Renato Alves
postado em 11/03/2010 08:48
O Ministério Público (MPGO)e a Polícia Civil de Goiás montaram forças-tarefas para investigar as mortes em série atribuídas a suposto grupo de extermínio formado por policiais militares baseados em Formosa. Promotores de Justiça dizem ter provas suficientes para indiciar o comandante e outros sete integrantes do batalhão do município goiano distante 79km de Brasília. O oficial irá a júri popular ainda este semestre sob acusação de assassinar um homem em Goiânia, quando era o chefe da Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) na capital do estado. Ele responde também por uma chacina em outra cidade.O major Ricardo Rocha e sete subordinados foram retirados do 16; Batalhão da PM de Goiás, em Formosa, na segunda-feira última. Desde então, fazem serviços administrativos, em Goiânia. O comandante-geral da PM, coronel Carlos Antônio Elias, tomou a decisão após um pedido formal do procurador-geral de Justiça de Goiás, Eduardo Abdon Moura. ;Levamos em conta o histórico do major Ricardo, que já responde a cinco ações penais. A morte de um jovem e o desaparecimento de outros três em Flores e Alvorada do Norte foram o estopim. Os indícios de participação dele (o major) são fortes;, afirmou Moura.
Oito homens retiraram o operador de máquinas Higino Carlos Pereira de Jesus, 24 anos, de sua casa em Alvorada do Norte, no começo da noite de 24 de fevereiro. Os raptores estavam em dois Celtas ; um prata e outro vermelho ; e num terceiro carro, de cor preta. Com 28 tiros, o corpo do rapaz foi encontrado de madrugada, à margem da GO-144, estrada que liga Alvorada a Flores. Na tarde do dia 26, um primo de Higino, o pequeno agricultor Pedro Nunes da Silva Neto, 31, e o adolescente Cleiton Rodrigues, 16, foram colocados por oito homens em dois veículos e sumiram, também em Alvorada.
Pedro, Cleiton e um outro jovem tomavam banho no Rio Corrente quando o grupo chegou. Mas o terceiro rapaz estava na água e se escondeu sob galhos na margem. Ele disse a parentes dos desaparecidos que ambos foram colocados em uma viatura do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) da PM goiana, parada ao lado de um Gol branco. A testemunha contou ainda ter lido um adesivo na traseira do Gol com a seguinte frase: ;Papai faz, mamãe cria e nós mata (sic);. Desse Gol, onde estariam dois homens, um desceu para pegar a moto de Pedro, também sumida. Um amigo de Higino, cujo nome ainda não foi revelado, desapareceu da mesma forma, em Flores.
Apuração parada
Apesar da gravidade, as delegacias das duas cidades se restringiram a registrar as ocorrências, a pedido dos parentes das vítimas. Insatisfeitos, os familiares procuraram a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa goiana, que cobrou uma ação efetiva da Polícia Civil. Após a pressão, delegados e agentes da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Goiânia assumiram o caso, mas ainda não estiveram em Alvorada e Flores. Também não ouviram familiares das vítimas e testemunhas.
Desde maio do ano passado, o Correio publica série de reportagens que associam o major Ricardo a grupos de extermínio em Formosa e Rio Verde. Ele foi denunciado pelo MPGO por participação em uma chacina com cinco mortes e por crime de pistolagem. Tudo quando ele era o subcomandante da PM em Rio Verde, no Sudoeste goiano. Após as mortes em série, Rocha foi transferido para Goiânia, onde comandou a Rotam entre 2003 e 2005. Época em que a PM mais matou na capital. De 6 de março de 2003 a 15 de maio de 2005, foram registrados 117 homicídios em Goiânia cuja autoria é atribuída a PMs, a maioria da Rotam. Das 117 vítimas, 48,7% (57 pessoas) não tinham ficha criminal.
Em meio à investigação do MP sobre esses casos, o major voltou a Rio de Verde. Em seguida, foi para Formosa, onde, sob o comando de Rocha, PMs admitem ter tirado a vida de 10 das 48 pessoas assassinadas em 2008 em Formosa. Outros cinco casos ocorreram no segundo semestre de 2007. A maioria das vítimas não respondia por delitos graves e morreu com ao menos um tiro na cabeça. Em dezembro de 2008, jovens e adolescentes acabaram executados com tiros na cabeça por homens encapuzados. Outro caso igual ocorreu em fevereiro de 2009. Em todos, os autores usaram pistolas, armas idênticas às restritas à PM. Nenhum caso foi elucidado pela Polícia Civil goiana.
"Levamos em conta o histórico do major Ricardo, que já responde a cinco ações penais. A morte de um jovem e o desaparecimento de outros três em Flores e Alvorada do Norte foram o estopim. Os indícios de participação dele (o major) são fortes"
Eduardo Abdon Moura, procurador-geral de Justiça de Goiás
Eduardo Abdon Moura, procurador-geral de Justiça de Goiás