Renato Alves
postado em 10/03/2010 07:40
O comandante do 16; Batalhão da Polícia Militar de Goiás, sediado em Formosa, e mais sete subordinados foram afastados das funções. Eles são suspeitos de integrar um grupo de extermínio que age na região do Entorno. As vítimas mais recentes seriam um jovem assassinado com 28 tiros e outros três desaparecidos em 26 de fevereiro, nas cidades de Flores e Alvorada do Norte, situada a mais de 200km de Brasília.O comandante-geral da PM goiana, coronel Carlos Antônio Elias, afastou o comandante do 16; Batalhão, major Ricardo Rocha Batista, e os demais militares após pedido do Ministério Público estadual. O documento foi assinado e entregue pessoalmente pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Abdon Moura, na manhã de ontem. ;Trata-se de medida absolutamente necessária e adequada às investigações em curso pelos fatos ocorridos na comarca de Alvorada do Norte;, afirmou Moura.
Situação grave
Além do caso mais recente, o procurador-geral destacou a série de reportagens do Correio, iniciadas em maio do ano passado, que associam o major Ricardo a grupos de extermínio em Formosa e Rio Verde. ;A situação é extremamente grave e vem sendo acentuada pelos recentes eventos ocorridos em Alvorada do Norte, cuja investigação aponta, uma vez mais, para a participação de policiais militares que estariam vinculados ao oficial major Rocha ou por ele comandados;, observou Moura.
Além do major, foram afastados o tenente Flávio de Paula Pinto, os sargentos Wanderley Ferreira dos Santos, Gerson Marques Ferreira e Gilson Cardoso dos Santos e os soldados Francisco Emerson Leitão de Oliveira, Ederson Trindade e Lourival Torres Inez. Todos são suspeitos de executar o operador de máquinas Higino Carlos Pereira de Jesus, 24 anos. Ele foi retirado de casa, na noite de 24 de fevereiro, e seu corpo encontrado com 28 tiros na madrugada, à margem da GO-144, que liga Alvorada do Norte a Flores. Dois dias depois, sumiram três amigos de Higino, levados por PMs, segundo testemunhas. Os militares afastados do trabalho ficam à disposição da Corregedoria da corporação.
; Major denunciado por chacina
No documento entregue ao comandante-geral da PM goiana, o procurador-geral de Justiça de Goiás, Eduardo Abdon Moura, destacou ainda que o major Ricardo Rocha foi denunciado pelo Ministério Público por participação em uma chacina com cinco mortes e por crime de pistolagem, há sete anos. Tudo quando ele era o subcomandante da PM em Rio Verde, no Sudoeste goiano. Logo após as mortes em série, Rocha foi transferido para Goiânia, onde comandou as Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) entre 2003 e 2005. Época em que a PM mais matou na capital.
De 6 de março de 2003 a 15 de maio de 2005, foram registrados 117 homicídios em Goiânia cuja autoria é atribuída a PMs, a maioria da Rotam. Das 117 vítimas, 48,7% (57 pessoas) não tinham ficha criminal. Outras 60 (51,3%) eram foragidas da Justiça ou acusadas de algum crime. Em meio à investigação do MP sobre esses casos, o major voltou a Rio de Verde. Em seguida, foi para Formosa. Desde então, PMs do 16; Batalhão são investigados por matar (1) 15 pessoas em menos de dois anos. Para promotores de Justiça, as ações têm características de grupo de extermínio.
Reduto eleitoral
Formosa é a terra natal e a base eleitoral do secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, deputado estadual pelo PP e pretenso candidato a deputado federal. Foi o próprio Roller quem nomeou o major Ricardo Rocha para assumir o 16; Batalhão. Sobre as mortes em série na sua cidade e em Alvorada, Roller não fala. Mas na época da série de reportagens do Correio sobre a matança promovida pelos militares subordinados a Ricardo Rocha, Roller esteve em Formosa e, em solenidade pública, teceu elogios ao trabalho do major. O oficial também tinha amplo apoio dos fazendeiros da região que compravam e faziam manutenção dos carros da Polícia Militar.
A ação de um esquadrão da morte é uma das linhas de investigação da Polícia Federal para o misterioso desaparecimento de seis jovens moradores de Luziânia, a 66km de Brasília. Sobre essa suspeita, Roller diz que haverá punição exemplar caso ela se confirme.
1 - Pistolas
PMs admitem ter tirado a vida de 10 das 48 pessoas assassinadas em 2008 em Formosa. Outros cinco casos ocorreram no segundo semestre de 2007. A maioria das vítimas não respondia por delitos graves e morreu com ao menos um tiro na cabeça. Em dezembro de 2008, jovens e adolescentes acabaram executados com tiros na cabeça por homens encapuzados. Outro caso igual ocorreu em fevereiro de 2009. Em todos, os autores usaram pistolas, armas idênticas às restritas à polícia.