Cidades

Inquérito da Caixa de Pandora deve ficar no STJ

Mesmo que Arruda perca o foro privilegiado, há outro investigado com essa regalia, o que mantém em instância superior o processo sobre a rede de corrupção do GDF para os aliados. Advogados pedem, mais uma vez, a revogação da prisão do governador cassado

Renato Alves
postado em 17/03/2010 08:22
Em princípio, a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de cassar o mandato do governador José Roberto Arruda (sem partido) não tira do Superior Tribunal de Justiça (STJ) o inquérito que o levou à prisão. Isso porque conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) tem foro privilegiado, e um deles, Domingos Lamoglia(1), responde ao mesmo processo, que diz respeito a um suposto esquema de distribuição de propina à base aliada do governo local. As denúncias de corrupção são investigadas na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça analisará novo pedido de liberdade de Arruda: os ministros só vão se reunir em 7 de abrilOs advogados de Arruda anunciaram, ao fim da sessão de ontem, que entrarão com efeito suspensivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para manter o cliente no cargo. No entanto, caso não tenham êxito, as duas ações penais(2) instauradas contra o governador no STJ vão para o Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), pois nelas não há acusados com foro privilegiado. Com Arruda sem mandato, o STJ não precisa de autorização da Câmara Legislativa(3) para processá-lo. As explicações foram dadas por dois ministros da Corte. Os magistrados pediram para não serem identificados por questões éticas.

Antes da decisão do TRE, o Ministério Público local (MPDFT) havia ajuizado ação civil pública, com pedido de antecipação de tutela, pedindo a decretação da suspeição de 10 deputados distritais, dois suplentes já convocados para assumir o mandato e outros 14 políticos que constam da lista de suplência do TRE (leia matéria abaixo). Tudo para evitar a participação deles na votação do pedido de licença para abertura de processo no STJ. Mas a cassação do mandato de Arruda torna sem efeito a ação do MPDFT.

Também ontem, no início da tarde, advogados de Arruda entraram com pedido de revogação da prisão preventiva do cliente ao STJ. Imediatamente, o documento foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), para manifestação, por ordem do ministro Fernando Gonçalves. Ele é responsável pelo Inquérito n; 650, que apura ao suposto esquema de propinas. O governador e outras cinco pessoas estão presas desde 11 de fevereiro, acusadas de tentar corromper uma testemunha. O Supremo Tribunal Federal (STF) já negou pedido de habeas corpus a Arruda.

Não há prazo para uma resposta do MPF para o pedido ao STJ, mas ela deve sair em até cinco dias. Porém, o caso só será avaliado definitivamente, no mínimo, daqui a três semanas. O julgamento cabe à Corte Especial do STJ, que se reúne a cada 15 dias. A próxima sessão seria em 31 de março, mas a data cai no feriado da Semana Santa. Com isso, os ministros voltam a se encontrar em 7 de abril.

No pedido feito ao STJ, a defesa de Arruda invocou o artigo 316 do Código de Processo Penal. Pelo texto da lei, ;o juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista;. Os advogados alegaram que o cliente entregou-se espontaneamente, tão logo soube da decretação de sua prisão. No entanto, afirmam que o governador permanece encarcerado na PF em condições ;inadequadas, vexatórias e à margem da lei;, sem privacidade com advogados, acesso a jornais, rádio ou televisão. Para os advogados, trata-se de pena antecipada.

Na Papuda
A prisão do governador foi pedida pelo MPF após o conselheiro do Metrô do DF Antônio Bento ser flagrado supostamente tentando subornar o jornalista Edson Sombra para que alterasse depoimento à PF sobre a investigação. Para os advogados de Arruda, são ;improcedentes e falaciosas as alegações articuladas pelo Ministério Público no sentido de que teria havido corrupção de testemunha;. Eles acrescentam: ;O flagrante de Antônio Bento foi uma vil urdidura destinada a fabricar motivo capaz de ensejar pedido de prisão preventiva; de Arruda. Afirmam ainda que Antônio Bento seria funcionário de Edson Sombra.

Além de Bento, estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda o ex-secretário de Comunicação do DF Weligton Moraes, o suplente de deputado distrital Geraldo Naves, o ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB) Haroaldo Brasil de Carvalho, e o secretário do governador afastado, Rodrigo Diniz Arantes.

1 - Conselheiro
Ex-chefe de gabinete de Arruda na Câmara dos Deputados, Domingos Lamoglia é investigado por supostamente determinar quanto deveria ser arrecadado de dinheiro na rede de corrupção. A denúncia foi feita pelo delator do esquema, Durval Barbosa.

2 - Panetones
Arruda é alvo de duas ações por falsidade ideológica: a suposta falsificação de recibos para comprovar a compra de panetones e o suposto suborno ao jornalista Edson Sombra.

3 - Licença prévia
Em 6 de março, um dia após o STF negar habeas corpus a Arruda, o STJ pediu autorização à Câmara Legislativa para abrir duas ações penais contra ele por obstrução à Justiça e falsidade ideológica. Esse pedido de aval, embora questionado em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), está previsto no Lei Orgânica do DF.

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