postado em 24/03/2010 08:17

Além de ser um atestado de incompetência para resolver os problemas advindos da crise política-administrativa que abalou o Executivo e o Legislativo locais, a intervenção federal pode trazer obstáculos para o andamento das obras de infraestrutura espalhadas pelas cidades. E, como consequência, prejuízos para o mercado imobiliário.
A tese é defendida pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no DF (Sinduscon), Elson Ribeiro Póvoa. ;A intervenção nesse momento é um golpe. Temos a Constituição e a nossa Lei Orgânica, que têm condições de resolver os problemas referentes à sucessão do cargo de governador. As leis estão vigentes e estão sendo respeitadas;, afirmou, dizendo que o Poder Judiciário está cumprindo o seu papel e separando o ;joio do trigo; nas investigações das denúncias de corrupção no DF. Póvoa salientou que, apesar de mensurar alguns possíveis efeitos da intervenção, a ;medida é imprevisível;. ;Dá para saber como ela começa, mas não como termina. Isso vai manchar o aniversário da cidade;, declarou.
O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), Adalberto Valadão, é detalhista ao falar dos prejuízo ao DF decorrentes de uma suposta intervenção. ;O interventor deverá paralisar as obras para rever os contratos do governo. Imagina parar as obras do Noroeste, do Mangueiral, da Linha Verde? As vendas do setor imobiliário vão desacelerar e as pessoas vão ficar sem os empreendimentos, à espera das melhorias;, afirmou. Apesar de reconhecer a gravidade da crise política e de defender a apuração das denúncias do suposto esquema de pagamento de propina no DF, Valadão não apoia o pedido da PGR. ;O reflexo negativo atingirá a economia como um todo;, disse.
O atual processo de amadurecimento político vivido pela população do DF deveria ser repetido nas urnas em outubro, sugeriu o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-DF), Hermes Rodrigues Filho. ;A crise deve servir de lição para as pessoas saberem usar melhor o voto. Nós estamos passando por um problema que ninguém imaginaria que fosse acontecer;, ressaltou. A visão otimista do momento não é refletida no futuro do mercado imobiliário, caso haja a intervenção. ;A despensa de mão de obra das construções civis pode acarretar um efeito dominó no mercado. O peão vai deixar de comprar a televisão que a loja vai deixar de importar, e assim sucessivamente. O comércio deixa de vender e o processo de desenvolvimento da capital vai retrair;, explicou.
Efeitos sentidos
A crise política deflagrada pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), em novembro teve reflexos negativos no primeiro bimestre deste ano no comércio do DF. De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar), Clayton Machado, as vendas caíram de 30% a 35%. ;A queda tradicional de janeiro e fevereiro era de 10% a 15% inferior ao índice registrado nesse ano. A crise enclausurou as pessoas envolvidas direta ou indiretamente. Estão receosas de aparecer, ir a um restaurante, fazer um happy hour;, afirmou.
A baixa no movimento dos estabelecimentos, no entanto, deve piorar caso ocorra a intervenção federal, prevê Machado. ;A comunidade e o governo local serão prejudicados. Se as pessoas não saírem para gastar, a receita vai arrecadar menos. A forma inteligente é fazer com que as instituições continuem fortalecidas e que o Poder Judiciário mantenha o trabalho focado na apuração das denúncias. Não precisamos de intervenção;, defendeu.
No entendimento do presidente Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Antônio Augusto de Moraes, a intervenção federal é uma medida extrema que pode ser evitada. ;Nosso sistema permite a escolha de outras situações antes de apelar para a intervenção. Devem ser cumpridas as etapas do processo previsto em lei, e só no último caso seja escolhida a intervenção. Além de paralisar os investimentos que estão sendo feitos no DF, teria diminuição da renda e do consumo e também demissões;, afirmou. ;O ;efeito cascata; atingiria todos os setores da sociedade.;
"Além de paralisar os investimentos que estão sendo feitos no DF, teria diminuição da renda e do consumo, e também demissões"
Antônio Augusto de Moraes, presidente Sindicato do Comércio Varejista do DF
Agenda
Quando - Nesta quinta (25/3), às 16h
Onde - Representantes de pelo menos 54 entidades da sociedade civil se reunirão para dar um abraço simbólico no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF)
O que - Além do abraço, será entregue ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, um manifesto contrário ao pedido de intervenção no DF.
Depoimentos // Por que sou contra a intervenção

Elson Póvoa, presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil do DF (Sinduscon)

Clayton Machado, presidente do Sindicato de Hotéis,Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar)