas as ruas há pessoas com histórias pra contar sobre a doença. A passagem do caminhão de fumacê virou motivo de comemoração. Ainda assim, a cidade sofre suas baixas. Dos cerca de 22 feirantes que montam suas barracas na praça Zé Ramalho, três sumiram e só pretendem voltar quando o surto estiver controlado. Na rua em frente à praça, moradores de quatro das nove casas já foram picados por mosquitos infectados.
A feira foi batizada em homenagem a um morador antigo da rua, o servidor público José Ramalho, 74 anos. Na família dele, poucos conseguiram passar ao largo da dengue. A esposa, dois filhos e dois netos manifestaram os sinais da doença. A mulher dele, Lina Gonçalves Ramalho, 71 anos, ainda está de cama, sem disposição. Segundo o marido, anda com trauma de mosquito. Para deixá-la mais tranquila, há cinquenta dias ele usa um inseticida em spray em todos os cômodos da casa.
;Isso não acaba não?;, questiona Lina Ramalho, deitada em um dos quartos. Ela diz que antes da doença tirava cochilos passageiros, mas agora é capaz de dormir por horas consecutivas. Reclama de pequenos ruídos e atribui a presença do mosquito Aedes aegypti a todos eles. ;Não aguento mais essa zoadinha;, queixa-se. Sem apetite, diz ter emagrecido cerca de cinco quilos. Também se desfez de todos os seus vasos de planta, para manter distância de qualquer foco de proliferação.
Dores
Moradora do Recanto Jaburu, na Vila Planalto, a dona de casa Maria Joana Quaresma, 39 anos, ficou de molho durante seis dias, por causa da dengue. Segundo ela, as piores sensações foram a dor de cabeça e a dor no corpo. ;Parece que um trator passou em cima de você. E a cabeça dói como se fosse uma ressaca de quem bebeu sete dias sem parar;, compara. Ela perdeu o apetite e também emagreceu.
Maria Joana viveu a fase dos sintomas à base de líquidos. Também doou todas as plantas, com vaso e tudo, a uma amiga. ;Nossa vida é muito corrida. Não tenho tempo para cuidar de plantas e evitar que juntem água;, contou. Recuperada do susto, ela diz temer apenas contrair o mal novamente, já que na casa de sua vizinha há três pessoas com as mesmas manifestações.
Temor e cautela no Lago
No Lago Sul, a doença também deixa seu rastro. Já são 22 casos confirmados em apenas três conjuntos da QI 28. Para escapar do contágio, cada morador da área recorre a uma solução. Uma semana depois de voltar de uma viagem à Bahia, as irmãs Andréia e Camila Dias, de 19 e 22 anos respectivamente, perceberam os primeiros sinais de dengue. Alguns dias depois, a mãe, Sueli Aparecida, também sucumbiu aos sintomas. Para evitar uma segunda infecção pelo mosquito, elas agora recorrem ao repelente de tardezinha. ;Também estamos mais atentos à água parada;, revela Andréia.
A poucas casas de distância, o empresário José Luiz dos Santos Anjo, 58 anos, viu a mulher e o filho serem vencidos pela dengue. ;Meu filho, um rapagão atleta de 23 anos ficou derrubado. E minha mulher está um bagaço;, relata ele. O filho, o administrador de empresas Vítor dos Santos Anjo já se recuperou, mas a mãe do rapaz, Santa Aparecida dos Santos Anjo, 51 anos, ainda sofre com as dores de cabeça, enjoos e febre alta. Até uma sobrinha que vive em Goiânia e ficou hospedada na casa durante o Carnaval contraiu a doença. Assustado com o avanço dos casos na região, José Luiz pediu ao pai, também morador da capital goiana, que não viesse visitá-lo em Brasília neste período.
Mas quem realmente mudou a rotina por causa da doença foi a servidora pública Ana Maria Miyamoto, de 42 anos. Depois de passar uma semana sem conseguir se levantar da cama, ela adotou o uso diário de repelentes de pele, repelentes de tomada e dos inseticidas em spray, aplicados em todos os cômodos da casa. ;Repelente virou algo diário, como tomar banho;, explica. A filha mais nova da servidora, de um ano e meio, só usa calça comprida quando está em casa, mesmo nos dias mais quentes.
Além dos sintomas tradicionais, o que mais a incomodou foi a prostração. A servidora relata que ia ao banheiro por obrigação e não saía do quarto sequer para comer. Nesse período, o marido teve que deixar de trabalhar para manter a casa em funcionamento e deixar as crianças na escola.
Curiosidades
Sintomas
De acordo com a chefe da clínica-médica do hospital Regional do Paranoá, Gilda Fonseca, as reclamações mais frequentes dos pacientes com suspeita de dengue são dores de cabeça, dores pelo corpo e febre. Perda de apetite, náuseas e diarreia são menos comuns. Também há relatos de coceiras pelo corpo. A manifestação mais rara é a tosse. Segundo a médica, ela quase só existe na literatura médica.
A orientação para casos mais brandos é a mesma: ingerir líquidos, boa alimentação e repouso. ;No caso da gripe, a gente recomenda repouso, vitamina C e cama. A regra da dengue também é simples assim;, relata. Casos mais graves, com sangramento das mucosas, devem ser tratados nos hospitais.
Tira-dúvidas
Inseticida spray mata o mosquito da dengue?
Existem dois tipos de inseticidas spray: os organofosforados, ou carbamatos, que matam, e os piretroides, que na realidade paralisam o mosquito causador da dengue. Deve-se, no entanto, utilizar com cuidado os inseticidas a base de organofosforados, substância que, em excesso, pode alterar o sistema nervoso.
O inseticida de tomada combate o mosquito da dengue?
Os repelentes elétricos são extremamente eficazes no caso do mosquito da dengue.
Ele pode ficar ligado durante as 24 horas do dia? E em um quarto fechado?
Os repelentes elétricos devem ser mantidos ligados 24 horas por dia, porque o mosquito da dengue pica também durante o dia.
O repelente do tipo espiral também combate o mosquito?
O espiral também combate o mosquito, mas com menor eficiência do que o elétrico.