Juliana Boechat
postado em 21/03/2010 08:40
Fim do dia em Brasília. As paradas de ônibus estão lotadas de pessoas ansiosas para chegar em casa. O desconforto é grande. Estruturas pequenas impossibilitam a permanência da grande quantidade de passageiros embaixo da proteção. Os bancos são insuficientes para tenta gente. Alguns pontos não têm teto. As paradas estão sujas, pichadas e tomadas de papéis de propaganda. Algumas estão mofadas, com infiltrações e correm o risco de desabar. Nenhuma parada tem informação para o passageiro de primeira viagem, que é obrigado a se consultar com o dono da banca de jornal ou o camelô.O Distrito Federal conta hoje com 3.948 pontos de ônibus. Desses, 2.549 contam com a armação de concreto e 889 são apenas placas de trânsito. O DFTrans, órgão ligado à Secretaria de Transportes e responsável pelos pontos, promete 450 novas paradas de concreto até agosto deste ano. O padrão de concreto armado e pré-fabricado em formato de um ;L; de cabeça para baixo será mantido. ;Quando chove, a laje inclinada leva a água para trás. Assim, a manutenção efetiva é mais barata;, explicou o gerente de Planejamento e Projetos do DFTrans, Jorge Luís Miranda Nazaré.
Santa Maria ganhou novas paradas de ônibus há aproximadamente dois meses. Os pontos do Sudoeste e da Área Octogonal são, aos poucos, revitalizados. Manteve-se o padrão, mas a área construída foi triplicada e duas rampas de acesso a portadores de deficiência física, instaladas. A doméstica Zenira Barbosa de Sousa, 43 anos, aprovou a reforma do ponto da Estrada Parque Taguatinga nas proximidades da Octogonal. ;Antes, chovia dentro da parada, molhava todo mundo. Agora, além de mais bancos para sentar, estamos mais seguros;. Durante esta semana, o Correio percorreu as ruas do DF e identificou vários casos de degradação das paradas de ônibus.
Apenas uma placa indicativa
Em vários pontos do DF, a parada de ônibus é identificada apenas por uma placa. Sem cobertura, estrutura de proteção, iluminação ou bancos, os passageiros ficam nas calçadas. Na maioria dos casos, não há recuo para o veículo parar e ele ainda atrapalha o trânsito na via. Os moradores do Setor P Sul, em Ceilândia, passam por essa situação diariamente. A realidade se repete na Via Estrutural, onde poucas paradas contam com a cobertura.
Em frente à Cidade do Automóvel, uma placa na beira da via reúne passageiros que trabalham nas concessionárias e nas lojas de carro no fim do dia. Ali não tem calçada, recuo para o ônibus, ou qualquer estrutura para o passageiro. Todos se equilibram no meio-fio, ficam na grama, e, quando veem o ônibus, têm de ir até o meio da pista ;, cuja velocidade é de 80km/h ; para acenar.
;Aqui é a única alternativa. A outra parada é muito longe e morremos de medo de um carro desgovernado nos atingir na beira da pista;, disse o ajudante de pedreiro Geraldino Monteiro da Silva, 60 anos. O pedreiro Ivanildo Ferreira Sousa, 43 anos, acrescentou: ;E tem ônibus que nem para por ser perigoso e pela falta de sinalização. Mas aqui também é parada de ônibus e precisar voltar para casa;.
Propaganda e pichações
No início do ano, as paradas de ônibus da W3 Sul estavam pintadas de branco. Mas hoje, o cenário é diferente. As estruturas de tijolo e concreto estão tomadas por pichações e cartazes de propaganda. Alguns passageiros preferem esperar o ônibus em pé a sentar nos bancos. ;Quando estou muito cansado e tenho que sentar, coloco um jornal em cima do banco. É tudo muito sujo;, reclamou o pintor Anézio Alves de Almeida, 28 anos. Ele sugeriu a pintura de grafite nas paradas de ônibus para evitar a ação de vândalos e deixar a cidade mais bonita. ;Você percebe que onde tem uma arte bonita, ninguém picha em cima;, disse.
Osvaldo Lima de Almeida, 22 anos, também fica incomodado com a sujeira. No caso do ponto de ônibus da 503 Sul, ele ainda reclamou da situação da calçada. Próximo à parada, pedaços inteiros do piso estavam arrancados. Algumas partes ficaram pelo meio do caminho. ;É perigoso. Alguém que corre aqui prestando a atenção no ônibus pode torcer o pé;, comentou o morador do Itapoã. O amigo acrescentou: ;Além disso, o buraco vira uma verdadeira lama com a quantidade de água e barro;.
Iluminação precária
Por volta das 19h, as paradas de ônibus desaparecem no breu da W3 Norte. Mesmo com os postes acesos, os passageiros sofrem com a pouca luz. As paradas de concreto armado não têm iluminação própria. Quando as lâmpadas das vias públicas queimam ou simplesmente não acendem, o jeito é aproveitar os faróis dos carros ou a luz do comércio mais próximo.
Modernos, os pontos de vidro fumê contam com lâmpada na parte interna da estrutura que colabora com a segurança dos passageiros. O receio de ficar na parada de ônibus depois do escurecer é comum em todo o DF.
A auxiliar de farmácia Adriana Souza, 29 anos, chega à parada da 503 Norte por volta das 19h. O ônibus para Brazlândia costuma passar às 19h40. Enquanto espera, no escuro, ela abraça a bolsa com força e fica quieta no banco para não chamar a atenção. ;Tem dia que todo mundo pega ônibus e eu fico aqui sozinha, no escuro;, contou.
Para fugir dessa situação, Adriana costuma pegar um ônibus para a Rodoviária do Plano Piloto antes de ir para casa. Ela gasta mais dinheiro com passagem, mas garante que vale a pena pela segurança. ;É mais claro e mais movimentado;, disse.
Estrutura em más condições
Pode ser em áreas afastadas ou no coração da cidade: os moradores de Taguatinga sofrem com as más condições das paradas de ônibus em todos os lugares. Os maiores problemas são encontrados nas estruturas de concreto. No ponto próximo à C-12, na Avenida Helio Prates, os passageiros evitam ficar embaixo da laje. Com mofo, ferros à mostra e rachaduras, o medo da estrutura desabar é iminente. Quem depende do transporte público ainda sofre com a chuva. ;Quando chove, molha mais embaixo da parada do que do lado de fora. Somos obrigadas a nos proteger sob o toldo da loja;, reclamou a costureira Deuzinete de Aquino Lopes, 60 anos, moradora do Gama.
Na QNH 11, o banco de concreto teve de ser apoiado em uma pedra para não cair. Em frente ao Estádio Serejão, a parada de ônibus não tem cobertura. ;O vento levou uma parte do teto no início do ano passado. Depois, algumas pessoas terminaram de quebrar;, contou o auxiliar de supermercado Edvan da Cunha Prado, 26 anos. Quem espera ônibus ali é obrigado a se proteger do sol e da chuva embaixo da passarela de pedestres. ;Falta banco e informação. Alguns ônibus nem param aqui porque pensam que não é ponto de espera;, contou Edvan.