Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e o Programa Brasil Afroatitude, do Ministério da Saúde revela que os homens universitários têm se protegido mais na hora do sexo do que as mulheres. A pesquisa intitulada Diferenças de gêneros na percepção de risco e nas práticas preventivas em relação às DST/Aids entre universitários constatou que 43,9% dos homens usaram o preservativo em todas as relações sexuais nos últimos seis meses contra apenas 30,2% das mulheres.
O resultado, que serve de alerta, é fruto das respostas de 266 mulheres e 237 homens, com média de idade de 21 anos, sobre temas referentes à sexualidade, relacionamento afetivo-sexual, frequência de uso da camisinha e percepção de risco de exposição ao HIV. Dos 503 entrevistados, 75,4% são sexualmente ativos. Entre eles, 22% das mulheres não utilizaram nenhum preservativo nos últimos seis meses, quase o dobro dos indicativos masculinos, que ficaram em 12%. ;A pesquisa vai ao encontro de outros estudos, que mostram que o homem ainda é o encarregado pelo preservativo;, aponta a coordenadora do trabalho, a psicóloga Eliane Seidl. Segundo ela, muitos tabus envolvendo a camisinha e a mulher ainda não caíram. ;Muitas jovens não se sentem à vontade em sugerir o uso do preservativo ao parceiro. As mulheres têm de ser mais empoderadas e falar mais sobre o sexo seguro; avalia.
A aluna de pedagogia da UnB Amanda Cadete, 17 anos, partilha da opinião. ;Dentro de casa, se fala muito mais de sexo com os filhos do que com as filhas. Na escola, a aula de educação sexual mostra só a camisinha masculina.; A caloura acredita, no entanto, que a importância da proteção já é bastante consolidada. ;É muito falado, divulgado na mídia. Informação é o que não falta;, ressalta. O aluno de matemática Rodolpho Salomão, 18 anos, também acha que falar de sexo é mais comum na órbita masculina, mas isso não é motivo para que as mulheres não exijam o sexo seguro.;Tem que usar (preservativo) 100% das vezes. Você está arriscando a sua vida se não usá-la;, destaca.
Relacionamento estável
O baixo índice de proteção entre as mulheres pode encontrar justificativas no fato de 63,5% delas estarem em um relacionamento estável. ;A camisinha tende a ser deixada de lado quando há um envolvimento afetivo estável;, explica a professora Seidl. Isso ocorre mesmo que 41% dos rapazes e 26% das mulheres estejam cientes do risco de infecção ao qual se expõem. O pós-graduando em geologia Leandro Arrais, 27 anos, é um bom exemplo. No passado, ele teve relações sexuais sem preservativos e descobriu, após um tempo, que a mulher com quem saía tinha papilomavirus humano (HPV), associado ao câncer no pênis e responsável por quase todos os casos de tumores de colo de útero. ;Fiquei desesperado, fiz vários exames. Tive sorte porque não deu nada;, conta.
Leandro aprendeu a lição: ;Depois disso, já recusei sexo porque na hora não tinha nenhuma camisinha;. O geólogo namora há sete anos e reconhece que, em um relacionamento, a preocupação se volta ao controle de natalidade. A responsabilidade, então, recai sobre a mulher, pressionada a usar o anticoncepcional. ;Muita gente chega a encarar como ofensa se a parceira pede para usar camisinha. Pode ficar aquele clima de desconfiança;, analisa. ;A ideia das campanhas de promoção da saúde sexual é mudar as crenças desfavoráveis ao preservativo. A camisinha tem que ser vista como um cuidado a si e ao outro e não aliada à transgressão;, acredita Eliane Seidl.
A pesquisa constatou que os universitários dispõem de bons níveis de informação sobre as DSTs, o que, segundo a pesquisadora, é incoerente com o comportamento preventivo insatisfatório. ;É como o tabagismo. O fumante sabe de todos os males do cigarro, mas não abandona o vício. A diferença é que, com o sexo, as decisões precisam ser mútuas e afetam os dois.; Apesar dos resultados, Eliane Seidl relembra que os jovens são os principais usuários de preservativos do Brasil.
; Para ajudar na prevenção
A UnB dispõe de um Polo de Prevenção de DST/Aids que distribui preservativos masculinos e femininos gratuitamente, além de fornecer cartilhas com informações sobre prevenção e transmissão de doenças sexuais. O objetivo é suprir a comunidade acadêmica e também atender à população. De acordo com o coordenador do polo e professor de serviço social, Mário Ângelo Silva, o local é mais procurado pelos homens. ;Os servidores da UnB, em especial aqueles que têm situação socioeconômica mais baixa;, explica. Por mês, o polo entrega cerca de 3 mil preservativos, uma média de 10 unidades para cada interessado. Em 2009, foram distribuídas 30 mil camisinhas masculinas e 6 mil femininas.
A pesquisa do Instituto de Psicologia mostra que 34,5% das mulheres que entram na UnB nunca tiveram relação sexual o que, segundo Mário Ângelo, é fator relevante para a procura menor por preservativos por parte das mulheres. ;Além do tabu da virgindade, algumas mulheres se constrangem em mostrar que são sexualmente ativas, por isso temos a preocupação de promover a camisinha para as mulheres, incentivar a autonomia do gênero;, afirma Mário Ângelo.
Além de sexo seguro, o polo também dá orientações sobre os malefícios do uso de drogas e de bebida alcoólica, fatores que aumentam o comportamento sexual de risco. ;As pessoas entram cada vez mais jovens na universidade e se iludem com o mundo adulto. Isso leva a um comportamento de excessos e muitos perigos;, alerta o professor. O polo funciona no Instituto Central de Ciências (ICC) Sul.