Cidades

Muitos eventos marcaram o Dia da Mulher no DF

Na Rodoviária do Plano Piloto, teve de desfile da terceira idade a distribuição de panfletos

Flávia Maia
postado em 09/03/2010 09:16
No Museu do Automóvel, mulheres passaram o dia de ontem aprendendo a mexer em veículosA felicidade vai além do batom e dos filhos. O dia a dia é mais complicado que as compras do supermercado e o trabalho no escritório. As tristezas não se resumem à tensão pré-menstrual (TPM) e à falta de compreensão masculina sobre o assunto. Cada dia mais complexas e exigentes, as mudanças de comportamento da mulher contemporânea refletiram nos diversos tipos de comemorações do dia dedicado a elas. As homenagens, ontem, foram além da tradicional distribuição de flores. Em Brasília, teve eventos diversos ; de curso de mecânica a desfile de moda da terceira idade na Rodoviária do Plano Piloto.

A diversidade nas comemorações mostra o que Joana Jesus de Oliveira, 63 anos, percebeu desde que passou a comemorar o Dia da Mulher. ;A festa tem ficado cada dia mais bonita;, conta a aposentada. Segundo ela, só depois que atingiu a maturidade, passou a comemorar a data. ;Tinha uma amiga que me convidou para uma festa e um diálogo sobre a mulher, só então comecei a conhecer e dar valor a esse dia;, lembra a ex-telefonista.

A maioria das mulheres não se recorda o ano certo em que a data realmente entrou no calendário de festas, mas que tem ficado cada vez mais especial. ;De uns quatro anos pra cá é que passaram a valorizar essa data e os homens têm se mostrado mais conscientes;, diz Isaudi Lustosa, 50 anos. ;Meu genro até ligou para me dar os parabéns. Esse é um dia bonito, que podia ter mais vezes;, completa a esteticista.

Isaudi coloriu a data pegando uma rosa enquanto passava pela Praça do Relógio, em Taguatinga. Foram distribuídas 10 mil durante todo o dia. Porém, não foram todas que passaram por lá que se mostraram satisfeitas com os avanços masculinos. ;De zero a 10, dou três para os homens. Têm que melhorar mais;, pontua a autônoma Márcia Cristina, de 36 anos, que ajudava na distribuição das flores.

Concentração
Além de Taguatinga, o Guará e Arapoanga, em Planaltina, também prestaram suas homenagens às mulheres, com cursos e palestras. Mas a Rodoviária do Plano Piloto, por onde passam 500 mil pessoas diariamente, concentrou os mais diversos tipos de homenagem, de distribuição de cartilhas sobre a lei Maria da Penha (leia O que diz a lei) e doenças sexualmente transmissíveis (DST) a um desfile de moda de idosas, com direito a música e a poesia, como a de Judson Seraine, que em poucas palavras traduziu o que pensa das mulheres. ;A força feminina é de forma tamanha que só comparo com o poder da fé, que como mágica remove montanhas;, ressaltou Vô Judson, como é conhecido.

Mulheres que viveram em um século de grandes mudanças em relação ao papel delas na sociedade exibiram toda a sua feminilidade na Rodoviária. ;As mulheres idosas são muito mais participativas que os homens, por isso essa festa;, constata Janet Azevedo, presidente do Conselho do Idoso do Distrito Federal.

Maria José Lélis de Sousa, 74 anos, estava entre elas. Ela esbanjou charme e elegância no vestido vermelho e com a maquiagem de lápis azul combinando com a cor dos olhos. Segundo ela, só aos 60 anos, quando os colegas de trabalho a homenagearam em 8 de março, é que ela passou a comemorar a data (veja Para saber mais).

A aposentada festejou com o brilho de Miss Terceira Idade do DF. Além de puxar o desfile na passarela montada próxima à estação do metrô, Maria José convidou quem passava por lá a dançar com ela e com as amigas. ;Vivi primeiro para o meu marido, me divorciei e passei a viver para os meus filhos. Agora, vivo para mim, por isso quando me perguntam se eu gostaria de ter 20 anos a menos, digo que não;, afirma.

"A força feminina é de forma tamanha que só comparo com o poder da fé, que como mágica remove montanhas"
Vô Judson Seraine

Para saber mais
Histórias de lutas

Ao contrário do que muita gente imagina, o 8 de março não foi a única data escolhida como o Dia da Mulher. As mulheres foram homenageadas em outros dias no calendário, como 19 de março e o último domingo de fevereiro. A data de 8 de março foi escolhida oficialmente em 1975 pelas Organizações das Nações Unidas. O dia tornou-se emblemático por causa da repressão policial contra as mulheres que protestavam por melhores condições de trabalho em uma fábrica de Nova York, em 1857. Virou data-símbolo de manifestações femininas, como a força única por direitos trabalhistas em 1859 e a manifestação de 15 mil mulheres em Nova York, em 1908. Em 25 de março de 1911, no mesmo estado americano, trabalhadores, entre eles mulheres e crianças, morreram em um incêndio na companhia Triangle Waist Company. Após os relatos desesperados e as histórias das condições subumanas a que eram submetidos na fábrica, a revolução começava a dar voz e direito às pessoas, principalmente para as mulheres. (FM)

O que diz a lei
Mais rigor na punição

A Lei n;11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, guarda em seu nome uma homenagem à cearense que ficou paraplégica depois de várias agressões cometidas pelo marido. A biofarmacêutica Maria da Penha Maia não se conformou com os únicos dois anos de detenção que o marido cumpriu e apelou à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos para que a violência fosse devidamente penalizada. Logo depois, o Brasil sancionou a legislação que reconhece a gravidade dos casos de violência doméstica contra a mulher e retira dos juizados especiais criminais ; que analisam crimes de menor potencial ofensivo ; a competência para julgá-los. Além disso, a lei tipifica as formas da violência como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral e proíbe a substituição de pena por pagamentos de multas e serviços à comunidade. (FM)

Idosas desfilaram todo o seu charme e elegância na Rodoviária do Plano Piloto para lembrar a dataDe olho na mecânica
Lugares exclusivamente masculinos não existem mais no dicionário feminino. Não há piadinha que sobreviva à vontade das mulheres de aprender e conquistar o seu espaço. Por isso, nada mais coerente que um curso de mecânica de carros como presente no dia 8 de março. Realizado pelo Museu do Automóvel, no Setor de Garagens Norte, o curso já tem 17 matriculadas que não querem mais ser enganadas pelo discurso malandro de alguns mecânicos.

;Só sei que ninguém mais vai me passar a perna;, conta, satisfeita, Andréa Viana da Silva, 25 anos. Ela e outras duas colegas ganharam o curso do chefe da concessionária onde trabalham. ;Enquanto a gente está aqui no curso, hoje (ontem), os homens estão trabalhando;, diz Thariana Oliveira Silva, 25 anos.

Elas contam que a paixão com os veículos nasceu, em muito, depois do trabalho na concessionária. ;Eu faço o teste e entrego os carros, e adoro o que faço. Tem gente que acha que esse tipo de serviço mulher não faz, mas com esse conhecimento de mecânica, vou reforçar e melhorar meu trabalho;, acredita Luciana Albuquerque, 23 anos, colega de Andréa e Thariana.

Ansiosas
As três tiveram aulas com o professor Kefere Lúcio da Rocha e esperam ansiosas a aula de motor, que deve acontecer mais para o fim da semana. ;Eu não sei nada de motor e quero muito aprender;, diz Andréa. Kefere elogiou as alunas e o público feminino. ;Das turmas que eu ministro, com média de 15 alunos, seis, sete são mulheres e se saem bem;, calcula.

Para prestigiar o público feminino, o Museu do Automóvel, além do curso, ainda está com uma exposição com a presença de Mercedes, Giulietta, Giulia, Isabella, Julia Mc Laren e Chevrolet Marta Rocha, todos carros cujo nome homenageiam mulheres. (FM)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação