postado em 12/03/2010 07:42
Em todo lugar em que houver água parada, lixo acumulado e mosquitos rajados, lá estão eles. Debaixo de chuva e de sol intenso, enfrentando animais domésticos nem sempre tão domesticados assim, os agentes de vigilância ambiental passam os dias conscientizando os moradores do Distrito Federal dos perigos da dengue e de outras doenças que, volta e meia, passam a assustar. A rotina é dura para esses 465 trabalhadores. São oito horas de muitas caminhadas diárias para chegar às casas que visitam, de observação dos hábitos das famílias e de disposição para convencer as comunidades de que é preciso mudar. Em pelo menos quatro mil imóveis do DF os agentes terão que voltar porque os donos não foram encontrados ou não deixaram os profissionais entrar.Entre todas as dificuldades, o que mais incomoda os agentes é a reação dos moradores. Muitos não valorizam ou não prestam atenção nas informações. Outros já recebem o profissional com o papel de controle de visitações nas mãos, sugerindo que ele poderia assinar o documento sem realmente checar se há focos de dengue no local. A pior acolhida, segundo eles, é no Lago Norte. A população resiste a abrir as portas de casa e, o pior, acumula muito lixo. ;Se chegamos às 8h, é cedo. Às 10h, estamos atrapalhando o preparo do almoço. Às 13h, estão cochilando. No fim da tarde, estão pegando os filhos na escola. Somos sempre inconvenientes;, afirma a agente Suellen Santos, 27 anos.
Mas, segundo a agente Danielle Santana, em alguns locais, os profissionais são bem recebidos. ;As pessoas melhoram as ações quando têm a doença. Elas estão começando a trabalhar conosco porque estão ficando doentes;, acredita ela. Apesar disso, na maioria das vezes em que voltam a um local já visitado, os agentes da vigilância ambiental percebem os mesmos problemas encontrados na primeira vez.
Empurrão
Nas andanças pelas cidades, esses trabalhadores colecionam histórias inusitadas. Enquanto fazia a vistoria na piscina de uma casa, uma agente da cidade levou um empurrão da dona da casa. Acabou com o pé quebrado. Em outra ocasião, uma agente abordou uma moradora, que se recusou a deixá-la entrar. A mulher acabou cedendo. Mas assim que a agente entrou, a dona da casa trancou-a e fugiu para a rua. Chamou a polícia e disse que a responsável pela vistoria seria uma ladra. Durante um surto de leishmaniose, o dono de um cachorro pediu que uma servidora da vigilância ambiental manipulasse seu cachorro com luvas, para que ela não transmitisse nenhuma doença ao animal.
Enquanto visitava um prédio interditado no Setor Bancário Norte, Suellen Santos foi levada por um funcionário para fazer a vistoria de um banheiro. Ao chegarem à cobertura, o homem pediu um beijo. A agente fingiu que ligava para o chefe, pedindo que ele a aguardasse no térreo. Depois de alguma negociação, o funcionário permitiu que ela deixasse o andar, sem dar o beijo. ;Depois disso, nem entro em casas em que só vejo homens;, garante.
Um agente que se identificou apenas como Vladimir, 51 anos, conta ter sido atacado por um cão. Por sorte, ele não ficou gravemente ferido. Outro problema é administrar a vontade de ir ao banheiro. ;Preferi ir embora a pedir para usar o banheiro;, relata.
A categoria reclama da instabilidade profissional, dos baixos salários e do efetivo insuficiente para fazer o trabalho. Na avaliação deles, seria preciso, no mínimo, dobrar o número de contratados. Apesar das dificuldades, decidiram não fazer greve. O concurso para a contratação temporária de 500 agentes ainda não foi autorizado, mas os 160 homens do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) que vieram reforçar o combate à dengue no DF foram a campo ontem, visitando moradores de Ceilândia. Até agora, 1.541 casos da dengue foram confirmados no DF, com duas mortes.
; Fique atento
Possíveis criadouros do mosquito da dengue:
# Pratinhos e vasos de plantas e xaxins, dentro e fora de casa
# Bromélias e outras plantas que possam acumular água
# Lixeiras dentro e fora de casa
# Tampinhas de garrafa, cascas de ovo, latas, sacos plásticos, embalagens plásticas e de vidro e copos descartáveis
# Vasilhames para água de animais domésticos
# Vasos sanitários
# Ralos de cozinha, banheiro, sauna e ducha
# Bandeja externa de geladeira
# Suporte de garrafões de água mineral
# Lagos, cascatas e espelhos d;água decorativos
# Tonéis e depósitos de água
# Entulhos e lixo
# Piscina
# Calhas de água da chuva
# Lajes
# Cacos de vidro nos muros
# Pneus velhos
# Garrafas de vidro ou Pet
# Baldes