A carne e o feijão, itens rotineiros na mesa do consumidor, puxaram uma redução no valor da cesta básica em Brasília em fevereiro deste ano. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo médio mensal dos gêneros alimentícios que compõem a cesta recuou de R$ 231,13, em fevereiro do ano passado, para R$ 216,89 no mesmo mês em 2010, uma queda de 6,16%. A diminuição no custo total deveu-se especialmente a um achatamento de 35,97% nos preços do feijão e de 13,13% nos da carne no período.
;São dois produtos muito importantes, com destaque para a carne. Para se ter uma ideia, ela representa 30% do custo total da cesta. Portanto, qualquer variação mínima no preço da carne terá reflexo no custo total;, explica Clóvis Scherer, supervisor do escritório regional do Dieese no DF. O feijão, embora não esteja entre os três produtos que mais influenciam no valor da cesta ; carne, pão e tomate, nessa ordem ; é considerado representativo por ser largamente consumido pelos brasileiros.
O valor da cesta também recuou 2,4% em Brasília no primeiro bimestre de 2010 frente ao mesmo período de 2009. Neste caso específico, a queda nos preços da batata (11,44%) e da banana (10,89%) foi a principal responsável. Entretanto, a carne (recuo de 1,78%) e o feijão (0,34% mais barato) também tiveram redução de preços no intervalo.
De acordo com Clóvis Scherer, os dois produtos reverteram, de 2009 para cá, uma tendência de alta que haviam cravado em anos anteriores. O feijão teve forte alta nos dois últimos anos após ter a safra afetada por problemas climáticos em 2008, o que ocasionou quebra baixa nos estoques. Já a carne ficou escassa e com os preços elevados em 2007 e 2008, ainda como um reflexo da epidemia de febre aftosa que atingiu rebanhos em 2006.
Contribuiu ainda para o barateamento dos dois produtos e de outros itens da cesta básica, uma acomodação nos preços dos gêneros alimentícios pós-crise econômica, com normalização das exportações e da oferta no mercado interno. ;A tendência é de estabilidade. Mas como alimentos são muito suscetíveis a questões climáticas, nunca fazemos previsões sobre cesta básica;, diz Scherer.
Para o economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília e membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), os preços mais estáveis dos alimentos neste início de ano com relação a 2009 podem sinalizar uma normalização pós-crise, mas é necessária uma observação a longo prazo para avaliar melhor. ;É preciso cuidado ao olhar os meses de início de ano, que sempre são atípicos, seja por questões climáticas, seja pela dinâmica econômica;, afirma.
Promoções
A redução no custo da cesta básica detectada pelo Dieese entre 2009 e 2010 não foi sentida pelos consumidores nas gôndolas de supermercados do DF. A dona de casa Gracy Oliveira, 72 anos, afirmou que a impressão que tem a cada compra é de que os produtos ficaram mais caros. ;Para pagar mais barato, só correndo atrás do que está em promoção mesmo;, disse.
O empresário Agildo de Souza Vilaça Júnior, 38 anos, proprietário de restaurante e todos os meses compra uma quantidade razoável de carne, acredita que os preços, desde o ano passado, se mantiveram estáveis.
A funcionária pública Nicé Maria Xavier, 57, afirmou que também recorre às promoções e opta por marcas mais baratas para pagar menos pela compra do mês.
Imprevisível
Uma instabilidade na safra do tomate causou um aumento de 1,13% no valor da cesta básica em fevereiro deste ano com relação a janeiro no DF. O produto foi severamente atingido pela diminuição das chuvas e pelo aumento do calor, o que resultou em perdas na colheita. Em razão disso, o preço do item subiu 31,32% no período em Brasília. O custo da hortaliça aumentou em 14 das 16 capitais onde o Dieese realiza a pesquisa da cesta básica.
;Foi um problema absolutamente pontual. Não fosse o tomate, a cesta básica no DF poderia ter caído em fevereiro, como ocorreu em janeiro;, disse Clóvis Scherer. No primeiro mês deste ano, o valor da cesta básica no Distrito Federal caiu 3,89% com relação a dezembro.
Vilões e mocinhos
Sobe desce
Açúcar: 40,85%
Feijão: - 35,97%
Batata: 28,22%
Carne: - 13,13%
Banana: 19,15%
Tomate: - 7%
Manteiga: 1,19%
Arroz: - 4,85%
*Fonte: Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese)