Ana Maria Campos
postado em 21/03/2010 11:06
Foram quase dois anos de disputas, tentativas de acordos e até puxadas de tapetes. Hoje haverá uma decisão oficial sobre quem vai representar o PT na corrida eleitoral de outubro de 2010 ao Palácio do Buriti. Os petistas vão às urnas para optar entre Agnelo Queiroz e Geraldo Magela. A votação ocorrerá em todo o Distrito Federal, em 20 diretórios da legenda, com resultado previsto para ser anunciado no início da noite deste domingo.Pela primeira vez, o PT adotará urnas eletrônicas emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral, numa tentativa de evitar fraudes denunciadas em outras votações do partido, como no processo de eleição direta (PED) para escolha do presidente regional ocorrido há dois anos. Na ocasião, houve um embate entre o ex-deputado distrital Chico Vigilante e o grupo do deputado federal Geraldo Magela que apoiou Lenildo Moraes. Houve acusações de fraude dos dois lados e a disputa só foi definida, em favor de Vigilante, com a interferência da direção nacional.
Desde então, não houve embate tão acirrado como agora. No último PED, em outubro, Magela e a corrente Articulação fecharam um acordo para eleger Roberto Policarpo presidente regional do PT e apoiar a candidatura de Agnelo Queiroz ao Executivo. Em troca, Magela seria o candidato preferencial do PT ao Senado. A paz estava selada. Mas o quadro era bem diferente. O então governador José Roberto Arruda, hoje cassado, preso e sem partido, era considerado favorito nas eleições.
A Operação Caixa de Pandora teve impacto no PT. Depois do início da crise, Magela desfez o acordo e decidiu voltar ao páreo. O deputado federal alegou que a direção do PT começara a negociar candidaturas ao Senado com outros partidos, como o PDT do senador Cristovam Buarque, sem convidá-lo, criando incertezas sobre a força de sua campanha. Também reclamou de que Agnelo Queiroz teve informações privilegiadas sobre a crise que se instalou na capital do país, por ter visto as gravações de Durval Barbosa meses antes da deflagração da Operação Caixa de Pandora.
O grupo de Agnelo defende que essas foram as justificativas de Magela para reassumir a pré-candidatura ao Executivo, quando percebeu que o PT voltou a ter chances reais, as maiores nos últimos anos, de reconquistar o GDF, posto só exercido pelo partido uma vez entre 1995 e 1998, com a gestão do ex-petista Cristovam Buarque. Eles também rebatem que Magela pode não ter visto a videoteca de Durval, mas pessoas ligadas a ele teriam visto, informação confirmada pelo jornalista Edson Sombra, aliado do ex-secretário de Relações Institucionais do DF e mentor da delação premiada que deu origem às investigações relacionadas ao suposto esquema de corrupção no Executivo e Legislativo.
Com Arruda fora das eleições, a tendência é de que mais uma vez o PT polarize as eleições com o ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC. É o que indicam todas as pesquisas de opinião sob consulta no meio político. Agnelo e Magela têm em comum, além do desejo de representar o PT nas eleições, um histórico de embate com Roriz. Em 2002, Magela chegou perto de derrotar o governador que concorria à reeleição. Quatro anos depois, Roriz também parecia imbatível ao Senado, mas acabou suando a camisa para derrotar Agnelo. Nos dois casos, as eleições foram contestadas na Justiça Eleitoral.
Magela se apresenta como o candidato do PT com mais chance de derrotar Roriz, já que ele chegou bem perto desse propósito em 2002. A diferença foi de apenas 25 mil votos. Agnelo se coloca como o concorrente com mais possibilidades de buscar aliados em outros partidos para construir uma frente anti-Roriz. As características pessoais e políticas dos dois concorrentes serão julgadas hoje pelo próprio partido. A expectativa é de que 9 mil petistas participem das prévias. ;Espero anunciar o resultado no começo da noite e no minuto seguinte começar a trabalhar para unir o partido para as eleições;, disse o presidente do PT-DF, Roberto Policarpo. A apuração dos votos será no clube da Assefe, na 912 Sul, a partir das 17h.
PERFIS
Agnelo Queiroz - médico ex-comunista
Aos 51 anos, Agnelo é baiano de Itapetinga. Médico, ele foi filiado ao PCdoB durante mais de 20 anos e se transferiu para o PT em 2008, com a meta de ser o candidato do partido ao Governo do Distrito Federal. Em 2006, o então comunista tentou concorrer ao Executivo, mas o PT não abriu mão de indicar a cabeça de chapa e ele apoiou Arlete Sampaio. Deputado distrital na época da elaboração da Lei Orgânica do Distrito Federal, Agnelo foi três vezes deputado federal, entre 1995 e 2007.
No último mandato, licenciou-se durante três anos e três meses para exercer o cargo de ministro do Esporte na primeira fase do governo Lula. Em 2006, Agnelo deixou o ministério para concorrer ao mandato de senador. Teve 544.313 votos, ou seja, 42,92% do eleitorado, ficando em segundo lugar, atrás de Joaquim Roriz, que alcançou 51,82% da votação, ou seja, 657.217 votos. A disputa foi parar nos tribunais. O PCdoB aguarda julgamento no TSE de uma representação por propaganda extemporânea e uso da máquina administrativa na campanha de Roriz ao Senado.
Geraldo Magela - bancário sindicalista
Aos 53 anos, Magela é mineiro de Patos de Minas. Bancário do Banco do Brasil, ele foi do Sindicato da categoria. Filiado ao PT desde 1980, o petista foi duas vezes deputado distrital , uma delas na primeira legislatura, quando foi elaborada a Lei Orgânica do DF. Entre 1995 e 1996, presidiu a Câmara Legislativa. No governo de Cristovam Buarque, exerceu durante meses o cargo de secretário de Habitação. Depois elegeu-se deputado federal em dois mandatos. No ano passado, teve a cobiçada função de relator-geral do orçamento da União para 2010.
No governo Lula, Magela também teve cargo de destaque: foi presidente do Banco Popular. Em 2002, Magela concorreu ao Governo do Distrito Federal contra a reeleição de Joaquim Roriz. A disputa foi apertada. O petista teve 495.498 votos, ou seja, 40,86% do total. Foi quase um empate com Roriz que conquistou 521.093 votos, o correspondente a 42,97% do eleitorado. As eleições tiveram um terceiro turno na Justiça Eleitoral que apreciou representações do Ministério Público e do PT contra Roriz. Por quatro votos a dois, no entanto, o TSE julgou improcedentes as ações por falta de provas.