postado em 10/03/2010 08:50
Alimentos em bom estado que teriam o lixo como destino ajudam a servir a mesa de mais de 150 famílias, em Ceilândia. O programa Desperdício Zero, na Feira do Produtor, no P Norte, existe há oito anos e incentiva os 386 feirantes a doarem para a comunidade frutas, legumes e verduras próprios para consumo humano, mas sem condições de serem vendidos em mercados devido a pequenos estragos. Na tarde de ontem, o reconhecimento veio. O projeto ganhou o Prêmio Betinho ; Atitude Cidadã(1), concedido pela Rede Nacional de Mobilização Social, de melhor projeto social do Distrito Federal. A coordenadora, Joana Guedes, recebeu um troféu em nome de todos os participantes da ação.O programa foi escolhido em votação na internet com mais de 15 mil votos, distribuídos entre três concorrentes do DF indicados por um conselho da instituição. Somente uma pessoa por unidade da federação recebe a honraria. ;Não sabemos quem nos indicou. Mas tudo que a gente faz é de coração, porque realmente gosta. Foi muito importante vermos que o trabalho está rendendo frutos;, comemorou Joana.
Todo mês, pelo menos 150 famílias do DF e DO Entorno recebem as doações na feira. Cada um leva para casa, a cada 15 dias, 20kg de vegetais. Antes, tudo isso ia parar no lixo. Agora, os voluntários da Associação de Feirantes, Produtores Rurais e Atacadistas de Ceilândia e Entorno (Afeprace) inspecionam e higienizam os alimentos e os entregam a quem não tem o que comer. ;A gente via pessoas catando os restos da feira no lixo e percebemos que com um pouco de seleção seria possível oferecer as sobras com qualidade. Todos colaboram hoje em dia;, disse Joana.
Depois da seleção, as cestas compostas por hortifrutigranjeiros variados como pepino, repolho, cenoura, quiabo, pimenta, batata, goiaba e abacaxi são embalados em um saco de náilon. Os interessados preenchem um cadastro, em um box da Feira do Produtor. Após levarem documentos como identidade, CPF e comprovante de residência, os candidatos recebem uma visita da coordenadora para checar as informações sobre a moradia e condições financeiras. ;Damos para quem realmente precisa. A prioridade é para famílias com muitos filhos, pessoas doentes e desempregadas;, explicou Joana. O projeto atende ainda instituições carentes, como creches e asilos, e mantém uma escolinha de futebol gratuita voltada para os filhos dos beneficiados.
Saúde
Quando começou a comer as verduras e frutas doadas pelos produtores, Aline Marques, hoje com 7 anos, era um bebê. Cresceu forte e saudável com a ajuda dos nutrientes retirados de muitos vegetais. A cada duas semanas, ela faz questão de ir com a avó, Terezinha Marques, 65 anos, ao galpão do Desperdício Zero para buscar goiabas, bananas e uvas, suas frutas preferidas. ;Sempre faço sopa de legumes para minha neta, os dois irmãos pequenos dela e minha filha. Da cenoura, faço um bolo delicioso. É tudo de qualidade;, relatou Terezinha. ;Isso acode muita gente. Tem cinco pessoas na minha casa, todo mundo come e ainda divido com os parentes.;
;Ganhamos muito pouco. A doação traz, além de barriga cheia, saúde para a nossa vida;, constatou a avó. Maria da Conceição do Amaral, 53 anos, concorda com Terezinha. Vende balas em uma parada de ônibus em Ceilândia e mal consegue pagar o aluguel com a renda. ;Nunca ia conseguir pagar por uma fartura dessas. Tem dois anos que como do bom e do melhor;, destacou.
1 - Exemplo de solidariedade
O prêmio busca valorizar as pessoas que se engajam, diariamente, na luta contra a fome e na promoção da cidadania. A ideia é que essa premiação seja um estímulo para que todos encontrem sua forma de participação na sociedade. A inspiração vem do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que morreu em 9 de agosto de 1997 e é referência na luta pela cidadania. O prêmio está na 13; edição.
COLABORE
Quando há vagas, a associação cadastra novos beneficiados. Acompanhe as datas de inscrição para receber a ajuda pelo telefone: 3581-1122.