Juliana Boechat
postado em 22/03/2010 07:25
Agnelo Queiroz é o nome do Partido dos Trabalhadores (PT) para concorrer ao governo do Distrito Federal nas eleições de outubro. Depois de uma disputa acirrada com o deputado federal Geraldo Magela, o ex-ministro dos Esportes garantiu os votos da maioria dos militantes da legenda nas urnas durante o dia de ontem. Agnelo recebeu 4.656 votos, que representa 56, 21% de aprovação. Magela arrebatou 3.627, ou 43,79%. O DF conta hoje com 35 mil filiados ao PT, mas apenas 30% ; cerca de 8 mil ; são atuantes e vão às urnas. O próximo passo do partido, além de reunir os cacos deixados pelas prévias, é buscar alianças para alcançar a cadeira no Palácio do Buriti.Por volta das 18h de ontem, Agnelo chegou ao clube da Asefe, na 912 Sul, onde ocorreu a apuração dos votos. Todos estavam apreensivos. Mas conforme a apuração paralela era feita pelos militantes, a vitória se aproximava do ex-ministro com boa margem de diferença e o alívio tomou conta do galpão. Antes mesmo do anúncio do resultado oficial, os aliados de Agnelo comemoravam a conquista e o chamavam de ;governador;. Ao saber do resultado de boca de urna, Magela foi até o local cumprimentar o então adversário. A fim de mostrar a união do partido, após o embate, os dois subiram juntos no palco para falar a cerca de 200 militantes que ocupavam o galpão. ;A prévia é vitória do PT. Uma candidatura apoiada pela militância do partido ; e não apenas pela cúpula ;, sai fortalecida para as eleições;, defendeu Magela.
Agnelo manteve o discurso de união no microfone. ;Tudo agora ficou para trás. O que importa daqui para frente é a unidade do partido. Amanhã já começaremos a procurar alianças de outras legendas para a disputa de outubro;. Durante as prévias, Agnelo foi acusado de não ter informado a origem do dinheiro para comprar a casa onde mora no Lago Sul. Ele defendeu o PT como uma alternativa política para a população do DF. ;As denúncias foram desmoralizadas e os militantes perceberam isso. A população quer uma mudança radical. E essa mudança radical somos nós;, defendeu. Enquanto ele discursava, bandeiras do PT foram erguidas no salão.
Quando os números oficiais saíram, perto das 19h, muitos militantes já tinham ido embora. Ainda assim, gritos de alegria ecoaram pelo galpão com o anúncio do TRE. O novo candidato à cadeira de governador do DF recebeu abraços fortes, tapas nas costas e palavras de força. O presidente regional do partido, Roberto Policarpo, gostou do resultado. ;O PT é assim. Discute, discute, mas sempre acaba junto. Os dois tinham condições de unir a militância e se tornar uma alternativa ao governo. Estamos preparados;, garantiu. Magela ainda não decidiu quais serão os seus próximos passos políticos. ;Só vou decidir depois de ouvir todos os que me apoiaram. Estou disposto;, explicou.
A votação foi realizada das 9h às 17h de ontem, em 20 diretórios da legenda espalhados pelo DF. Pela primeira vez, o PT utilizou urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em disputas internas. Foi uma forma de evitar qualquer denúncia de fraude contra os candidatos, como ocorreu no processo de eleição direta (PED) de dois anos atrás. Na ocasião, houve a denúncia de manipulação dos resultados. O problema só foi resolvido com interferência da direção nacional.
Corpo a corpo
Magela e Agnelo começaram cedo a buscar votos. Visitaram os pontos de votação. Agnelo antes das 11h havia encontrado aliados no Gama e em Santa Maria. Só então chegou à sede regional do partido, no Conic, para votar. De lá, seguiu para Taguatinga, Ceilândia, Planaltina, Sobradinho e Cruzeiro, zonais onde contava com maior apoio.
Magela percorreu locais de votação no Recanto das Emas, Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. A recepção era sempre calorosa. Quando ele desceu do carro em frente ao Centro de Ensino Fundamental 301 do Recanto das Emas, foi aplaudido por quase 100 militantes que estavam ali. Todo mundo queria dar um abraço caloroso no político. Alguns gritavam, em coro: ;Está chegando aí o nosso governador!”. Experiente na campanha política do DF, Magela chamava alguns militantes pelo nome. Em Samambaia, o forte apoio se repetiu: ;Estamos aqui firmes e fortes lutando por você;, disse um militante no ouvido de Magela.
entrevista - AGNELO QUEIROZ
Em busca de novas alianças
O senhor ficou surpreso com o resultado?
Não fiquei surpreso. Foi uma disputa dura, limpa e legítima. O coroamento veio àquele que o mereceu.
Que alianças o PT fará para as eleições com a escolha do seu nome?
A direção do partido vai começar a buscar essas alianças a partir de amanhã (hoje). Queremos junto partidos de esquerda, partidos irmãos, que estejam dispostos a combater a corrupção.
Como o senhor avalia a campanha?
Foi um grande esforço. E durante campanhas assim, sempre há exageros por parte de alguns. As denúncias que surgiram contra mim foram desmoralizadas e as militâncias entenderam isso. E agora vamos dar um passo a diante. Todas essas acusações e essas divergências ficaram para trás. É tudo secundário pela unidade do partido. Queremos a unidade total.
O senhor acha que agora se tornará ainda mais alvo dessas acusações?
De jeito nenhum. Se algumas pessoas achavam que poderiam me prejudicar com este tipo de acusação, já perceberam que não é possível. Eles foram desmoralizados.
Quem é o maior adversário do PT nas eleições de outubro?
Não sei. O PT está apontando o meu nome agora. E eu sei que vamos lançar um programa de ética radical para acabar com a corrupção. Se Joaquim Roriz se candidatar, ele é um adversário forte que estamos dispostos a enfrentar. Ainda temos um agravante: somos aqui o palanque da ministra Dilma Rousseff e do presidente Lula. Vamos formar alianças fortes para propor uma boa mudança para a população. É isso que o povo quer.
As denúncias da Caixa de Pandora facilitam a situação do PT nas eleições?
Não sei. O importante é que essas denúncias vieram à tona. E a população não aguenta mais essa situação. Vamos propor a mudança radical e a luta contra a corrupção com uma campanha propositiva, cheia de propostas para o povo.
O que vocês vão propor?
Um governo ético, com melhoria na saúde, na segurança, opção de emprego e oportunidade de renda. É isso que importa.