postado em 22/03/2010 07:00

Para o setor produtivo, a interferência externa na cidade não teria condições de reestuturar os poderes locais abalados com a crise política . ;O que está ruim ficaria ainda pior;, diz Danielle Moreira, presidente da Associação Comercial do DF (ACDF). ;Ouço algumas pessoas falarem da intervenção como algo bom. Isso é ignorância, falta de informação;, emenda a presidente da Associação dos Jovens Empresários do DF (AJE-DF), Tatiana Moura.
O estouro da Operação Caixa Pandora ; em 27 de novembro ; foi suficiente para atingir a economia da capital. Danielle, da ACDF, conta que pelo menos duas multinacionais ; dos ramos farmacêutico e alimentício ; desistiram de instalar indústrias no DF, embora as negociações estivessem avançadas. ;Temos vários investidores estrangeiros de olho em Brasília. A intervenção mancharia ainda mais nossa imagem lá fora;, comenta. ;Até a Copa (em 2014) deixaríamos de sediar. Não haveria tempo hábil para as obras;, acredita.
Danielle diz já ter sido muito criticada por ser contrária à intervenção. Acusam-na de defender empresários investigados por envolvimento na suposta rede de corrupção e pagamento de propina do GDF para os aliados. ;As pessoas não têm noção do que falam, não conhecem o impacto de uma intervenção. Estou protegendo os pequenos e microempresários, que seriam os primeiros a sofrer;, justifica. A crise política por si só, segundo ela, teve o poder de amedrontar consumidores e frear o comércio neste início de ano. ;Todos nós queremos punição sem dó, mas a solução para a cidade se reerguer não é a intervenção.;
O presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Antônio Rocha, lembra que o governo local é o cliente mais importante do setor. Com a intervenção, prevê ele, contratos seriam suspensos, o que afetaria o caixa das empresas, a ponto de quebrar as menos estruturadas. ;A economia iria parar. Fico preocupado com os empregos que seriam perdidos. Até o interventor tomar conhecimento da situação, ele paralisaria as obras, por exemplo, e forçaria as demissões;, discorre.
Na avaliação do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), senador Adelmir Santana (DEM-DF), os reflexos da intervenção dependeriam do viés do interventor. ;O nome seria uma escolha pessoal do presidente. Não há critérios. E se o interventor tiver um viés político? Se ele optar pelo discurso de que está tudo errado, de que todo mundo é ladrão? Não é por aí, a cidade iria parar de vez;, preocupa-se.
Descontaminação
A Fecomércio se posicionou contrariamente à intervenção desde o início da crise no DF. Santana classifica a alternativa como ;extremamente dura; e defende que é preciso ;juízo; nessa hora. ;Não pode prevalecer o espírito de porco. Se está tudo contaminado, vamos descontaminar, mas a intervenção não é a saída. Com o interventor, virão muitos ;interventorzinhos; disso e daquilo. A grande intervenção será em outubro, nas eleições;, sustenta.
O diretor da Federação dos Empreendedores do Brasil (Fenae) no DF, Judson Carlos de Oliveira, diz não ter dúvidas de que a intervenção implicaria desemprego. ;Resultaria em menos emprego, menos consumo e, certamente, afetaria mais os micro e pequenos empresários;, prevê. Para ele, existe interesse político no discurso de quem defende a intervenção. ;Isso é casuísmo puro. O que vai mudar a situação que estamos vivendo não é intervenção alguma.;
Para Tatiana Moura, da AJE-DF, a posse de um interventor provocaria um caos na cidade. ;Seria uma ;bola de neve; de problemas. A intervenção pararia a cidade, pararia tudo;, acredita. ;Temos que confiar, as coisas estão mudando. As pessoas não têm noção do impacto de uma intervenção. Vamos completar 50 anos em abril, não precisamos e não temos por que passar por isso.;
1 - Trâmite
O pedido de intervenção federal no DF foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em 11 de fevereiro. O relator do processo é o próprio presidente da Corte, Gilmar Mendes. Ele deverá produzir um relatório, que será apreciado pelos demais ministros do STF. Não há prazo nem para o parecer de Mendes nem para a votação no plenário do tribunal. Se os magistrados optarem pela intervenção, caberá ao presidente da República nomear o interventor.
O que diz a Constituição Federal
Artigo 34: a União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
# Manter a integridade nacional
# Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra
# Acabar com grave comprometimento da ordem pública
# Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação
# Reorganizar as finanças da unidade da Federação que suspender o pagamento de dívida por mais de dois anos consecutivos ou que deixar de entregar aos municípios receitas tributárias fixadas na Constituição.
# Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial Assegurar a observância dos princípios constitucionais
Depoimentos
Por que sou contra a intervenção

Antônio Rocha, presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra)

Danielle Moreira, presidente da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF)

Adelmir Santana, senador (DEM-DF) e presidente da Fecomércio-DF