Cidades

Estudantes que participaram da 6ª Olimpíada do Conhecimento voltam com motivos para comemorar

Naira Trindade
postado em 16/03/2010 08:28
O saguão de desembarque do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek virou pódio. Medalhistas de ouro, prata e bronze desembarcaram ontem com o glamour de campeões. Nem o pequeno atraso da companhia aérea ; o voo 1866 estava previsto para as 11h47 e pousou às 12h04 ; atrapalhou a vibração de familiares e amigos que esperavam ansiosos pela chegada dos 21 jovens talentos de Brasília.

Medalhas de ouro: a partir da esquerda, Willian Ramon Grassioti, Jocivaldo Oliveira, Daiane Rodrigues e Rodrigo Pires ganharam primeiro lugarNada de atletas ou esportistas. As cornetas, apitos, faixas e gritos emocionados eram para os alunos de cursos técnicos participantes da 6; Olimpíada do Conhecimento, no Rio de Janeiro, responsáveis por colocar o Distrito Federal na lista das cidades com os melhores profissionais do país em mecânica de refrigeração e de automóveis, aplicação de revestimento em cerâmica, jardinagem e paisagismo, segurança do trabalho, marcenaria, design de moda e gráfico e instalação elétrica e predial.

Na busca por um lugar ao sol no mercado de trabalho em Brasília, Jecivaldo Oliveira, 20, morador do P Sul, em Ceilândia, abandonou o serviço de vendedor, que era seu sustento, para ingressar nos estudos na área de construção civil, setor crescente na capital. Sem muita experiência ou pretensão de ser competidor, ele chegou atrasado à turma de aplicação de revestimento em cerâmica do Serviço Social de Aprendizagem Industrial (Senai). Em seis meses, cursou tudo que os colegas haviam aprendido em um ano. Teve de se desdobrar para recuperar o tempo perdido e trabalhou duro para colocar toda a matéria em dia. ;Foram mais de 12 horas diárias de dedicação;, lembrou o jovem, que, no Rio de Janeiro, deixou para trás 19 competidores na produção do Cristo Redentor, com arte baseada em Athos Bulcão.

Valeu o esforço. Seu talento levou-o à Olimpíada do Conhecimento, que reúne os melhores alunos da educação profissional do país. A competição incentiva o desenvolvimento de competências e aproxima os estudantes da realidade do mercado de trabalho. Cada aluno tem 22 horas, divididas em quatro dias, para realizar um serviço ou produto proposto pelo Senai. Para chegar lá, os candidatos passaram por vários testes. Primeiro, veio a etapa interescolar, onde os estudantes são selecionados na unidade do Senai em que estudam por meio de testes e histórico escolar. Os escolhidos na primeira fase participaram da etapa estadual. Somente os vencedores chegaram à fase nacional, que levou 650 alunos à capital carioca.

Talento genético
Alunos do Senai recém-chegados da competição: maioria pode se considerar vitoriosa, pois teve desempenho reconhecido numa disputa acirradaCom a aptidão mecânica herdada do pai, Isaías Grassioti, 42 anos, Willian Ramon Grassioti, 18, conquistou medalha de ouro no projeto de mecânica de refrigeração. Desde os 9 anos, o morador de Taguatinga monta e desmonta tudo que vê pela frente. Encaixa uma peça aqui, tira dali, aperta acolá. O monte de parafusos soltos aos poucos ganha forma e funcionalidade. Após passar por mais de 10 horas diárias de dedicação em Brasília para enfrentar competidores, no Rio, Willian retorna orgulhoso pelo troféu. ;Cresci vendo meu pai trabalhar com mecânica. Ele me ensinou as primeiras técnicas e aprendi muito mais no Senai.; Hoje, o jovem domina técnicas de refrigeração, elétrica e leitura de projetos.

Esforço, dedicação e dom motivaram também Rodrigo Pires e Daiane Rodrigues a conquistarem o primeiro lugar em jardinagem e paisagismo. Filhos de uma Brasília embelezada por Roberto Burle Marx ; paisagista mais importante do Brasil e um dos mais reconhecidos em todo o mundo ;, os estudantes desembarcaram com a sensação de missão cumprida. ;Há três edições, os alunos brasilienses vencem essa fase. Cumprimos nossa missão;, comentou Daiane, estudante de Brazlândia que aprendeu a cuidar de plantas com a mãe. ;Treinamos um ano para representar o DF;, completou Rodrigo, morador de Recanto das Emas e que ainda pretende cursar arquitetura.

O Senai investiu cerca de R$ 1 milhão na capacitação dos alunos nas 20 áreas de conhecimento oferecidas. Para o coordenador de educação profissional do Senai, Romerito Lima, as medalhas são resultado de muito trabalho e dedicação dos alunos e professores. ;Não é milagre, é trabalho, é treinamento e mais de 10 horas por dia de dedicação e amor.; É a primeira vez que brasilienses trazem tantas medalhas. Na última competição nacional, em 2008, os 17 participantes vieram com quatro medalhas, sendo duas de ouro. Nesta, 21 alunos ganharam nove medalhas. Agora, os estudantes competem com os primeiros colocados dos outros estados para conseguir uma vaga na World Skills, a maior competição mundial de talento aplicado ao trabalho, que se realiza em Londres (Inglaterra), em 2011.


Brasilienses de peso


OURO

Willian Grassioti
Primeiro lugar em mecânica de refrigeração

Jecivaldo Oliveira
Primeiro lugar em aplicação de
revestimento de cerâmica

Daiane Rodrigues e Rodrigo Pires
Primeiro lugar em jardinagem e paisagismo


PRATA

Israel Marcos Silva
Segundo lugar em segurança do trabalho

Kalébio José Soares
Segundo lugar em marcenaria



BRONZE

Bruna Pereira
Terceiro lugar em design de moda

Eber Alves
Terceiro lugar em instalação elétrica e predial

Guilherme Caixeta
Terceiro lugar em mecânica de automóveis

André Luiz Sampaio
Terceiro lugar em design gráfico



Talento universal


Os projetos paisagísticos do Teatro Nacional, do Itamaraty e do Palácio do Jaburu, onde mora o vice-presidente, são de Burle Marx. Ele também criou vários jardins do Parque da Cidade. Burle Marx aprendeu sozinho a lidar com a botânica, ciência que estuda as plantas. O amor à natureza começou quando ele tinha 19 anos e visitou em Berlim, na Alemanha, um jardim de espécies tropicais. Encantado, decidiu que também queria trabalhar com isso. Quatro anos depois, ele fez seu primeiro projeto. O que nem todo mundo sabe é que o paisagista também estudou pintura na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Ele morreu em 4 de junho de 1994, aos 84 anos, de câncer. Sua obra está cada dia mais viva no verde dos arbustos, no colorido das flores, na alegria irradiada pela beleza de seus jardins.

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