postado em 13/03/2010 08:56
Um equipamento capaz de descobrir o teor de um documento mesmo queimado, ou identificar com precisão se uma assinatura foi alterada. Surpreso? Que tal, então, saber a marca do veículo de um condutor que atropela uma pessoa e não presta socorro apenas com um fragmento quase imperceptível caído no asfalto. Pode até parecer, mas os casos citados não foram extraídos da série americana CSI, em que investigadores descobrem a autoria de vários crimes utilizando técnicas avançadas de perícia, a chamada ciência forense. Longe das telas, mas bem perto da realidade, os peritos do Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Civil do Distrito Federal, têm à disposição o que há de mais moderno para desvendar delitos que parecem sem solução.
Uma das armas é o VC-5000(1). O aparelho, fabricado na Inglaterra, tem aparência semelhante à de um scanner . Ele é dotado de filtros de luz capazes de distinguir, por exemplo, tintas de canetas diferentes em um mesmo papel. Palavras rasuradas também são facilmente detectadas. Para mostrar a eficácia da máquina, o perito Clemilton Cavalcante, com mais de 20 anos de experiência na área, dá um exemplo. Em uma folha A4, ele escreve ;Correio Braziliense; com uma caneta azul. Depois, rabisca o nome do jornal até a visualização a olho nu ser impossível. Ao colocar o papel no instrumento, lê-se nitidamente o nome do periódico, como se a rasura tivesse sido extinta em um passe de mágica.A ferramenta já ajudou a polícia a colocar atrás das grades vários estelionatários. No último 18 de janeiro, Aurino Benjamim de Barros foi detido. Ele é acusado de liderar uma quadrilha conhecida por aplicar o ;golpe do empréstimo;, que consistia em receber uma certa quantia antes de liberar o valor do empréstimo em notas falsas para as vítimas. Servidores do Congresso Nacional eram os principais alvos. As cédulas eram bastante semelhantes às originais e a constatação da invalidez só foi possível após serem submetidas ao VC-5000. ;Somos a voz técnica num processo de investigação. É muito gratificante quando conseguimos ajudar a tirar um criminoso das ruas, ou mesmo provar que alguém inocente está sendo acusado de algo que não cometeu;, comentou Clemilton.
O CSI brazuca também tem outro equipamento com incrível capacidade de identificar imagens em objetos: o ESDA. Aos olhos de um leigo, parece uma impressora, mas tem funções bem mais poderosas. Sua especialidade é recuperar grafias em superfícies apagadas ou eliminadas por meio das marcas deixadas na camada de baixo. A perita Ivete Shimabuko Silva Rocha explica o processo. Segundo ela, com o equipamento é possível saber qual o teor de uma anotação em um bloco de papel, por exemplo, mesmo que a página seja arrancada. É muito utilizado quando uma vítima de suicídio escreve uma carta, mas a joga fora.
Precisão
O Raman é o mais novo aparelho disponível para os peritos da Polícia Civil do DF. Em poucos segundos, ele é capaz de identificar com precisão qualquer substância química e estrutural de qualquer material, composto orgânico ou inorgânico. Ou seja, é possível saber qual a droga presente em algum produto, se um medicamento é falsificado ou até mesmo determinar o tempo quase exato em que uma pessoa escreveu determinada palavra.
1 - Quadrilha desmascarada
No ano passado, a polícia prendeu uma quadrilha de estelionatários no Lago Sul. Eles usavam selos da Microsoft em computadores para participar de licitações públicas. Depois das suspeitas, os peritos do IC, utilizando o VC-5000, constataram que os selos eram verdadeiros, mas reutilizados. Ou seja, alguém de dentro da empresa passava os selos para a quadrilha, que os utilizava como se novos fossem, o que caracteriza crime.
"É muito gratificante quando conseguimos ajudar a tirar um criminoso das ruas"
Clemilton Cavalcante, perito do IC
Clemilton Cavalcante, perito do IC