Cidades

Reunião entre Roriz e FHC provoca desconforto em líderes tucanos

Teme-se os efeitos de uma possível aliança com o ex-governador

postado em 25/03/2010 08:31
O encontro de cerca de duas horas entre Joaquim Roriz (PSC) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na última segunda-feira, provocou rebuliço na cúpula do PSDB. A foto dos dois sorridentes lado a lado foi considerada como, no mínimo, inconveniente para o candidato do PSDB à presidência da República, José Serra. Os tucanos defendem a coligação com o PSC, mas não por causa de Roriz, de quem querem distância. Pretendem, com o apoio, aumentar o tempo da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. O tucanato sustenta a importância de um acordo nacional com a legenda, mas desdenha alianças estaduais, no momento.

Roriz está na mira do Ministério Público. Durval Barbosa, o delator do suposto esquema de corrupção no Distrito Federal, diz que tudo começou durante os mandatos do ex-governador. ;Certas alianças não são boas. Para quê dar arma ao adversário assim? Para quê deixar que a campanha (de Serra) comece a sofrer críticas por causa do apoio do cacique fulano de tal (Roriz), que renunciou para não ser cassado e está cheio de investigações nas costas?;, analisou o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado. ;Tenho muito respeito pelo Fernando Henrique, mas é muito velha essa história de ter palanque aqui e acolá;, completou.

A assessoria da presidência do PSDB informou que FHC não tocou no assunto de alianças no DF com Roriz. O ex-presidente da República e presidente de honra do partido confirmou ontem que recebeu o ex-governador em seu apartamento em São Paulo e que ouviu dele a disposição em concorrer ao governo nas eleições de outubro. Mas quis deixar claro que não provocou o encontro. Roriz é quem o teria procurado, como também afirmam outros tucanos. ;Ele (Roriz) bateu na porta de casa, como eu vou fechar a porta para ele?;, declarou FHC a jornalistas na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, na saída de uma palestra.

Pesquisas
Não demorou muito e, no fim da tarde, Roriz divulgou uma nota à imprensa contrariando o comentário de FHC. ;Jamais procurei ninguém;, destaca ele, logo no primeiro de sete tópicos. O pré-candidato ao GDF diz que o encontro foi marcado pelo presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, e pelo vice-presidente executivo do partido, o ex-ministro Eduardo Jorge. Os dois, segundo Roriz, teriam ido à residência dele, no Park Way, no mês passado, e oferecido a legenda para uma aliança eleitoral no DF. A assessoria de Guerra confirma.

Roriz conta, na nota, que aceitou a proposta, fez questão de ressaltar a ;enorme admiração; pelo ex-presidente FHC e aproveitou para defender o afastamento de todos os integrantes do PSDB envolvidos na operação Caixa de Pandora de cargos da executiva do DF. ;Posteriormente, recebi um telefonema do ex-ministro Eduardo Jorge informando-me que o ex-presidente Fernando Henrique desejava encontrar-se comigo. E que as bases para a aliança estavam aceitas;, acrescenta.

O encontro, então, teria sido marcado: segunda-feira, 22 de março, às 17h, no apartamento de FHC, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Roriz relata que o ex-ministro Eduardo Jorge, o intermediador da conversa, inclusive o recebeu no Aeroporto de Congonhas. ;Se foi o Eduardo Jorge quem marcou (o encontro), não deveria ter feito;, criticou Virgílio.

Na nota, Roriz conta ainda que informou a FHC sobre sua liderança nas pesquisas para a corrida ao GDF. Transmitiu ;solidariedade aos ataques sofridos por ele (FHC) pelo PT;, além de oferecer palanque para o candidato do PSDB à Presidência da República, no caso José Serra. Quanto à aliança com o partido no DF, Roriz acrescenta que o PSDB poderia apresentar um candidato ao Senado e que o nome de preferência dele é o da ex-governadora Maria de Lourdes Abadia.

Vice-governadora do DF na última gestão de Roriz, entre 2002 e 2006, Abadia teria a vaga de candidata garantida, caso decida aliar-se novamente ao ex-governador. ;Estou dependendo muito do Serra. Vou decidir com a executiva nacional. Mas se ele (Serra) quiser ganhar a eleição e quiser uma votação grande aqui em Brasília;;, disse Abadia. Ela evitou entrar na polêmica do encontro entre Roriz e FHC. Disse que o candidato à presidência da República é Serra. E, portanto, ele é quem deve saber do apoio que vai ou não precisar. ;Eleição é matemática, ganha quem tem mais votos;, encerrou ela, com pensamento contrário ao do senador Virgílio.

"Certas alianças não são boas. Para quê dar arma ao adversário assim?"
Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado


"Eleição é matemática, ganha quem tem mais votos"
Maria de Lourdes Abadia, integrante do PSDB-DF

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