postado em 11/03/2010 07:18
; Flávia MaiaEspecial para o Correio
Uma escola aonde nem a regional responsável ; a de Samambaia ; sabe explicar como se chega, cujo endereço no site da Secretaria de Educação do Distrito Federal é impreciso e mais atrapalha que ajuda, parece ser o símbolo do descaso dos órgãos públicos. Essa é a realidade do Centro de Ensino Fundamental Myriam Ervilha, que tem 2 mil alunos. Abandonada pela Secretaria de Educação e pelo Batalhão Escolar, a escola localizada entre Samambaia e Santo Antônio do Descoberto (GO), no Setor Habitacional Água Quente (1), enfrenta sérios problemas de infraestrutura e segurança.
Além de uma água de mina misturada com fossa que molha o colégio todos os dias, o Myriam Ervilha tem sido alvo constante de assaltos à mão armada. Com facas e armas de fogo, menores vêm amedrontando pais, alunos, professores e servidores da escola. Na segunda-feira, chegaram ao ponto de levar o laptop do professor de educação física enquanto ele dava aula. ;Aqui é o caos e a viatura só chega depois que tudo já acabou;, queixa-se a também professora de educação física Sofia Germana Cardoso.
O centro de ensino ainda não tem muros e a quadra fica do lado de fora, o que facilita a ação dos assaltantes. Tênis e celulares são os principais alvos e os furtos ocorrem principalmente de manhã, porque esse é o horário do ensino médio e muitos alunos já usam celulares. ;De tarde, a maioria é criança e os pais ainda não dão celular;, explica Germana.
Além de assaltar, os infratores costumam agredir os alunos da escola. ;Os caras vêm na covardia, dois, três, batendo nos meninos do colégio;, conta o moveleiro Valdemar Ferreira da Silva, 24 anos. Dessa forma, o medo impera, tanto que já foram solicitadas várias transferências de alunos. Brenda Lopes, 13 anos, da 6; série, quer ser a próxima dessa lista. ;Já pedi para a minha mãe me tirar daqui e ela vai me transferir porque está muito perigoso, tem aluno até com arma na sala de aula e a polícia parece que não vê;, desabafa.
Drogas
Segundo o diretor, que prefere não ter o nome identificado e conversou com a reportagem atrás de uma grossa grade, na secretaria da escola, os assaltantes não são alunos, mas ex-alunos. A identidade dos infratores não é segredo para ninguém das redondezas. ;Todo mundo sabe quem é;, diz Terezinha Maria de Araújo, 59 anos, aposentada. A mineira conta que fechou o comércio de balinhas e sorvetes por medo dos assaltos e cobriu a garagem da casa porque as invasões eram constantes. Além disso, ela relata que as drogas estão cada dia mais frequentes na área: ;Eu já peguei várias vezes pitoco de maconha aqui na porta de casa;. A aposentada aponta ainda, atrás da quadra de esportes da escola, uma chácara abandonada que seria o ponto de encontro dos assaltantes. ;Estamos sem segurança, estamos com medo desses pivetes.;
Os vizinhos da escola reclamam que o problema só ocorre durante o período letivo e, que o Batalhão Escolar que vigiava a escola não fica mais no local. Por isso, Rose dos Santos, 30 anos, funcionária da Secretaria de Assistência Social de Santo Antônio, fica apreensiva com a segurança de seus filhos enquanto está no trabalho. ;Todo mundo conhece os elementos, não adianta dar queixa;, reclama. Jacira Soares, 39, mãe de quatro alunos do colégio, também está preocupada. ;A polícia prende e bate, e quando eles voltam, falam que a lição dos policiais foi massagem;, revela.
Policiamento
A 32; DP, responsável pelo atendimento da região, não tem informações de quantas ocorrências sobre o caso já chegaram ao local, porque elas não ficam registradas por região. Porém, os próprios moradores admitem que não procuram a polícia porque não adianta e que, para chegar até a delegacia, gasta-se R$ 12 de ônibus.
Na tarde de ontem, a Regional de Educação de Samambaia recebeu o conselho da escola e prometeu a volta do policiamento. ;O batalhão vai voltar para a porta da escola nos horários de maior incidência de assaltos;, promete Castorino Alves, assistente da direção da regional.
Quanto à construção do muro, a Secretaria de Educação informou que a obra ainda está sendo licitada e não há previsões de início dos trabalhos. A secretaria disse também que a escola deve receber, este ano, R$ 195.724 em três parcelas pelo Programa de Descentralização Administrativa e Financeira ; mas não há previsão de depósito dessa verba. Uma vez com esse dinheiro em mãos, a escola tem outra etapa a cumprir: obter autorização para construir o muro, já que o programa proíbe construções e só prevê pequenos reparos e compra de material.
1 - Sem regularização
O Setor Habitacional Água Quente surgiu a partir do parcelamento da antiga Fazenda Tição, há cerca de 15 anos. Foi criado em 2002, durante o governo de Joaquim Roriz. Somente em dezembro do ano passado é que a área ganhou status de zona urbana de baixa renda no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do DF. Apesar disso, os oito condomínios que compõem o setor ainda não estão regularizados. O Água Quente faz divisa com Santo Antônio do Descoberto (GO) e vai do trevo da BR-060 à ponte que dá acesso ao município, passando pela DF-280.