Ana Maria Campos
postado em 16/03/2010 08:27
Na reta final para a escolha do nome que vai representar o PT na sucessão do governador afastado e preso José Roberto Arruda (sem partido), os dois pré-candidatos petistas vão se enfrentar nesta noite no único debate da campanha no processo de eleição direta (PED) do partido. Para evitar um confronto entre os adversários, o duelo terá um mediador: o presidente nacional da legenda, José Eduardo Dutra, se sentará entre os dois adversários. Embora o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz e o deputado federal Geraldo Magela garantam que não estão dispostos a baixar o nível, há uma expectativa de que pontos sensíveis dos concorrentes sejam abordados nas perguntas que serão feita pela plateia.As regras do debate dificultarão um embate mais acirrado. Um candidato não poderá fazer pergunta para o outro, o que já reduz o risco de conflito. Alfinetadas, no entanto, poderão ocorrer no tempo que cada um terá na explanação inicial ou mesmo durante as respostas que darão às perguntas provocativas do público no Hotel San Marco, onde será realizado o debate. A direção do PT só permitirá a entrada de jornalistas e de filiados do PT, como forma de coibir a participação de adversários com intenção de atrapalhar o processo de discussão petista.
Um dos assuntos controversos a ser tratado é a suposta dificuldade de Agnelo em explicar a origem dos recursos para a compra da casa em que vive no Lago Sul. Os aliados de Agnelo atribuem a Magela o vazamento de informações com enfoque negativo na pré-campanha eleitoral para atrapalhar o crescimento do ex-ministro do Esporte na disputa. Magela, por sua vez, declarou publicamente ontem que os jornalistas responsáveis pela reportagem sobre a compra da casa de Agnelo estariam autorizados a informar a fonte, caso, ele tenha ajudado a levantar informações que respaldaram a denúncia.
A disputa no PT de Brasília preocupa a coordenação da campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Há um receio de que a política do Distrito Federal, pela gravidade da crise institucional deflagrada pela Operação Caixa de Pandora, acabe por respingar na corrida ao Palácio do Planalto, já que todos os lances da sucessão na capital do país têm repercutido nacionalmente. Por isso, Dutra chamou Magela e Agnelo na semana passada para uma conversa. Ele tentou buscar um acordo para evitar as prévias, mas ninguém cedeu.
Internet
Diante disso, o presidente nacional do PT fez um apelo pelo alto nível da discussão e pediu o adiamento do debate que originalmente ocorreria ontem para a noite de hoje, quando Dutra poderia acompanhar. Os dois pré-candidatos deverão se enfrentar nas urnas no próximo domingo, quando o resultado deverá ser anunciado. Os dois garantem, em entrevista ao Correio, que em caso de derrota buscarão a unidade do partido e apoiarão o vencedor das prévias.
Mas a troca de farpas nessa fase pode deixar sequelas. Magela garante que não tem feito provocações, mas os aliados de Agnelo atribuem aos adversários várias acusações que circulam pela internet. Na tarde de ontem, o ex-presidente do PT-DF Chico Vigilante contra-atacou. Protocolou uma denúncia na direção regional do PT de suposto uso da gerência regional da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) na campanha de Magela. O órgão é comandado pela ex-deputada distrital Lúcia Carvalho, que integra a mesma corrente Movimento PT de Magela. O deputado federal nega a acusação.
Na disputa interna, Agnelo Queiroz tem a preferência do Palácio do Planalto, dos quatro deputados distritais e da corrente Articulação, que tem como representantes no DF o atual presidente regional, Roberto Policarpo. Magela, por sua vez, tem mais tradição no partido e capacidade para buscar aliados na militância, com o discurso de que poderá derrotar o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), como chegou perto de acontecer em 2002.
Assim que chegar ao fim a disputa interna, além de juntar os cacos, os petistas terão de entrar na segunda fase da costura política, que é a negociação para montagem da chapa. O PT está disposto a oferecer o cargo de vice-governador e uma das vagas de senador. Um dos candidatos ao Senado deverá ser petista. A expectativa inicial era de que Agnelo seria candidato ao Executivo e Magela disputaria o Senado. Como o acordo inicial, sacramentado pelo Palácio do Planalto, foi rompido, quem perder as prévias deverá disputar uma vaga de deputado federal.
O deputado distrital Chico Leite (PT) tem se colocado como uma possibilidade para o Senado, inclusive com intenção de concorrer a prévias internas. Ele avalia que o PT abriu a chance para Agnelo e Magela disputarem o GDF. Em caso de derrota, seria democrático, na visão de Chico Leite, que outro filiado ao partido tivesse a possibilidade de se apresentar no páreo.
Entrevista Agnelo Queiroz e Geraldo Magela
Por que não foi possível chegar a um acordo que evitasse as prévias e as trocas de acusações?
Agnelo ; Houve acordo que foi descumprido unilateralmente pelo Magela. Esse debate de baixo nível atribuo a um certo desespero, mesmo porque é inconcebível que uma discussão interna que vamos enfrentar com adversários externos possa virar um debate pessoal, violento e inescrupuloso.
Magela ; Porque nós queremos disputar o mesmo cargo. Mesmo que eu tenha ouvido a possibilidade de o Agnelo aceitar a possibilidade de ser senador, as forças políticas que o apoiam não concordaram. Não havendo acordo, a prévia é o instrumento mais democrático.
A troca de acusações nas prévias vai prejudicar a campanha do PT ao governo?
Agnelo ; Pode (acontecer) porque fazer da disputa interna uma batalha desse nível, do tudo ou nada, com grande irresponsabilidade, é evidente que ajuda os adversários externos e expõe o partido inclusive nacionalmente.
Magela ; Não há troca de acusações. Há um debate em que a militância se envolve, que é natural no processo de disputa. No dia 22, quem for indicado candidato receberá o apoio do outro e a militância estará unida.
O que é mais grave entre todas as denúncias da Operação Caixa de Pandora?
Agnelo ; O esquema de corrupção sistêmico, uma organização criminosa que envolve praticamente todos os órgãos de governo, fazendo da administração pública um meio de enriquecimento ilícito.
Magela ; A própria existência de um sistema endêmico no DF, envolvendo o Executivo e o Legislativo. A rede de corrupção é o mais grave.
A crise favorece o PT na campanha ao GDF?
Agnelo ; Favorece porque o PT é uma alternativa para tirar o Distrito Federal dessa situação, resgatar a esperança, a credibilidade e fazer um governo transparente, ético, de transformação. Mas nós não ficamos contentes com isso porque o desgaste da imagem do DF também atinge todos os moradores, mesmo que não mereçam.
Magela ; Ela pode favorecer se o PT tiver a clareza de fazer compromissos claros da defesa de uma limpeza ética e de um programa de mudanças. O PT tem que saber aproveitar a oportunidade porque senão o Roriz pode voltar a governar o Distrito Federal.
Você é a favor de intervenção federal no DF?
Agnelo ; No momento, não, porque as instituições passaram a funcionar, a Câmara Legislativa retomou o comando, tem uma direção e está trabalhando no sentido da apuração e punição dos culpados. O governador está preso e o vice já renunciou. Portanto, podemos ter a saída da crise pela linha sucessória
Magela ; Sou radicalmente contra a intervenção porque acredito que não há razões sociais que justifiquem isso e no campo político as instituições estão funcionando normalmente, mesmo que não seja do jeito que nós gostaríamos. Não há razão para intervenção.
O governador Arruda deve ficar preso até o fim da investigação da Caixa de Pandora?
Agnelo ; A interferência dele, usando os instrumentos de governo, a própria polícia, para impedir a investigação comprometeu definitivamente qualquer atitude que assegure a liberdade para investigação. A decisão da Justiça é correta.
Magela ; Acho que a Justiça tem sido sábia nas decisões que tem adotado. Se há evidências de interferências nas investigações, essas interferências têm de ser coibidas.
A Câmara Legislativa tem legitimidade para discutir o impeachment de Arruda e investigar denúncias de corrupção?
Agnelo ; Fora os parlamentares que estão envolvidos, a Câmara tem legitimidade para prosseguir com celeridade e nós devemos dar esse voto de confiança para que os parlamentares que lá estão possam responder essa tarefa tão difícil da nossa cidade, sob pena de fragilizar o poder Legislativo local
Magela ; Não há nenhuma legitimidade da bancada que era apoiadora do atual governo. No entanto, não é possível analisar a Câmara Legislativa como se todos fossem iguais. É preciso fazer diferenças e hoje a Câmara está conseguindo responder às expectativas e às necessidades da população no tocante à crise.
Por que o senhor é melhor candidato ao governo do que seu adversário?
Agnelo ; Não sou melhor do que ninguém. Reúno melhores condições para representar o projeto do PT, dos nossos aliados, da sociedade, pela minha experiência de 20 anos de vida pública e por estar preparado para governar. Reúno mais condições de ganhar eleição, porque tenho menos rejeição e relação forte com amplos setores da sociedade, até com os que não estão no campo da esquerda.
Magela ; Com todo respeito ao meu companheiro Agnelo Queiroz, eu considero que quem disputou e teve uma campanha vibrante, vigorosa e vencedora contra Roriz em 2002, pode vencer agora. Em 2002, estavam Roriz, Arruda, Paulo Octávio, todos juntos. Agora eles estão separados. Meu maior objetivo é não deixar Roriz voltar e eu tenho melhores condições para enfrentá-lo.
O senhor vai ganhar as prévias?
Agnelo ; Vou ganhar as prévias. A grande maioria das forças do PT me apoia, os quatro parlamentares do PT, lideranças sindicais, a grande maioria dos diretórios, o movimento social, popular, estudantil e agora com toda a campanha tenho percebido na base, na militância, grande expectativa de ganhar as prévias e fazer uma aliança ampla para ganhar o governo.
Magela ; Eu estou convicto de que hoje tenho todas as condições de vencer as prévias. Tenho recebido muitos apoios desde o dia em que lancei minha candidatura e esses apoios têm aumentado nos últimos dias. Tenho todas as condições de vencer.
Se não ganhar as prévias, o que fará depois?
Agnelo ; Sou um soldado do partido e vou ajudar o projeto partidário. Não tenho preferência individual porque não tenho intenção de disputar eleição proporcional e agora minha vontade de fato é executar o programa do partido.
Magela ; Não sendo o vencedor das prévias, farei um apelo público de unidade do partido no dia 21. Caso eu não seja o vencedor, declararei apoio e unidade do partido no mesmo dia.