Cidades

Riscos da dengue são ignorados

Na Vila Planalto, onde foram confirmados 428 dos 1.541 casos da doença no DF, é possível ver lixo exposto e água parada em algumas áreas

postado em 10/03/2010 07:42
Agente de vigilância ambiental, Guanair também contraiu a doençaEm todo o Distrito Federal, o lugar onde a dengue faz mais estragos está entre o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, e a Esplanada dos Ministérios, centro do poder nacional. Neste nobre endereço, 428 pessoas já sofreram com os sintomas da doença, apesar das sucessivas visitas da equipe que combate à epidemia. A Vila Planalto é a única a ter uma morte em decorrência da dengue confirmada e lidera o ranking de infecções pelo mosquito Aedes aegypti. A segunda colocada, Planaltina, tem 249 notificações confirmadas esse ano. Até agora, 1.541 moradores do DF contraíram a doença.

Assustados, os moradores da Vila Planalto começam a mudar os hábitos, se desfazendo de objetos inúteis guardados no quintal e até se livrando das plantas. Mas uma caminhada pelas ruas da cidade revela que água parada e lixo exposto, condições ideais para a proliferação do mosquito, não são coisa do passado. Em uma área descampada, carroceiros depositavam ontem restos de obras. Mas quem passa pela área percebe que há novos aglomerados de lixo, contendo embalagens de alimentos, garrafas de bebidas e os mais diversos itens domésticos.

Para o secretário de Saúde, Joaquim Barros, o problema é a resultante entre características urbanas da Vila Planalto, hábitos antigos dos moradores e descuido por parte do poder público. ;A Vila Planalto mescla características rurais e urbanas. Um hábito interiorano que persiste é guardar muitos utensílios não utilizados em volta de casa;, explica. Outro fator, segundo ele, seria a disposição das casas. Por serem muito próximas umas das outras, permitiriam a livre circulação do mosquito.

Construções próximas
O secretário também ressalta que o trabalho de prevenção não foi feito de forma satisfatória, antes que o problema se instalasse. A coordenadora da Divisão de Vigilância Sanitária responsável pela Vila Planalto, Ildeci Silva, reforça que os moradores têm o hábito de guardar pratinhos de planta com água, tonéis, caixas d;água e ralos destampados. ;Praticamente todas as casas em que a gente entra têm um pneu, latas ou restos de obra que poderiam ser descartados;, revela. Outro problema frequente, aponta a coordenadora, é a construção de muitas casas no mesmo lote. Em muitos deles, todos os moradores já contraíram o vírus da dengue.

Mas de todas as hipóteses possíveis para que o bairro tenha se transformado em um criadouro do mosquito a céu aberto ganha força a teoria de que a população não vem contribuindo. Um funcionário da área de limpeza da cidade, que preferiu não se identificar, afirmou que os moradores dificultam o trabalho, resistem às orientações dos agentes de vigilância ambiental e não querem se livrar dos objetos que acumulam água. ;Mesmo depois de todo o trabalho, ainda há muita sujeira no quintal das residências;, assegurou.

A administradora de Brasília, Eliana Klarmann, diz que duas operações de limpeza já foram feitas no bairro, mas, em pouco tempo, o entulho volta a se juntar nos mesmos lugares. ;Não adianta nada tirar o lixo e ele ser encontrado no mesmo local. Os órgãos do governo se unem, mas precisam cobrir uma área muito grande com suas operações. Quanto menos lixo, mais eficiente será o trabalho da coleta;, explica. Antes de recolher os entulhos em caminhões-caçamba, a administração distribuiu, em toda a região, folhetos com orientações para combater a doença e descartar o lixo.

Carroceiros jogam lixo em uma área descampada da Vila Planalto. No local, crianças brincam sem se dar conta do perigo que corremAções diversas
Desde o começo do ano, a Vila Planalto já foi alvo de várias operações de combate à dengue. As casas são constantemente visitadas por agentes de vigilância ambiental, que tratam os focos e dão orientações sobre a doença. Em todos os reservatórios de água encontrados, o larvicida é aplicado. Para combater o mosquito, os carros de fumacê já fizeram o ciclo completo de tratamento, aplicando o inseticida em cinco ocasiões diferentes. Como muitos mosquitos ainda foram encontrados, a Divisão de Vigilância Ambiental decidiu fazer mais três aplicações com carros de fumacê. A última será amanhã. As visitas de casa em casa continuam.

Mas as ações de combate não livraram Guanair Florentino da Silva, 37 anos, da doença. No fim de janeiro, ele sofreu com todos os sintomas atribuídos à dengue durante 15 dias. Ironicamente, ele é agente de vigilância ambiental lotado em São Sebastião, mas mora na Vila Planalto. Afirma que muitos colegas são vítimas do mosquito, por estarem constantemente expostos a ele durante o trabalho. Apesar disso, acredita ter contraído o vírus em casa. ;Meu vizinho mexe com reciclagem e todas as vezes que os agentes passam por lá encontram algum foco;, explica.

Os agentes de vigilância ambiental ameaçam entrar em greve se não tiverem as reivindicações atendidas pelo governo. Eles esperam ser recebidos pelo governador em exercício, Wilson Lima, ainda hoje. Têm assembleia marcada para amanhã, às 10h. Os funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) que ajudarão na força-tarefa de combate à dengue já começaram o treinamento, mas ainda não há data para a incorporação dos 200 militares das Forças Armadas, que reforçarão as ações por cerca de 45 dias. O concurso para preenchimento de 500 vagas de agente de vigilância ambiental ainda não foi liberado. Dois carros de fumacê emprestados pelo Ministério da Saúde devem aumentar a frota, atualmente com 10 veículos, ainda esta semana. (MM)

Os cuidados
# Mantenha os pratinhos que ficam sob os vasos de planta cheios de areia;
# Pneus velhos devem ser furados, para evitar acúmulo de água;
# Caixas d;água devem ser lavadas periodicamente e mantidas sempre com tampa;
# Garrafas vazias devem ser guardadas com gargalos para baixo, em lugares cobertos e sem tampa;
# Os recipientes descartáveis devem ser colocados em sacos de lixo e recolhidos pelo lixeiro;
# O lixo nunca deve ser atirado em terrenos baldios, ruas ou calçadas;
# Bebedouros de animais precisam ser lavados e a água deve ser trocada constantemente;
# Evite acumular água. Se for essencial, mantenha o reservatório limpo e sempre fechado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação