Renato Alves
postado em 13/03/2010 07:23
A planilha de gastos para a festa dos 50 anos de Brasília será revisada a partir da próxima segunda-feira por integrantes de uma comissão que contará com a fiscalização da Corregedoria-Geral do DF. Há indícios de que valores orçados de infraestrutura e dos cachês de artistas estejam superestimados. Uma das cifras que chamou a atenção dos governistas recém-chegados ao poder são os R$ 7 milhões previstos para o aluguel de banheiros químicos e de tendas e a montagem de palcos. Os R$ 463 mil para a dupla sertaneja Bruno e Marrone e os R$ 400 mil para o cantor Luan Santana também estão sob avaliação.Produtores musicais com experiência em contratação de shows ouvidos pelo Correio avaliaram que os cachês registrados na planilha da Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur) estão acima do mercado. Em geral, a dupla Bruno e Marrone cobra em torno de R$ 200 mil por apresentação. Segundo um produtor que não quis se identificar, como Luan Santana é bem menos conhecido, seu cachê ficaria abaixo desse valor. Outro show programado, da banda NXZero, está orçado em R$ 120 mil.
Diante dos valores negociados pela Brasiliatur, o secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, afirma que essas atrações ;subiram no telhado;. O governo quer cortar para menos da metade a previsão de custo inicial, na casa dos R$ 20 milhões. A meta é realizar a festa com até R$ 8 milhões. A avaliação é de que o momento de crise não combina com ostentação. Por isso, o conceito de comemoração do cinquentenário mudou. ;O foco será no resgate da autoestima do brasiliense. Vamos privilegiar bandas e cantores da cidade;, disse Gorgulho.
Nos últimos três anos, o governo gastou com festas e homenagens R$ 115 milhões, segundo informações do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), que monitora os gastos oficiais.
Só em 2009, foram repassados R$ 76,3 milhões a empresas de eventos terceirizadas pela Brasiliatur e pelas secretarias de Trabalho e de Cultura. Apenas nos primeiros meses deste ano, o Siggo registrou o pagamento de R$ 5,7 milhões com essa finalidade.
Em Portugal
O orçamento do aniversário de Brasília não é a primeira polêmica envolvendo a Brasiliatur. Em maio de 2008, o governador José Roberto Arruda anunciou um pente-fino nas contas da estatal e a suspensão de todos os contratos firmados pela empresa com prestadoras de serviços, que somavam R$ 93 milhões. A medida ocorreu após reportagem do Correio revelar que a Brasiliatur pagou R$ 850 mil a uma empresa brasiliense para montar a Tenda Fashion no Rock In Rio Lisboa, megaevento de música pop. Apesar das duras palavras ditas por Arruda na época, ninguém acabou punido.
Novo escândalo, um ano depois, no carnaval de 2009. Então presidida pelo deputado distrital Rôney Nemer, a Brasiliatur deu R$ 800 mil ao desconhecido cantor baiano Edu Casanova para ele se apresentar como garoto-propaganda na folia de Salvador e compor um hino para as comemorações do cinquentenário da capital. O mesmo artista havia recebido R$ 60 mil para cantar no réveillon da Esplanada dos Ministérios, dois meses antes. Cachê bem menor do que o das outras atrações: Chitãozinho e Xororó (R$ 300 mil), NXZero (R$ 220 mil) e Exaltasamba (R$ 220 mil). Mas, dessa vez, o governador não viu nada de errado com a despesa nem mandou abrir sindicância.
Os gastos com a festa de 48 anos de Brasília foram alvo de denúncia ao Tribunal de Contas do DF. A estatal pagou R$ 2,2 milhões à empresa Aplauso Organização de Eventos Ltda. para a realização do evento. Não houve licitação. Também causaram estranheza os altos valores para a contratação das atrações musicais. Somente o grupo mexicano RBD recebeu R$ 760 mil. A banda Chiclete com Banana faturou R$ 492,5 mil.
Durante a gestão de Arruda, a Brasiliatur ficava sob o comando de Paulo Octávio. Para os 50 anos de Brasília, ele chegou a pensar em trazer artistas como Madonna e Paul McCartney. Hoje, a Brasiliatur é presidida por João Oliveira, pessoa da confiança de Paulo Octávio. ;Os custos do cinquentenário estão adequados às necessidades. Vamos fazer uma comemoração completa com um orçamento enxuto;, afirmou.
Despesas ilimitadas
Desde que foi fundada pelo governador José Roberto Arruda, em outubro de 2007, a Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur) acumula denúncias de gastos excessivos e suspeitos.
Folha de pagamento
A empresa pagava R$ 333.116 por mês a 59 empregados e quatro diretores, todos comissionados (não concursados).
Festa de aniversário
A estatal pagou R$ 2,2 milhões à empresa Aplauso Organização de Eventos Ltda. para a realização da festa de 48 anos de Brasília, sem licitação.
Rock In Rio Lisboa
A Brasiliatur deu R$ 850 mil para uma empresa de eventos divulgar Brasília em Portugal, durante evento de música pop, em 2008. Não houve licitação.
Centros de atendimento
Ainda em 2008, a estatal destinou mais de R$ 900 mil a uma associação para montar os centros de atendimento ao turista no aeroporto e no Centro de Convenções.
Cachê astronômico
A Brasiliatur deu R$ 800 mil ao desconhecido cantor baiano Edu Casanova para ele se apresentar como garoto-propaganda dos 50 anos de Brasília no carnaval de Salvador de 2009.
# Resultados inexpressivos
Os altos gastos da Brasiliatur não refletiram em melhorias no setor turístico do Distrito Federal. Atrações da cidade e pesquisas para o fomento do turismo quase não receberam verbas.
Sem informação
Os três centos de atendimento ao turistas que existiam em Brasília estão desativados, sem perspectiva de reabertura. A Brasiliatur alega não ter pessoal para trabalhar nos pontos.
Casa fechada
Também continua fechada a Casa de Chá , na Praça dos Três Poderes,
apesar de o local ser considerado ponto turístico e ter sido revitalizado recentemente. Ninguém sabe o que será feito do prédio.
Planetário esquecido
Outra atração da capital, o Planetário de Brasília não funciona desde 1997. Reformas foram anunciadas, mas nenhuma concluída, por falta de liberação de recursos.
Sem manutenção
A Torre de TV, um dos principais pontos turísticos de Brasília, sofre com o abandono há anos. Para sua manutenção, foram destinado R$ 31 mil em 2009.
Plano desconhecido
Para a elaboração de um plano de desenvolvimento turístico do DF,
a Brasiliatur destinou apenas R$ 41 mil no ano passado. Até hoje,
não há dados oficiais do fluxo de turistas na capital, por exemplo.
Contribuição das embaixadas
O governador do Distrito Federal em exercício, Wilson Lima (PR), se reuniu na manhã de ontem, no Palácio do Buriti, com 54 membros de representações diplomáticas situadas em Brasília e apresentou ao grupo a programação da festa de 50 anos de Brasília. A intenção era abrir às embaixadas a oportunidade de contribuir para o evento, na tentativa de promover a diversidade cultural na comemoração. O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, e o presidente da Brasiliatur, João Oliveira, também estavam presentes. Gorgulho informou que se reunirá com cada uma das representações que sugerirem shows, mostras de cinema, palestras e exposições, por exemplo. Até agora, estão acertados concertos de peças de Chopin para piano, em 23 e 24 de abril, no Teatro Nacional ; uma promoção da Embaixada da Polônia.