Cidades

Presos militares suspeitos de participar de sequestro e assassinato de fazendeiro em Formosa

Serviço de Inteligência da corporação procura o mandante do crime, outro produtor rural

Renato Alves
postado em 25/03/2010 07:19
Duas semanas após oito policiais militares de Formosa (GO) serem afastados do trabalho por suspeitas de integrarem um grupo de extermínio, três soldados e um sargento da mesma unidade foram presos sob acusação de envolvimento em crime de pistolagem. Eles são apontados como autores do sequestro do fazendeiro José Eduardo Ferreira, 56 anos, assassinado há um ano. A morte teria sido encomendada por outro produtor rural, com quem a vítima teria brigado por disputa de terra. O suposto mandante está foragido.

Os quatro PMs suspeitos de participar da execução de José Ferreira foram presos na manhã de ontem, em casa ou no 16; Batalhão da PM de Goiás, sediado em Formosa, município a 79km de Brasília. A ação ficou por conta do Serviço de Inteligência da corporação, mas o pedido de prisão partiu da Divisão Antissequestro da Polícia Civil. ;O caso está elucidado. Falta apenas detalhar a participação de cada militar. Temos prova que todos participaram do rapto da vítima. Agora, iremos atrás do mandante;, afirmou o delegado Douglas Pedrosa, chefe da unidade especializada.

O mandante é Wilson Lopes de Ataíde, segundo o delegado. ;Ele contratou um pistoleiro porque teria sido agredido com um tapa por José Eduardo, em função de um terreno comprado da vítima;, contou Pedrosa, sem dar mais detalhes. José Ferreira havia sido visto com vida pela última vez em 10 de março de 2009, quando saiu de casa pela manhã para visitar duas lojas de produtos agropecuários em Cabeceiras de Goiás, a 70km de Formosa. O paradeiro dele permaneceu ignorado até 17 de setembro, quando policiais civis encontraram uma ossada em um poço abandonado em terreno baldio, com 12m de profundidade, na periferia de Formosa.

O local foi apontado por um dos acusados de envolvimento no caso, João Batista Brandão Amerces, 37, anos, preso em julho. Exame feito com base na arcada dentária encontrada na cisterna apontou os restos mortais como sendo os de José Ferreira. João Batista confessou o sequestro da vítima, de acordo com o delegado Pedrosa. Disse ter feito isso a mando de outra pessoa e com participação de um segundo homem, o autor dos disparos. Não deu os nomes, mas os agentes chegaram aos outros cinco acusados por meio de depoimentos de testemunhas.

O Fiat Uno da vítima foi encontrado abandonado, um dia após o seu sumiço. O veículo estava sem ocupantes. Moradores afirmaram à polícia ter visto um Fox e um Astra, ambos brancos, perto do Uno. Os agentes não localizaram o Fox, mas um Astra, igual ao usado no rapto, acabou encontrado em poder de um soldado da PM goiana. Ele alega ter comprado o veículo de João Batista. Em depoimento, testemunhas contaram ter presenciado José Eduardo reagir à abordagem de quatro homens e sair do bagageiro do Astra em uma tentativa de fuga. Elas reconheceram João Batista como o motorista do veículo. Contaram que João correu atrás de José Eduardo. João agrediu o fazendeiro e o colocou de volta no Astra, ainda segundo testemunhas.

Um dos PMs presos ontem, o soldado Torres faz parte da turma de oito militares (1)afastada das funções no último dia 9, a pedido do Ministério Público goiano (MPGO). Os outros três detidos na manhã de ontem foram identificados pelos policiais civis como sargento Pacheco e soldados Jovenir e Rebustini. Todos estão em Goiânia, em um presídio só para PMs.

1 - Execução sumária
O comandante do 16; Batalhão e mais sete subordinados foram afastados das funções por suspeita de integrar um grupo de extermínio que age na região do Entorno. As vítimas mais recentes seriam um jovem assassinado com 28 tiros e outros três desaparecidos em 26 de fevereiro, nas cidades de Flores e Alvorada do Norte.

Histórico de matança
Policiais militares do 16; Batalhão são investigados por matar 15 pessoas em menos de dois anos. Para promotores de Justiça, as ações têm características de grupo de extermínio. Já o comandante da unidade, major Ricardo Rocha, foi denunciado pelo Ministério Público goiano (MPGO) por participação em uma chacina com cinco mortes e por crime de pistolagem. Tudo quando ele era o subcomandante da PM em Rio Verde, no Sudoeste goiano. Após as mortes em série, Rocha foi transferido para Goiânia, onde comandou a Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) entre 2003 e 2005. Época em que a PM mais matou na capital.

De 6 de março de 2003 a 15 de maio de 2005, foram registrados 117 homicídios em Goiânia cuja autoria é atribuída a PMs, a maioria da Rotam. Das 117 vítimas, 48,7% (57 pessoas) não tinham ficha criminal. Outras 60 (51,3%) eram foragidas da Justiça ou acusadas de algum crime. Em meio à investigação do MPGO sobre esses casos, o major voltou a Rio de Verde. Em seguida, foi para Formosa, terra natal e base eleitoral do secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, deputado estadual pelo PP e pretenso candidato a deputado federal.

Foi o próprio Roller quem nomeou Ricardo Rocha para assumir o 16; Batalhão. Em solenidades e entrevistas à imprensa do estado, Roller não economizou elogios ao major. Declarou que ele diminuiu a violência, mas nunca apresentou as estatísticas. Fazendeiros de Formosa também defendiam Rocha. Chegaram a fazer festa para ele após série de reportagens do Correio sobre a matança na região. Sobre os recentes afastamentos e prisões dos PMs que tanto elogiou, Roller não fala. Ontem ele recebeu homenagem da PM, em Goiânia, na despedida do cargo que deixa para disputar a eleição.

Matérias anteriores sobre os crimes em Formosa:
  • 11 de maio de 2009: e

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