Naira Trindade
postado em 10/03/2010 07:47
Um mês após a autorização do Ministério da Justiça para que a Polícia Federal apoiasse a Polícia Civil de Goiás nas investigações sobre o misterioso desaparecimento de seis jovens de Luziânia ; distante 66km de Brasília ;, as mães permanecem sem notícias do paradeiro dos filhos. Em 30 dias, federais confeccionaram dois retratos falados, recolheram materiais genéticos das mães para uma suposta necessidade de reconhecimento dos filhos e incluíram os nomes dos jovens no banco de dados da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal). Com poucos avanços, os investigadores refazem os últimos passos dos adolescentes à procura de pistas e convidam amigos, conhecidos e familiares a irem à 5; Delegacia Regional de Luziânia prestar depoimentos que possam ajudar nas buscas.As investigações sobre o mistério que envolve os desaparecimentos parecem não parar. Policiais entram e saem das delegacias responsáveis pela apuração a todo o momento. Checam todas as ligações e não deixam passar nenhuma suposta pista. Alguns chegaram até a visitar outros estados, como Minas Gerais e Bahia, a fim de confirmar denúncias anônimas ligadas a trabalho escravo. No entanto, desvendar o segredo que envolve os casos parece bem mais complexo. Durante a tarde de ontem, policiais civis do Distrito Federal se reuniram com policiais goianos e federais. Eles já colaboraram com a produção de quatro retratos falados, dentre os quais são descritos um homem negro, outro marcado com uma tatuagem no rosto e uma mulher.
A Polícia Federal recebeu a autorização para começar a apurar os casos após 25 dias da abertura do inquérito, quando, com a presença das mães no Ministério da Justiça, o então ministro Tarso Genro anunciou que o secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, havia aceitado a inserção da PF no caso.
O delegado de combate ao crime organizado da PF, Hellan Wesley Almeida Soares, foi nomeado para colaborar com as investigações. Ele comandou a Operação Sete Erros (1) que, em 2007, desmantelou uma quadrilha acusada de manter um esquema de entrada sistemática de grandes quantidades de mercadorias estrangeiras no país. Produtos de informática, sem o pagamento dos impostos devidos pela importação, eram revendidos sem notas fiscais na Feira dos Importados.
Hoje, o drama de Cirlene Gomes de Jesus, 42 anos, de aguardar por notícias do filho George dos Santos, 17, completa dois meses. ;São mais de 60 dias de pesadelo;, resume. Durante todo esse tempo, a mãe que se embrenhou mato adentro procurando pelo corpo do filho guiada por urubus não desiste. ;Todos os dias, de tardinha, eu venho até a varanda na esperança de que ele vai voltar;. ;Já perdi um irmão, o pai, mas nunca senti essa dor. A angústia de não saber o que aconteceu, se está vivo ou morto, me sufoca;, conta a dona de casa, que teve toda a rotina alterada há dois meses.
Em análise
Um corpo carbonizado encontrado no domingo de carnaval pelos policiais de Luziânia está recolhido no Instituto de Medicina Legal (IML) de Goiânia para ser periciado. Aparentemente um homem jovem, o indivíduo teria sido colocado dentro de pneus de carro e alguém teria ateado fogo nele. Por serem altamente inflamáveis, os pneus queimaram rapidamente sem deixar muitas pistas. As chamas na Rodovia GO- 010, que liga Luziânia a Cristalina, chamaram atenção de pessoas que passaram pelo local e que teriam denunciado o caso à polícia. Quando os PMs chegaram não havia mais ninguém.
Policiais acreditam que o corpo seja de um homem de aproximadamente 30 anos. Alguns investigadores que estiveram no local garantem ter identificado barba no queixo da vítima, parte que não estaria tão queimada. No entanto, o titular do Departamento Judiciário de Goiás, delegado Josuemar Vaz de Oliveira, não considera possível descartar nenhuma hipótese porque o corpo estaria muito deteriorado. ;Não dá para fazer especulações sobre barba. O corpo estava muito queimado. Os peritos recolheram material e vão analisar. Temos que esperar o laudo pericial;, ponderou o delegado.
1 - Cerco fechado
O esquema ilegal da quadrilha de libaneses durou pelo menos durante o período de janeiro de 2004 a novembro de 2007, segundo a polícia. Nas investigações da PF, que duraram cerca de um ano, apurou-se a existência de crimes de formação de quadrilha, descaminho, facilitação ao contrabando, violação de sigilo funcional e lavagem de dinheiro. A família de libaneses que controlava nove bancas de venda de produtos eletrônicos de alto valor agregado na Feira dos Importados foi detida.