Flávia Maia
postado em 16/03/2010 09:00
Caneta, papel, computador e muita criatividade. Assim nasceu o 802 Notícias, sucesso no Centro de Ensino Fundamental 802, no Recanto das Emas. O semanal começou com 100 exemplares, mas a tiragem não era suficiente para atender a demanda de leitores. Por isso, a ideia é não só prosseguir com o jornal, como ampliar a quantidade de exemplares.Em suas quatro edições, o 802 Notícias mudou, melhorou e foi ganhando leitores. Mas essa conquista de público não foi fácil, muito menos ao acaso, ela se deu graças a muita dedicação, planejamento e ação. Características que os alunos do CEF 802 tinham de sobra e usaram como combustível de trabalho na construção do primeiro jornalzinho da escola.
Agora, a Gangue do Jornal, como se denominaram os autores da primeira experiência jornalística da escola, está passando o bastão para outros estudantes. É que os alunos eram da 8; série e já deixaram o colégio para ingressar no ensino médio. Para garantir a continuidade, os professores estão selecionando os interessados em se aventurar na caçada à informação. ;A Gangue do Jornal deixava alguns exemplares por sala e sempre tinha gente querendo mais;, conta a diretora do CEF 802, Maria do Socorro Bandeira Lopes.
Lucas Cirqueira, 15 anos, foi um dos idealizadores do projeto. Ele e mais 10 colegas se revezavam nos cargos que a estrutura de um jornal exige: repórteres, editores e diagramadores. A impressão ficava por conta dos próprios alunos, mas as cópias eram divididas entre eles e a escola. A redação era móvel, ou melhor, funcionava a cada dia na casa de um estudante diferente, de preferência naquela que tivesse um computador. ;Íamos para a casa de um ou outro, aí um ficava responsável pelas imagens, outro digitava os textos, e outro procurava assuntos para colocar no jornal;, explica Lucas, que até pensa em se tornar um jornalista. ;Quem sabe, né?;, questiona, sem jeito, o sorridente aprendiz de repórter.
Motivação
O 802 Notícias faz parte do projeto Superação jovem e foi incentivado por ações como o Leio e escrevo meu futuro, parceira entre a Secretaria de Educação e o Correio Braziliense que hoje leva a 199 escolas em todo o DF conteúdo noticioso para a formação crítica do cidadão. ;No começo, o Correio chegava e ninguém lia, agora, não dá para quem quer;, diz a diretora.
A leitura a mais abre os horizontes dos alunos. O 802 Notícias, por exemplo, nasceu da vontade de levar informação a outros estudantes da escola. Na composição do jornal, os alunos pesquisaram não só o conteúdo como a forma de jornais tradicionais, e à medida que as edições saíam, ganhavam mais detalhes. ;Eu lia o caderno de Informática para me antenar sobre as coisas e passar para o pessoal;, lembra Lucas.
O professor Everton Rosa, 33 anos, foi o maior motivador do semanal. Ele ajudou os estudantes a montarem um projeto editorial para o jornalzinho, com direito à pesquisa de público. ;Eu disse a eles que tinham que ter um planejamento e que era importante saber o que o leitor queria ler no jornal;, ensina.
Internet, namoro, serviços da escola ; como calendário, notas, festas ; e o folhetim Madame Cassemira eram os principais assuntos abordados e que tinham maior repercussão no colégio. ;O problema é que as histórias da Madame Cassemira estavam ficando muito picantes, aí tive que explicar que nem tudo dá para colocar no jornal porque pessoas de diferentes idades o leem;, orienta a professora de português Maria das Graças Gomes, 42 anos.
Índice
Esclarecer assuntos, como de onde vêm os recursos da escola, tratar de temas que chamam a atenção dos jovens ; de sexo a futuro profissional ; e estimular os alunos a participarem ativamente da vida escolar são ingredientes mais que necessários para uma boa gestão de um centro de ensino. Reunidos, eles favorecem não apenas a melhoria das notas dos alunos, mas aumentam a autoestima dos jovens. Esse é o objetivo da direção do CEF 802 do Recanto das Emas. A escola, que já teve casos de estudantes encontrados com revólveres dentro de sala, encara o desafio de inclui-los e de se transformar em agente de integração social com educação de qualidade.
Uma vez que a escola abre espaço para as ideias dos alunos, eles se sentem incentivados e respondem aos projetos educacionais propostos pelos professores. A escola teve uma pequena melhora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)(1), de 4 para 4,5 pontos em dois anos ; da 1; à 4; série, a média nacional nesse período subiu de 3,8 para 4,2.
1 - Desempenho
O Ideb foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) com o intuito de reunir em um só indicador o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica ; para as unidades da Federação e para o país ; e a Prova Brasil ; para os municípios.
O número
199
Quantidade de escolas públicas do DF que participam do programa Leio e escrevo meu futuro