Cidades

STJ suspende leilão de fazenda

postado em 10/03/2010 09:02
Uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu na noite de ontem a venda judicial de uma fazenda milionária do empresário Wagner Canhedo, ex-proprietário da Vasp, empresa aérea cuja falência foi decretada em setembro de 2008. O leilão estava marcado para as 10h de hoje, em São Paulo, e havia sido autorizado pela Justiça do Trabalho para o pagamento de parte das dívidas trabalhistas acumuladas em ações movidas por ex-funcionários. O valor total das indenizações chega a R$ 1,5 bilhão.

Wagner Canhedo, ex-dono da Vasp, acumula dívida de R$ 1,5 bilhãoA decisão foi concedida pelo ministro Fernando Gonçalves. Para ele, o processo apresenta ;inúmeros vícios a macular a adjudicação da fazenda;. A propriedade ocupa um espaço de 130 mil hectares no município de São Miguel do Araguaia (GO), a 680km de Brasília, e é avaliada em R$ 615,3 milhões. Tem 304 pontes, dois viadutos, duas casas de alto padrão, 75 mil cabeças de gado, estádio de futebol, pista de pouso, hangares, caminhões e tratores. O lance mínimo para arrematar a área rural seria de R$ 370 milhões. Pelo menos quatro interessados já tinham visitado a fazenda.

Ações prosseguem
A suspensão do leilão não evita que continue a execução contra outras empresas do Grupo Canhedo Azevedo. As ações devem prosseguir até que a dívida com os trabalhadores da Vasp seja zerada, o que pode, inclusive, mexer com a realidade econômica de Brasília. A família Canhedo é dona da Viação Planalto (Viplan), a maior empresa de ônibus do Distrito Federal, e do Hotel Nacional, o primeiro hotel de luxo da cidade. A Brata Brasília Táxi Aéreo e a Wadel Transportadora também pertencem ao grupo. Vários ônibus da Viplan já foram penhorados. Por ora, a execução da empresa está suspensa.

Afundada em dívidas desde a década de 1990, a Vasp deixou de operar em janeiro de 2005. Com a falência decretada, o Grupo Canhedo passou a protagonizar batalhas judicias na tentativa de livrar bens e empresas da família. O leilão marcado para hoje era resultado de um acordo fechado em 2005 com sindicatos de aeronautas e de aeroviários e com o Ministério Público do Trabalho. Na ocasião, Wagner Canhedo abriu mão da Piratininga e de outra propriedade rural, que também deve ser leiloada.

Memória
Ações recorrentes

A família Canhedo Azevedo tem problemas recorrentes com a Justiça. Em dezembro de 2005, Wagner Canhedo Filho foi condenado a um mês e cinco dias de prisão por crime de desobediência. A condenação se deu porque a Viplan, da qual ele é acionista majoritário, descumpriu duas decisões judiciais referentes à venda de passes estudantis. O empresário conseguiu pena alternativa.

No ano seguinte, o mesmo Canhedo Filho foi o recordista em multas da Operação Cerrado, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com o Ibama de Goiás. Dos R$ 662 mil aplicados em multas, R$ 421 mil foram para a Fazenda Piratininga, a que deveria ser leiloada hoje.

Em setembro de 2007, uma ação de despejo pegou de surpresa 300 hóspedes do Hotel Nacional, administrado pelo Grupo Canhedo, que não pagava pelo uso do espaço havia mais de três anos: o débito chegava a R$ 30 milhões. No mesmo dia, a família conseguiu uma liminar e o hotel voltou a funcionar.

Ainda em 2007, Wagner Canhedo, o pai, ficou preso por algumas horas acusado de porte ilegal de armas. Das seis apreendidas com ele, uma era de uso exclusivo do Exército. Em maio do ano seguinte, Canhedo Filho ficou nove horas preso por causa da dívida trabalhista da Vasp. Quando a Justiça determinou a penhora de 30% do faturamento bruto do Hotel Nacional, o empresário foi designado como fiel depositário. Como o pagamento exigido não era feito havia sete meses, a prisão foi decretada.

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