O Centro-Oeste apresenta, entre as regiões brasileiras, a maior probabilidade de uma pessoa ser atingida por um raio: 22 chances em 1 milhão. Esse dado, verificado em levantamento produzido pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), leva em consideração o tipo de vida da população (se vive mais no campo ou na cidade), o número de habitantes e a incidência de raios na área. Já em relação ao número de mortes por causa das descargas elétricas, entre todas as cidades do Brasil, Brasília ocupa o quarto lugar no ranking. Foram sete casos entre 2000 e 2009. Em todo o Distrito Federal, foram registradas nove mortes nesse período. As outras duas ocorreram em Ceilândia e no Gama. No Centro-Oeste, 252 pessoas perderam a vida depois de serem atingidas por um raio.
No mesmo período em todo o país, 1.321 pessoas morreram por terem sido alvos de descargas elétricas ;média de 132 casos por ano. Por meio do levantamento também foi possível detalhar quem está mais vulnerável a essa situação. De acordo com o estudo, a chance de um homem perder a vida por causa do fenômeno é 10 vezes maior do que mulher. ;Os homens são maioria na agricultura e na construção civil. Eles estão mais expostos;, afirma o coordenador do Elat, Osmar Pinto Junior. De acordo com os pesquisadores, quem trabalha na zona rural também tem 10 vezes mais chance de ser atingido por uma descarga elétrica em relação aos que vivem na cidade.
Entre as principais circunstâncias que levaram a óbito, a condição de trabalhador rural ocupa o primeiro lugar na lista ; do total de vítimas, 19% eram agricultores. Em segundo lugar nesse ranking vem as pessoas que estavam próximas a algum meio de transporte na hora do acidente e aquelas que estavam dentro de casa, cada uma das situações com 14%. Em terceiro, ficam as vítimas que se protegeram do temporal debaixo de uma árvore, 12%; e, em seguida, as que estavam em um campo de futebol na hora da descarga elétrica, o que corresponde a 10% do total de casos.
O motorista Divino Gonçalves de Souza, 58 anos, morador do Gama, passou por um susto há pouco mais de 10 anos. Ele lembra que chegou em casa depois de um dia de trabalho, tirou os sapatos e entrou no banheiro para tomar banho. Antes mesmo de ligar o chuveiro, o motorista conta que ouviu o barulho do trovão e logo em seguida caiu desmaiado. A sogra estava em casa para ajudá-lo a levantar do chão, caso contrário ele ficaria lá jogado. ;Eu não me lembro de muita coisa, só sei que depois que eu acordei vi que a pulseira e o colar que eu usava foram destruídos e a minha blusa ficou queimada.; Ele recorda ainda que sentiu o corpo formigar logo após o acidente. ;Mas, graças a Deus, não ocorreu nada. Hoje estou muito bem;, diz.
Prevenção
Apesar de baixo, o número de mortes registradas em média, por ano, preocupa o coordenador do Elat. ;Foi bem acima do esperado. Nossos levantamentos anteriores apontavam 70, 80, 90 mortes, no máximo;, diz. Segundo ele, 90% dos casos poderiam ter sido evitados. ;Se as vítimas tivessem seguido as recomendações básicas de segurança não teriam morrido;, lamenta. Após a conclusão do estudo, que considera ser o mais detalhado já feito no país, Junior espera a realização de uma grande campanha para alertar a população sobre os cuidados que a sociedade deve ter na hora de um temporal.
Outro dado relevante que preocupa o coordenador do grupo é a quantidade de mortes de pessoas que estavam dentro de casa quando foram atingidas por um raio. De acordo com Junior, o número é pequeno em relação aos casos que ocorreram ao ar livre, mas muito acima do esperado. Isso mostra que ficar dentro de casa na hora de um temporal pode não ser tão seguro. O coronel Paulo Roberto, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, orienta a população a não usar o telefone, a evitar tomar banho, a manter-se longe de janelas e a não ficar descalço durante a chuva. Se estiver na rua, ele recomenda que a pessoa procure um lugar coberto para esperar, de preferência onde tenha um para-raio. Dentro de um automóvel também é possível se proteger das descargas elétricas.
Preocupado com a ocorrência constante de descargas elétricas na região onde vive, o aposentado Luiz Afonso Sieiro, 62 anos, morador do Park Way resolveu instalar um para-raios em sua residência há pouco mais de uma semana. ;Resolvi colocar porque já caiu um raio bem próximo ao meu terreno e queimou a minha televisão. Também caiu um no vizinho, agora só falta cair na minha casa;, diz. Luiz Afonso tem um gato de estimação e costumava ficar preocupado quando chovia muito. A visita dos netos em dias chuvosos também deixava em alerta o aposentado. ;Espero ficar mais protegido agora.;
Menos chuva no início do ano
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) revelam que no mês de fevereiro choveu bem menos que o esperado para o período. Foram 53mm, diante de uma média de 214mm. Em janeiro também foram registrados índices abaixo do previsto: 121mm, contra 241mm. Segundo o meteorologista e chefe da previsão do tempo do Inmet, Luiz Cavalcanti, não há um fenômeno que seja o causador dessa situação. ;Podemos dizer que as frentes frias chegaram poucas vezes aqui ou chegaram com baixa intensidade;, diz. Ele lembra que o mesmo ocorreu no ano passado. Apesar da pouca chuva, Cavalcanti espera que neste mês os índices pluviométricos cheguem a atingir a média: 189mm.
De acordo com informações do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ocorrem em todo o Distrito Federal uma média de 40 mil descargas elétricas por ano. O levantamento foi feito entre 2000 e 2009. Nos dois primeiros meses de 2009, foram registrados 1.969 raios em todo o DF. No mesmo período deste ano, houve 794 descargas elétricas. Segundo o coordenador do Elat, Osmar Pinto Junior, os raios costumam ser mais frequentes no verão e na primavera porque a formação está diretamente ligada ao aumento da temperatura e da umidade. (TP)