Cidades

Petistas não conseguem costurar acordo para evitar as prévias entre Agnelo e Magela

Ana Maria Campos
postado em 12/03/2010 07:38
O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, tentou em vão costurar um acordo para evitar prévias no Distrito Federal. Na verdade, terminou em bate-boca um encontro na tarde de ontem para selar a paz. Um dos concorrentes, o deputado federal Geraldo Magela (PT-DF), reclamou de suposto uso do partido em benefício da pré-candidatura do ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz. E foi duro ao se dirigir ao presidente regional, Roberto Policarpo, ao dizer que não se sentia representado por ele, declarado aliado de Agnelo.

Agnelo e Magela disputam a indicação do partido para as eleições de outubro: acordo desfeitoDutra convocou os dois petistas que se enfrentam na disputa interna pela indicação de candidato do partido ao Buriti para evitar um confronto no Distrito Federal que atrapalhe os planos locais e ainda contamine a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Resolução da direção nacional do PT prega soluções negociadas em todas as unidades da Federação, como forma de suspender eventuais conflitos às vésperas das eleições. No Distrito Federal, no entanto, o clima é de manutenção das prévias. Agnelo e Magela não abrem mão e medem forças.

Na última quarta-feira, Agnelo obteve uma declaração pública importante de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num ato de apoio à pré-candidatura de Agnelo, ele detalhou um acordo que celebrou entre o ex-ministro do Esporte e Magela no fim do ano passado, quando ficou acertada a chapa petista. Agnelo seria candidato ao GDF e Magela entraria na corrida ao Senado, como candidato preferencial do PT (leia Cronologia). Na ocasião, segundo Carvalho, o cenário se mostrava complicado para o partido. José Roberto Arruda, então filiado ao DEM, era considerado um candidato quase imbatível na reeleição. Seu único rival com possibilidade de incomodar até então era o ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC, segundo indicavam as pesquisas de opinião. Agnelo iria para o sacrifício.

Por isso, de acordo com Gilberto Carvalho, a mudança de postura de Magela, agora que Arruda está preso e Roriz distante da campanha desde a deflagração da Operação Caixa de Pandora, demonstra ;oportunismo;. O chefe de gabinete disse que não falava em nome do presidente da República, mas afirmou considerar que esse é o pensamento de Lula. Gilberto Carvalho estava acompanhado do chefe de gabinete adjunto, Swedenberger Barbosa, o Berger, e disse representar dois integrantes do governo federal, Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República, e Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.

O presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, negou que a direção regional do partido esteja influenciando as decisões internas, mas deixou claro acreditar que as preferências fazem parte do jogo político. ;Não sou imparcial, mas sou democrático;, sustentou. Além da reunião com Dutra, Policarpo tratou ontem de questões formais para a realização das prévias que, pela primeira vez, serão realizadas por meio de urnas eletrônicas, em 21 de março. Na próxima segunda-feira, ocorrerá o debate entre os dois pré-candidatos.

Vídeos

Um dos temas que mais desperta controvérsia na campanha para as prévias é o encontro de Agnelo Queiroz com o então secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, no anexo do Palácio do Buriti, meses antes da Operação Caixa de Pandora. Durval mostrou gravações de políticos recebendo dinheiro e também registrou em vídeo esse encontro com o petista. O jornalista Edson Sombra, alvo da suposta tentativa de suborno que provocou a prisão de Arruda e cinco aliados, intermediou a reunião. Para os aliados de Magela, com o encontro, Agnelo passou a ter a informação privilegiada de que o governo Arruda estava por um fio. Em boletins informativos de campanha, o grupo de Magela tem feito ataques a Agnelo.

Enquanto os petistas brigam, aliados potenciais têm feito reuniões para tentar construir candidaturas alternativas. Outros nomes surgem, como o do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), do deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT), do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB) e de Messias de Souza (PCdoB). Nesta semana, a direção do PT foi informada de que os partidos aliados não pretendem engolir, sem debates, a candidatura a ser lançada pelo partido depois das prévias.

Cronologia

Julho de 2008
Depois de mais de duas décadas no PCdoB, Agnelo Queiroz se filiou ao PT com a meta de ser candidato ao Governo do Distrito Federal.

Setembro de 2008
O deputado Geraldo Magela (PT) criticou o lançamento antecipado da pré-candidatura de Agnelo Queiroz sem uma discussão interna com outros pretendentes.

Fevereiro de 2009
Então presidente regional do PT, Chico Vigilante se reuniu com Agnelo e Magela para fecharem um acordo para evitar as prévias no Distrito Federal. Ficou definido que o candidato seria escolhido com base nos seguintes critérios: desempenho em pesquisas, capacidade de aglutinar aliados e de empolgar a militância do PT.

Junho de 2009
Agnelo Queiroz faz ato em que oficializa sua pré-candidatura ao Executivo.

Julho de 2009
Sem acordo que o transformasse no concorrente ao GDF, Geraldo Magela lança pré-candidatura.

Novembro de 2009
Agnelo Queiroz e Geraldo Magela fecham acordo para candidaturas ao GDF e Senado, respectivamente. Em troca da retirada de sua candidatura, Magela seria o candidato preferencial ao Senado. Parte dos aliados de Agnelo apoiaram Magela na disputa pela presidência nacional do PT.

Janeiro de 2010
Magela se recoloca como candidato ao GDF, com dois argumentos: a direção do PT-DF estaria negociando composição da chapa para as próximas eleições sem consultá-lo, com possibilidade de atrapalhar o acordo para sua candidatura preferencial ao Senado. O outro argumento era o de que Agnelo teve acesso às fitas de Durval Barbosa antes do escândalo e teria informação privilegiada sobre o cenário local.

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