postado em 09/03/2010 07:46
A epidemia de dengue que assusta o Distrito Federal há cerca de dois meses pode encontrar um novo ambiente para expandir. Começou ontem o semestre letivo da Universidade de Brasília e os alunos voltaram a um câmpus infestado de mosquitos Aedes aegipty, transmissores da doença. Para conter a reprodução dos insetos, há larvicida espalhado por todos os locais onde a água puder se acumular. ;Estamos no olho do furacão. A Vila Planalto, local com o maior número de casos, é nossa vizinha;, comenta a diretora de Saúde da Universidade de Brasília, Gilca Starling Diniz. Desde a semana passada, há suspeita de que seis servidores estejam contaminados. Já que moram e trabalham no câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, pelo menos dois deles teriam sido infectados dentro da própria UnB. O resultado dos exames ainda não está pronto.Para que não haja mais casos, dez homens da Prefeitura do câmpus foram treinados para combater os focos e aplicar o larvicida utilizado no processo, o Temefós. O treinamento foi feito por uma equipe de vigilância sanitária do Ministério da Saúde. A água é tratada com o Temefós e ténicos aplicam o UBV costal, espécie de fumacê (1) de menores proporções, acoplado às costas do profissional. Como a universidade é um centro entomológico (de pesquisa de insetos), a quantidade exalada pelo carro de fumacê poderia matar todos eles. Este método só pode ser utilizado em áreas remotas do câmpus, como a Casa do Estudante Universitário (CEU) e o Centro Olímpico (C.O.).
Infestação
Os dois locais, por sinal, estão entre os mais preocupantes de toda a UnB. No estacionamento da habitação de alunos, com 92 apartamentos com capacidade para quatro moradores cada, os contêineres estavam destampados e cheios de sacos de lixo. De acordo com o morador e estudante de química Elon Ferreira de Freitas, 24 anos, toda a região em volta dos prédios está completamente infestada por mosquitos. ;Quem quiser correr na trilha ou nadar no Lago Paranoá tem que atravessar esse mato cheio de mosquitos;, afirmou.
Também morador do CEU, o estudante de Física Alan Douglas Godinho, 22 anos, destaca que quem precisa usar os computadores localizados no térreo do prédio tem que conviver com as nuvens de mosquitos. Ele garante já ter visto o vetor da dengue voando em várias regiões do Instituto Central de Ciências (ICC), ou Minhocão. Mas há uma semana, lembra ele, a região recebeu a nebulização do carro de fumacê. Mais duas aplicações estão previstas.
Na ponta de um dos prédios do alojamento, uma montanha de entulho estava esquecida sobre a grama. ;Isso está sempre aí;, entrega Alan. A diretora de Saúde afirma já ter pedido a retirada do material. A poucos metros, no Centro Olímpico, as três piscinas interditadas para uma reforma acumulavam água das chuvas. Segundo Gilca Starling, o local já recebeu aplicações do larvicida e também tratamento com o UBV costal.
Além de poças, latinhas e restos de objetos, os homens empenhados no combate à dengue encontraram focos em lugares inesperados. Muitas raízes e forquilhas (locais onde a árvore se divide em duas) de árvores viraram reservatório de águas das chuvas. Muitas delas ainda exibem o pó branco do remédio que combate a larva do mosquito, aplicado recentemente. Os locais mais problemáticos são o prédio da Reitoria, a Biblioteca, o Multiuso e o ICC. Apenas no Restaurante Universitário e no Centro Comunitário não foram encontradas larvas ou mosquitos.
A ação da universidade, que começou a ser estruturada em 22 de fevereiro, pretende conter a dengue no câmpus com campanhas de sensibilização da comunidade universitária, manejo ambiental (eliminação de lixo, entulho, água parada), criação de malha assistencial e treinamento dos profissionais de saúde que atuam no local.
1 - Inseticida
Fumacê é o termo popular pelo qual é conhecido o UBV pesado, método de aspersão do produto que mata o mosquito transmissor da dengue. O equipamento que espalha o produto é acoplado à carroceria de uma caminhonete e libera cerca de 208 mililitros do inseticida por minuto. Para realizar o ciclo completo de tratamento, é preciso fazer cinco aplicações, uma por semana. O procedimento só pode ser feito entre as 18h e as 22h e entre as 6h e as 8h, quando as temperaturas são mais baixas e há menos vento.
Envie sua foto ou relato sobre possíveis focos do mosquito aedes aegypti para leitor.df@dabr.com.br.
Problema na Asa Norte
Em tempos chuvosos, a água parada é problema em todos os cantos do Distrito federal. Não muito longe da UnB, em um estacionamento da comercial da 715 Norte, a água das chuvas não escoa para a boca de lobo e forma gigantescas poças. ;Sempre que estoura um cano acumula tudo ali. A água passa dias empoçada, até secar sozinha;, afirma a professora Eliosétna Soares, 39 anos, que mora em um prédio em frente ao estacionamento. Ela afirma que uma vizinha já chegou a reclamar, mas nenhuma providência foi tomada.
Em Planaltina, uma das cidades que mais sofre com o avanço da doença, é comum encontrar vários doentes que são moradores da mesma rua. A copeira Sandra de Jesus da Silva, 33 anos, começou a perceber os sintomas há 15 dias. De tanto mal-estar, chegou a pedir duas vezes para ser internada. Sem apetite, emagreceu mais de cinco quilos. Nos arredores de sua casa, já são seis casos. Sandra ligou para a vigilância ambiental para cobrar uma visita ao local, mas o funcionário que a atendeu afirmou que a região recebia visitas normalmente. ;Sei que passam quase todos os dias no Vale do Amanhecer, mas por aqui ainda não vi agente ou carro do fumacê;, reclama.
Na casa em frente à de Sandra, o vigilante Rozonildo da Silva, 58 anos, ainda se recupera das feridas na pele que a doença lhe causou. Ele relata que não deixa água parada em casa, mas não sabe como os vizinhos agem. Segundo ele, há dois meses, a região não recebe visitas das equipes de combate à dengue. ;Do jeito que as coisas estão, tinham que passar direto;, opina.
Agenda
Confira a programação do combate à dengue no DF
De 8 a 13 de março
# Todos os agentes estarão atuando em suas próprias regionais. Eles farão visitas às casas, aplicarão remédios e farão a nebulização do UBV costal, o fumacê em proporções menores.
13 de março
# Agentes do Gama, de Taguatinga e de Ceilândia ajudarão os agentes locais a fazerem a recata no Paranoá, em Itapoã e em Arapuanga. Recata é o procedimento de revisitar casas que estiveram fechadas durante a primeira visita da equipe.
# No mesmo dia, os jovens evangélicos que se ofereceram como voluntários iniciarão a capacitação para conscientizar a população sobre dengue. O encontro será na Igreja Universal da 212/213 sul.
Sobre o mosquito
# Quando o mosquito aedes aegipty pica alguém doente, permanece infectado pelo resto da vida
# Ele costuma viver cerca de 30 dias
# Pode picar uma pessoa a cada 20 ou 30 minutos
# Os ovos do mosquito podem sobreviver por até um ano em ambiente seco
# O período entre a picada e o surgimento dos sintomas da dengue varia entre dois e sete dias